É estranho pensar que me sinto mais encaixada na escola, propriamente dita, a quando os meus amigos começam a conversar sobre algo que não faço a mínima ideia.
Em outro momento, eu não ligaria, me fecharia no meu mundo particular, até onde sei, inalcançável, e ficaria lá, até terminarem ou tocar em um assunto de meu pleno domínio.
Não posso esperar que apenas digam coisas que me convém, mas se a) não tivesse tão frio nessa arquibancada e b) eles ouvissem o que sai de suas próprias bocas, talvez tudo isso não fosse chato até para eu me esconder dentro de mim.
A verdade é que estou cansada de, pelo segundo dia seguido, estarem comentando sobre uma garota que masturbou três caras ao mesmo tempo na festa dos Williams, ontem.
Apenas questiono o fato de darem uma festa em uma segunda-feira, e de como ninguém pareceu se importar com isso.
– Não sei porquê estão fazendo todo esse alvoroço. Se ela ao menos tivesse chupado três caras! Qual é, galera! – Kathy mordia seu sanduíche com certa cautela. Talvez para não borrar o seu batom roxo.– Não sei nem porquê estamos discutindo isso perto da Kathy. Isso é normal para ela. – Tyler provocou.
– Mas é claro! Quem nunca fez isso?
– Eu não fiz. – dissemos em coro, exceto ela.
O semblante de Anna entregava seu horror a tudo aquilo.
– Vocês estão acabando com a minha inocência. – A garota ao meu lado disse, olhando para Kathy. Depois levou seus olhos ao Tyler, até enfim pousarem em mim, o que me fez rezar para que ela não reparasse o quanto eu ficava esquisita de rabo de cavalo, no qual fui obrigada a fazer por ter um cabelo expressivo e sensitivo demais, onde poderia servir de método meteorologista para prever chuvas nas proximidades.
– Se fosse tão inocente assim, nem entenderia o que a gente diz. – O semblante da loura mudou, expressando nitidamente que ela acabara de se lembrar de algo. – Galera, quase esqueci. Ficaram sabendo da Lindsay?
Ela apostou em sua própria suposição de que não sabíamos nada sobre, assim, teve certeza quando estudou nossas expressões faciais.
– O pai dela teve um infarto depois de ela dizer que é lésbica, acreditam? Não sei se ele morreu, mas rolou ambulância e tudo mais.
– Nossa... É tão engraçado tudo isso, não? Somos apenas pó. – Tyler pareceu pensativo de repente.
– Fale por você. Não é porque você é apenas pó, que eu não seja um pó de purpurina. – Kathy retrucou. Admiro sua capacidade de ter uma resposta criativa para qualquer situação.
Tyler apenas revirou os olhos, provavelmente porque não sabia o que revidar. Pousou seus olhos para a esquerda, talvez ainda estivesse pensando no que responder, e assim, logo os reorientou, onde tive certeza de que ele não havia pensado em nada melhor.– Nossa, Anna, aquele é o seu irmão? – agora posso notar o olhar curioso e atento em uma direção. Não fiz questão de olhar. Estava com o meu ego machucado e preferi manter os olhos em qualquer direção, desde que fosse a oposta.
No fundo, eu sabia que não tinha chances, mas o ver beijando outra garota, fez qualquer esperança, da mais utópica até a mais frágil, ser soterrada junto a muitas coisas que venho acumulando para não ter que lidar tão cedo. Assim, o realismo vem sendo um hóspede íntimo. Algo me diz que venho lidando com o meu lado pessimista, mas prefiro acreditar, que na melhor das hipóteses, estou lidando com a realidade. Parece mais fácil.
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O Preço do Alvorecer
Novela JuvenilEssa história se inicia quando a vida de alguém termina. Com tantos acontecimentos trágicos, Megan se depara com mudanças dentro de si e em sua vida. Ela começa a lutar constantemente contra o seu transtorno de ansiedade, o mesmo no qual nunca a de...