10 - Você me ouve?

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- Beomgyu -


  Paralisei em frente ao parapeito da janela. Minhas mãos bateram contra o vidro gélido tentando abri-lo, se não quebrá-lo. Sem sucesso, me limitei a imagem da minha mãe caída no chão, vestindo seu avental preferido enquanto as cadeiras da mesa tentavam - sem sucesso - ocultar seu corpo imóvel.

  Minhas mãos tremiam apoiadas no vidro. Raiva, angústia, culpa e desespero. Comecei a chorar. É a minha mãe, quem sempre me apoiou, a pessoa que, sozinha, cuidou de mim quando ninguém mais pode. É meu conforto e meu colo favorito. Há pouco, eu sequer havia notado como o tempo voa uniformemente para todos nós. Foi um erro pensar que minha mãe aguentaria tanto tempo ao meu lado quando na verdade continua envelhecendo junto a mim, ela corre riscos de saúde pelos quais eu dificilmente passaria aos dezessete anos.

Tirei o celular do bolso e o segurei com meus dedos trêmulos. Disquei o número da emergência, sentindo o aparelho oscilar sobre minhas mãos, tremendo junto à elas.

— Alô?! Minha mãe desmaiou no chão da nossa casa! - gritei ao telefone assim que a chamada foi conectada.

— Se acalme por favor, senhor. Me diga a situação.

— Eu cheguei... e a porta tá trancada, e ela lá dentro, eu não consigo entrar!

  Pude ouvir o som das teclas serem pressionadas do outro lado da linha, uma à uma.

— Qual o endereço? Mandaremos uma equipe o mais rápido possível.

  O endereço da casa me fugiu em meio ao desespero. Corri até o portão e parei na calçada, conferindo os números pregados na entrada. Quando a chamada foi encerrada, não tive coragem de voltar para dentro e vê-la novamente. Me sentei no meio fio e joguei a mochila do meu lado, abraçando os joelhos enquanto esperava pela ajuda. Baixei meu rosto até os joelhos e me permiti derramar. Não posso perder minha mãe, não dessa forma. Ela é a única família que tenho. Estou com medo, medo de que, depois de tanto tempo me sentindo vazio, eu finalmente venha a ficar completamente sozinho.

  Minutos que pareceram horas se passaram. Uma ambulância apareceu ao longe, com as luzes acesas e a sirene sobressaindo entre os latidos dos cachorros. Me levantei assustado e peguei a mochila nos braços. Eles entraram no quintal com uma maca, eu os segui. Esperando em um canto isolado e quase imperceptível do jardim, vi os paramédicos abrirem a tranca com destreza enquanto outro chegava próximo a mim e fez algumas perguntas.
   Ela saiu da nossa casa sobre uma maca sem graça, barulhenta. Uma máscara transparente estava presa ao seu rosto. O quintal ficou vazio, a porta foi trancada e a chave foi dada a mim. Segui os paramédicos até a calçada beirando a ambulância e encostei o portão. Quando me virei, pude ver algumas pessoas em frente as suas casas, outras próximas da minha ou dispersas pelas calçadas. Todas curiosas sobre uma única coisa, sussurrando para si mesmas ou alguém ao lado. Observei um menino agarrado à saia da mãe, chupando um dedo enquanto puxava o tecido. Tão inocente. Muito novo para sequer imaginar que, provavelmente, um dia, o mesmo acontecerá com ele. Um dia ele, lamentavelmente, estará no meu lugar, chorando na calçada enquanto a mãe é levada em um veículo com um cheiro forte de antisséptico. Um moço me puxou calmamente pelo braço, dando a entender que eu deveria me apressar e entrar na ambulância.

  Todos na ambulância estavam ocupados. O motorista atualizava a central com a ajuda de um rádio enquanto os paramédicos ao meu redor conversavam entre si, ajeitando a máscara frouxa e checando o pulso. Quando a situação pareceu mais calma e todos pararam de se mover pela ambulância, me curvei sobre a mochila posta no meu colo e estiquei minhas mãos até que pudessem tocar a dela. Com as lágrimas por transbordar,  já não percebia ou ouvia nada ao meu redor.

Young Blood • [TaeGyu]Onde histórias criam vida. Descubra agora