Chapter Sixteen

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Agradeci a garçonete quando ela se afastou, tirei meu cachecol e salivei pela xícara de chocolate quente que saia fumaça na minha frente, também havia pedido alguns biscoitos.

Dei o primeiro gole do chocolate quente e acabei queimando de leve a língua. Botei a xícara na mesa e olhei para o lado de fora, a neve não parava de cair.

O sininho da cafeteria tocou e eu olhei para porta, levantei a mão chamando a atenção dele e Benjamin veio na minha direção.

- Oi.

- Oi.- o vejo sentar na cadeira na minha frente, ele tirou as luvas e o cachecol. Esperamos a garçonete vir e Ben pediu um chocolate quente para ele.

Seus batimentos estavam um pouco acelerados, estava nervoso. Iria controlá-los para ver se ele estava mentindo ou não.

- Primeiro de tudo, por que escondeu de mim?- encostei minhas costas na cadeira.

- Não é óbvio? Se eu tivesse falado para você que eu era um sombrio você teria fugido ou contado para alguém.

Verdade.

- Quais são as suas reais intenções?

- Quero solucionar esse caso porque mataram minha melhor amiga, esqueceu que Viviane foi assassinada? Até ver o símbolo no peito dela, eu não sabia que a sétima casa tinha haver.

Verdade.
Seus batimentos continuavam calmos.

- Então você não tem nada haver com eles? Os assassinatos?

- Não. Roxie...- ele suspirou e se aproximou, cotovelos na mesa e as mãos juntas.- Eu não sei o que você está pensando mas eu não usei você, eu nunca tive essa intenção. Não é atoa que nos aproximamos e viramos amigos, eu gosto de você, eu gosto de estar com você, de você me zoando falando que eu sou burguês.

Verdade.
Essa até doeu em mim.

Fiquei alguns minutos em silêncio, a mulher trouxe o chocolate quente dele e se afastou, eu dei mais um gole no meu.

- Eu gosto de você também Ben, me sinto confortável na sua presença, mas o problema é que eu não sei se devo confiar em você.

- Eu te salvei daqueles espectros, se eu não ligasse para sua vida, poderia estar resolvendo esse mistério sozinho e você estaria com a alma devorada pelos espectros.- peguei um biscoito e comi.

- Por que mentiu dizendo que era um leitor?

- Porque foi a primeira casa que veio na minha cabeça.- riu fraco, maldito.- Por favor Roxie, temos que voltar a estudar esses assassinatos, eu juro que eu falo qualquer coisa que você quiser saber, além do mais eu sei que sangradores podem detectar verdades e mentiras.

Passei a língua nos meus lábios tirando o chocolate.

- Sua família sabe?

- Meu pai é um, minha avô paterna era uma. Parece que passou por linhagem.- ficamos um tempinho em silêncio, apenas bebendo os chocolates e comendo os biscoitos.

Tentava olhar para baixo e não para Ben, estava pensando no que deveria fazer.

- Roxie, fala alguma coisa.- seus batimentos estavam rápidos, apreensivos e talvez nervosos.

- Tudo bem Benjamin DeKappel, eu volto a ser sua amiga e a trabalha com você.- ele sorriu.- Mas com uma condição.

- Pode falar, nada algo que envolva dinheiro.- rio fraco.

- Que você me proteja desses fantasmas ou espectros sei lá.

- Fechado.

- Tente fazer algo comigo e eu paro o seu coração em segundos, não importo quais serão as consequências.

- Tudo bem.- ele levantou a xícara e fiz um brinde com ele, bebemos o último gole de chocolate.

- Não tem nenhum proteção que eu posso ter?

- Todos os sombrios tem essa tatuagem.- puxou um pouco a manga do sobretudo e blusa revelando o pulso.- Um detalhe pequeno e esquecido, ela é feita com uma tinta especial e "abençoada" com palavras em latim, pode ser em qualquer parte do corpo, mas eu escolhi o pulso. O nosso corpo é aberto para as energias e seres em nossa volta, essa tatuagem fecha qualquer abertura disso. Então, você quer uma tatuagem nova ou ter que ficar de mãos dadas comigo?

- Como assim?

- Se eu te tocar, eu posso passar o escudo para você, não dura muito mas já é algo.

- Vou pensar na tatuagem, vou ficar com o toque por enquanto.- ele sorriu de lado e eu revirei os olhos.- Mas...como que ninguém sabe sobre você e seu pai?

- Porque nos escondemos, eu soube que era um no meu primeiro dia na cidade, meu pai ficou "desesperado" então eu fiquei alguns meses aqui para não levantar suspeitas e depois voltei para a Inglaterra por um tempo. Ele me treinou, eu estudei os livros que tem na minha casa, foi assim que sobrevivemos. Além do mais, sem me conhecer você não diria que eu sou um sombrio.

- Ninguém nunca suspeitou?

- Eu nunca usei o dom em público, no máximo em extremas situações, mas ninguém estava por perto. Se os líderes descobrirem...- Hesitou.- eu realmente não sei o que eles podem fazer.

- Você tirou o meu medo na tumba, eu...senti.- ele assentiu.

- Eu sinto o medo das pessoas igual você escuta o batimentos dos corações, posso bloqueá-los também. Sinto que seu medo profundo é de ficar sozinha, tem medo de não ser aceita pelos outros e de...palhaços?

- Trauma de infância.- ele riu e voltou a olhar para meu rosto, senti um arrepio na minha espinha e pelos do braço, não sei se por causa do frio ou por ele ter acertado.- É bem...sombrio, obscuro. Não sei se aguentaria ter esse dom.- ele encostou as costas na cadeira e cruzou os braços de leve.

- Testa a sua sanidade as vezes, mas depois de bastante treino você se acostuma. Como você descobriu que tinha um dom?

- No meu primeiro ano aqui.- digo, as memórias voltando para minha cabeça.- Estava na minha segunda ou terceira festa, uns garotos me ofereceram maconha ou LDS não lembro qual era a droga e eu provei. De algum modo a droga ampliou e eu escutava o coração de todos na festa, eu acha que estava maluca. Chorando e agachada em um canto, Daniel me achou e me levou para a tumba dele.

Na mesma noite eles fizeram o ritual, eles primeiro tiraram a droga do meu sangue para eu estar sã, eu não entendia o que estava acontecendo mas fui obrigada a ficar lá.

Três líderes estavam lá, Melanie era um deles,  principalmente por causa do relato que Daniel deu. Eles tiraram um frasco de sangue de mim e em cima da mesa tinha três cálices.

O que estão fazendo?- Olhei para os dois garotos que me seguravam e depois para a mesa, o homem derramava um pouco do meu sangue em cada cálice.

Os cálices eram feitos de ouro puro, amaldiçoados pelas bruxas, era assim que antigamente os novos sucessores eram criados. Se seus descendentes não tivessem o dom, eles bebiam o sangue da mãe misturado a poção dentro do cálice.

Claro que o tempo passou e a prática mudou.

O líquido do cálice com o meu sangue ficou marrom no primeiro e segundo, no terceiro o líquido ficou mais vermelho, mais vivo. O cálice que tinha o símbolo de um coração.

Ela é uma sangradora.- o homem disse, Melanie me olhou e sorriu.

Pisquei os olhos e voltei ao presente.

- Depois eu fiz o ritual, Melanie me ensinou e cá estamos.

- Bom, já que estamos de boa, temos trabalho a fazer agora.

- Mas aqueles livros estão em outra língua, pelo menos os dois que estão no meu quarto.

- É latim Roxie, eu consigo ler.

- Exibido.- ele riu fraco e eu sorri o olhando.

A Sétima CasaOnde histórias criam vida. Descubra agora