Capítulo 10

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Há muitos pensamentos comigo.
Quando eu fecho meus olhos não me sinto em paz.
Embora meus olhos fechados aparentam estar mais claros que esse quarto, onde procuro por um raio de luz qualquer e não consigo encontrar.

"O amanhã nasce do que você sonha hoje" – alguns dizem. Deve ser por isso que a noite não quer ir embora.

A boca seca pode estar ligada ao fato de ter bebido muito.
Ao virar a cabeça para o outro lado da cama, ouço a respiração calma de Anna. Ela parecia estar desmaiada pelo sono profundo, e jamais notaria se eu saísse para pegar um copo d'água, embora haja insegurança para realizar o ato, já que não sei se dormi o suficiente para descer as escadas tranquilamente e andar com confiança.

Meus movimentos são cautelosos para chegar até a porta.
A cada movimento minha boca se tornara mais seca e necessitada de água, nem que fosse uma gota, e fica cada vez mais difícil manter a calma.

Quando me vejo fora do quarto escuro, me sinto liberta de minha mente perturbante, que consumia o brilho dos meus olhos e intensificava a escuridão do meu coração sozinho.

Meus pés pareciam flutuar ao descer as escadas.

Olho para sala silenciosa e quase escura. A luz que vinha da cozinha me deixa confortável por não encarar uma escuridão extrema.

Respiro aliviada por ver a geladeira enorme e me sinto motivada a ir mais rápido até lá para me deliciar com o liquido bem gelado.

Por um reflexo, percebo que não estou sozinha neste cômodo. O homem debruçado na bancada levanta a cabeça para me olhar.
Seus olhos estão extremamente vermelhos e esgotados.
Sinto arrepiar até a mais inferior parte do meu corpo e engoli a seco, literalmente.

Seus olhos maliciosos correm sobre todo meu corpo, com a esperança de encontrarem partes de seu interesse desnudas.
Sua boca volta a beber o líquido dentro da garrafa de whisky. Gostaria de não ter me lembrado dessa boca carnuda e naturalmente avermelhada.

Me sinto envergonhada em pegar uma garrafa d'água na geladeira, já que não tinha tamanha intimidade, mas minha necessidade é bem maior.
Meus olhos correm pela lateral da porta e respiro aliviada por encontrar uma garrafa.

A resgato dali em um movimento e a deixo em cima da bancada em outro. Sinto meus dedos doerem por estar em contato com algo tão gelado repentinamente.
Parker acompanha meus movimentos com os olhos.

Me envergonho intensamente por ter que virar as costas para ele para poder enfim pegar um copo.
Mesmo de costas, posso sentir seus olhos verdes maliciosos a analisar minhas curvas, por isso, ao me virar, não me surpreende os ver correr até meu rosto, depois de ter saído de minhas pernas descobertas do tecido do pijama.

Vejo o líquido transparente cair como uma cascata dentro do copo.
Posso enfim me deliciar com a frieza do líquido e me satisfazer com o umedecer de minha boca.
Sinto a água descer de minha garganta até finalmente se despejar em algum órgão de meu corpo.

Olho para o rapaz que trazia consigo o verde de florestas vivas e o mistério dos oceanos enfurecidos em seu olhar.
Pela primeira vez sinto-me incomodada com o silêncio que nos rodeia.

Tento não parecer nervosa com sua presença, e dou leves goles na água para tentar controlar minha respiração.
Ele não parece estar incomodado com o silêncio, mas talvez com a minha presença. Não tenho certeza. Aliás, vindo dele, eu nunca tenho certeza.

Ele me analisava, e não parecia se importar em esconder isso.

Vejo o líquido transparente desaparecer do copo em minha mão e respiro aliviada por finalmente poder voltar para o quarto e tentar dormir. A presença de Benjamin me faz querer fugir de seus olhos.
Meus passos são calmos, embora minhas pernas estejam fraquejadas pelo nervosismo.

O Preço do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora