Capítulo 11

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Seus olhos reprovavam evidentemente cada movimento que eu fizesse, por mínimo que fosse. Ele olhava friamente para meu rosto singelamente iluminado pela luz da lua.
Meus olhos demonstravam confiança, embora meu coração entregasse meu desespero.

Ainda que ele esteja em minha frente, sinto que não posso tocar o que vejo. Talvez seja melhor eu ir.

Percebo meu corpo virar, mesmo que involuntariamente. Sabia que nunca esqueceria seus olhos nos meus. Eu sabia que mesmo que tentasse, que por algum motivo, ele conseguiu sufocar meu desespero de um jeito que eu me senti viva.
Minha alma permaneceria ali, diante de seus olhos impiedosos a procura de paixão. Meu corpo decidiu ir embora, deixando de ser o centro dos holofotes de seus olhos que um dia tiveram brilho, ofuscados pela escuridão de sua mente asfixiante.
Sinto a maçaneta da porta e a puxo, revelando o corredor escuro.
Meus passos mostram confiança ao sair, mas a minha mão, ao trazer a porta de volta, revelam ansiedade.

Me reoriento e percebo o livro pendurado entre alguns dedos.
Visto que não poderia voltar até o aposento, segui até o quarto de Anna, que ficava na lateral direita, em relação ao quarto de Benjamin, no corredor.

Abro a porta e adentro.

Tateei até encontrar a minha bolsa, e me lembro que desde que a vi ela se encontrava em cima de uma cadeira amarela confortável.
Ao encontrar o objeto familiar, tentei colocar o livro ali dentro.

Caminhei até a cama, e me deitei. Reparei na garota ao meu lado, e ela não parece ter notado minha ausência.
Fechei meus olhos e esperei que o sono viesse, mesmo que tenha falhado no ato. Minha cabeça insistia em repetir cenas que gostaria de esquecer.

Levei a mão até o meu cabelo e os acariciei.

Contemplei as estrelas desaparecerem com o encontro da noite com o Sol ainda tímido, que até então, anunciava sua chegada ao emitir raios solares suaves que transformava o céu em obra de arte.
Entrevejo a sutileza de uma espécie de obra pós-impressionista pintada pela natureza, formada pelas estrias solares ultrapassando as nuvens e se entrecruzando no azul claro do infinito.

Posso afirmar que meus olhos estão a brilhar por estarem diante de uma paisagem tão primorosa, como a que está sendo passada além da janela extensa, que partia do chão até quase ocupar toda a parede, seguindo para cima.

Percebo o olhar da garota deitada ao meu lado e viro a cabeça para olha-la.
Anna maneou a cabeça e tem dificuldade de manter os seus olhos dormentes abertos.

– Já está acordada? – sua voz soa sonolenta.

– Não faz muito tempo.

Notei seus olhos fechando novamente. Posso apostar que não demoraria para dormir.

Os pensamentos vêm surgindo com complexidade.
É estranho pensar que está sozinho quando existem milhares de pessoas e universos ao seu redor.
Acho que a solidão passou a existir quando descobrimos que o Sol e as coisas não giram em torno da Terra, sobretudo, nós.
O vazio tomou conta de nossas mentes quando as pessoas deixaram de se importar em ser completas.

Sinto muito por não ser completa o suficiente e procurar alguém que me faça.
Apenas pessoas vazias procuram alguém que as complete.
Ainda sim, acredito em almas gêmeas, afinal, se não procuramos nossa outra metade, por que escolhemos tanto?
Esperamos que ao encaixar os dedos na pele e articulação de outro ser, se encaixe também a alma, formando equidade, e que com influência do amor, esses dois corpos se formem um só, habitado por duas almas pecadoras a procura da felicidade.

Então, em relação a que exatamente me sinto sozinha?
Minha insegurança alimenta meu vazio. O vazio vem consumindo algo aqui dentro.

O silêncio vem sendo meu grito mais alto.

O Preço do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora