Enquanto passava os últimos minutos questionando a razão de eu ter colocado um vestido tão justo – embora fosse incrivelmente bonito –, acompanhada de uma garrafa de vodca deliciosa, observei Anna e Kathy. Não estavam muito longe para não repararem, mas mesmo assim, isso não aconteceu. Era a primeira vez que as considerei um casal, e, caramba, como eu nunca tinha pensado nisso antes?
Eu sorri para mim mesma, desejando que depois dessa noite as duas se resolvessem, mas o barulho que todas essas pessoas fazem me faz duvidar se o que sinto é esperança ou tem algum fundamento. De qualquer forma, não quero esperar nada.
Olho especialmente para Kathy, vestida toda de preto, o que contrasta muito bem em sua pele corada. Ela consolava a garota encostada com a cabeça em seu ombro, esta que estava com medo de que a estrela da festa não aparecesse. Na verdade, era uma ideia meio estúpida planejar uma festa tão detalhadamente para alguém que tinha muita probabilidade de não aparecer, mas acho que é sempre bem plausível confiar na esperança.– Ele vai aparecer, Anna. Não surta. – ouço Kathy dizer. A garota levanta a cabeça, e reparo em seu vestido roxo discreto, que dá a ela um aspecto de boa anfitriã.
– Ele vai ficar furioso se aparecer e ver todas essas pessoas. – Anna diz, baixinho, e eu concordava com ela, embora eu nunca saiba o que pensar sobre as reações de seu irmão. Sua imprevisibilidade era o que me atraía, mas também era o que me dava mais raiva.
Alguém aumenta o volume da música e eu aproveito para dar mais um bom gole do líquido inebriante. Sinto uma onda de calor percorrer meu corpo enquanto passo a língua nos lábios, me queixando do fato de ele não estar ali para provar da combinação de batom vermelho e o adocicado com álcool.
Minutos depois, logo após eu ter acabado com o líquido da garrafa, ouvimos um barulho na porta. Anna suspirou, tirando um peso enorme de suas costas assim que o viu; estava com uma camiseta preta e jeans desgastado. Uma corrente de prata balançou no seu pescoço assim que deslocou a cabeça para todos os cantos possíveis de seu campo de visão, tentando entender o que estava acontecendo.
– Ah... Oi, Ben. Eu vou explicar, ok? Então – Anna anuncia, enquanto ele se aproxima dela. – e-eu tinha planejado uma festa com poucas pessoas, sabe? Para comemorar o seu aniversário... e, bem, a notícia se espalhou e veio muita gente. Toda essa gente. Me desculpa...
– Hum, Anna? Relaxa. – ele interrompeu, colocando a mão no ombro de sua meia-irmã. – Está tudo bem. E obrigado.
Ela abriu os braços para abraçá-lo. Benjamin retribui, meio sem jeito, até que nossos olhares se encontram e eu deixo de pensar nas coisas ao meu redor. Esperava que ele sorrisse discretamente, invés disso, desviou o olhar, enquanto desfazia o abraço.
– Vou para o meu quarto agora, tá? Se precisar de algo... bom, se for urgente, me chama. – estava prestes a sair quando Anna protestou.
– O que? Não. Poxa, eu fiz isso para você. Aproveita um pouco, sei lá. – a garota de roxo exibe seu lado mais melancólico, a fazendo receber um olhar cansado, mas com uma aura de resignação.
– Ah, eu vou curtir um pouco, então, tudo bem?
Se retirou, sem me olhar. Senti uma onda de decepção e raiva, mas também uma aceitação; eu estava esperando o que? Que ele me beijasse e dissesse que estava com saudades? Que ingênua.
– Hora de curtir, garotas! – Kathy grita, levantando as mãos para cima ao mesmo tempo que me puxava para o centro da sala, junto com a Anna, onde se via uma aglomeração de humanos dançando, escandalosos. Aquilo me dava repulsa, tanta gente em um lugar só, gritando daquela maneira, mas nada que eu não possa enfrentar com mais uma garrafa de algo forte. Algo que pego de dentro de um balde de gelo, que molhava a mesa de centro toda por estar em seu processo de fusão. Sinto um alívio por ela estar lacrada. A abro, sem a menor dificuldade. Era vinho. Rio do fato de ter vinho em uma festa para adolescentes, mas agradeço. Aprecio o calor percorrer a garganta na mesma intensidade que o adocicado toma conta de minha boca, e por algum motivo, óbvio ou não, me lembro da França. Nunca estive lá de fato, e a única coisa que tenho próximo a isso é estar em um ambiente que uma quantidade considerável de pessoas talvez desconheça a invenção de desodorante, o que na verdade pode explicar o fato daquele país ser famoso por seus perfumes maravilhosos e chiques. Mas aceito tudo isso.
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O Preço do Alvorecer
أدب المراهقينEssa história se inicia quando a vida de alguém termina. Com tantos acontecimentos trágicos, Megan se depara com mudanças dentro de si e em sua vida. Ela começa a lutar constantemente contra o seu transtorno de ansiedade, o mesmo no qual nunca a de...