Capítulo 01

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Acordei com o vento soprando a cortina branca que adornava a janela simplória.
O cheiro do café me invade e sinto meu estômago roncar. Resolvo levantar.
Vou até o banheiro fazer minhas necessidades pessoais e olho para o espelho. Reparo no cabelo cacheado desgrenhado e nos olhos castanhos esverdeados sonolentos. Era perceptível a cara de ressaca da noite anterior. Eu e minha melhor amiga, Katherine, exageramos na bebida.

Ainda de pijama, caminhei até o final do corredor, e logo estava na cozinha. Minha mãe estava comendo seu croissant com recheio de frutas silvestres, ela adorava aquilo.

– Bom dia, Megan – mamãe disse, olhando para mim e tomando alguns goles do líquido em sua xícara.

– Bom dia – tentei responder do jeito mais meigo possível. A dor de cabeça já me incomodava. Sentei a mesa junto a ela e despejei um pouco de café na xícara.

– Chegou tarde ontem, e está com uma cara péssima hoje. Bebeu de novo? Já é a segunda vez essa semana, Meg! O que está acontecendo?

Eu abaixei a cabeça. Em parte por estar envergonhada de não obedecê-la, em outra, me segurando para não começar a chorar.

– Fale comigo, filha. Eu me preocupo com você – ela colocou sua mão em cima da minha e acariciou.

– Eu... Eu não sei, mãe. Acho que é por causa do papai – A voz já saia um pouco fraca. Eu me segurava ao máximo para não chorar. Prometi que não choraria mais.

– Não está fácil para mim também, Meg. Mas você precisa seguir em frente. Ele morreu, mas você ainda está viva. Você ainda tem que lutar.

– Eu preciso arrumar um emprego para te ajudar

– Não se preocupe comigo. Quero que retorne para a escola – ela retirou sua mão de cima da minha e voltou a tomar o café de sua xícara.

– Não sei se eu quero ir para aquela escola. Talvez isso tudo veio para me mostrar um caminho – peguei um pedaço do bolo e dei um gole no café, tentando me acalmar.

– Acho que você está confusa demais para tomar decisões. Não faça algo que sabe que irá se arrepender depois.

Ela se levantou e pegou a bolsa que estava pendurada na cadeira perto a dela e me deu um beijo na testa.

– Se cuide – antes dela ir até a porta, dei um sorriso para tentar expressar minha gratidão por me ajudar a guiar minha vida.

Decidi que deveria de fato ficar sozinha com os meus pensamentos. Eu precisava de paz para pensar e conseguir me manter no controle.

Terminei de tomar o café da manhã e fui até meu quarto me arrumar.
Coloquei um vestido simples estilo Sundress, na cor azul ciano, em um tom claro. Calcei sandálias brancas com alguns detalhes em azul e peguei o meu celular em cima do criado mudo.
Passei em frente ao espelho e reparei nos meus cabelos despenteados. Decidi apenas passar um creme para ajeitá-lo e saí.

Tranquei a porta de entrada e até chegar no destino que determinei, fiquei brincando com as chaves entre os dedos. Decidi não chamar Katherine para me acompanhar, eu gosto muito dela, mas as vezes elas acaba sendo loquaz demais. Eu não precisava disso.

Eu acho que a pior parte de quando perdemos alguém, é tentar se enganar que não sentimos a dor da ausência desse alguém.
Tentamos achar lógica no fato de ter partido, nos perguntamos o porquê que essa perda aconteceu justo com a gente. Nós nos martirizamos ao pensar no que poderia ter feito para aquela pessoa em vida, e sim, nós deveríamos, em certos casos, ter feito mais.
Quando se perde alguém que não demos o devido valor àquela pessoa, é claro que o remorso vai estar presente, não porque não compramos devida coisa, ou não fizemos muito por ela, mas por apenas não ter falado um mísero "eu amo você, nunca se esqueça", ou simplesmente não ter nos feito presentes. Anne Frank já dizia que os mortos recebem mais flores que os vivos pois o remorso é mais forte do que a gratidão, e é por isso que eu tento aproveitar as pessoas a minha volta. Eu tento fazer tudo que está ao meu alcance de fornecer, pelo menos, um escasso sorriso. Eu tento ser melhor do que fui, todos os dias, eu penso que sempre podemos recomeçar. Sempre podemos ser melhores do que fomos, a vida nos da essa chance, e, no meu ver, isso significa o alvorecer.

O Preço do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora