Capítulo 25

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- Taehyun -

O dia começou totalmente do avesso.

Soobin não apareceu na escola e Hueningkai esteve quieto a manhã toda, o que é muito estranho: Soobin não é do tipo que falta e Hueningkai definitivamente não foi feito para ficar sentado sem falar nada. Diferente deles, Beomgyu parece ter tido um dia divino, porque todo o foco está em Yeonjun. Onde quer que eu vá, encontro alguém com o nome de Yeonjun entre os dentes, na ponta da língua. Algumas pessoas ficaram chocadas e sentidas a ponto de chorar, e penso que pelo menos uma delas esconde algo parecido. Me pergunto qual parte da vida do Beomgyu precisaria ser vazada para que ele recebesse pelo menos metade dessa empatia.

E foi assim, tão de repente, que de um dia para o outro Yeonjun se tornou o protagonista do roteiro que parecia tão meu; o menino rico com excesso de má sorte, cujo a vida o pune diariamente. Nunca pensei que houvesse alguém com dias tão miseráveis quanto os meus. Acho que estava sendo consumido e enceguecido pela minha própria dor, ocupado demais para me importar com as coisas ao meu redor. Mas a verdade é que eu nunca fui muito atento ou perceptivo.

Posso afirmar que o intervalo foi o mais bizarro. Se achei Hueningkai desanimado demais durante as aulas, é porque me surpreendo fácil. Ele se recusou a sair da sala e era com certeza o mais preocupado com tudo isso. Com a bochecha apoiada no punho, parecia viajar para diversas galáxias enquanto encarava um ponto fixo. Senão o próprio chão, algo bem próximo a ele. No momento, a condição dele não é das melhores. Tenho certeza que ele conseguiria cair dentro de alguma lata de lixo se decidisse andar pelo corredor.

Outros ficariam na dúvida, mas eu tenho certeza de que ele está, sim, preocupado com o Yeonjun. Admiro a forma como ele tenta ser compreensivo, sempre, mesmo que a pessoa não seja particularmente a melhor do mundo. Mas confesso, ser esse tipo de pessoa parece exaustivo. Ok, não nego, também estou muito preocupado. Não é como se eu pudesse evitar me importar. Yeonjun foi um amigo próximo por muito tempo, e nem mesmo a minha profunda raiva é forte o suficiente para apagar o que tivemos. Passamos por muito juntos, dias bons e ruins. Percebi recentemente o quanto culpo ele pelo bullying que fizemos por anos, como se tivesse nos obrigado, trancafiado nossas pessoas preferidas e as feito reféns. Mas percebo que aceitei de bom grado, nem reclamei. Sabia como ele era e o quanto poderia me influenciar, e mesmo assim o acolhi. Me deixei levar, me tornei o que era por escolha e pura burrisse e deixei que ele continuasse sendo quem era por preguiça. Eu poderia tê-lo mudado se quisesse, mas na época não havia particularmente nada que eu quisesse, nada que eu desejasse mais além do esquecimento, o sincero nada. Queria desaparecer. Poderia ser por pouco tempo ou definitivamente, eu não me importaria.

Quando me sento à mesa do refeitório, todo o meu apetite se esvai. É como se os cochichos atormentassem mais que o normal, talvez por saber do que se tratam. No fim, sou obrigado a comer. Para condições como a minha, deixar de comer é como enviar um SMS para a dona morte e esperar que ela bata à porta. Houveram vezes em que ignorei isso e esperei pela visita, mas o que recebi foi a conta do hospital.

 Quando coloco a primeira colherada na boca, sinto como se estivessem todos olhando para mim, consumindo-me, arrancando pedaços. Tão rápido quanto penso, confirmo: estão sim.

Beomgyu sentou no banco estranhamente vazio na minha frente. Com o rosto baixo, olhei para ele por sob a franja que cai sobre a minha testa. Enquanto meus pensamentos permaneciam uma bagunça, ele permanecia em silêncio. Eu acho que espiei vezes mais do que deveria, tipo... de vez em sempre. Mas em todas elas vi o mesmo: a cabeça baixa e o rosto escondido atrás da franja grande. A única coisa que parecia se mover eram suas mãos, com veias grossas, saltando na pele branca demais enquanto seguravam os hashis. Ele ainda mastigava quando levantou a cabeça e me pegou no ato. Eu poderia ter fingido demência, olhado para o lado ou para a bandeja, mas era como se me mover não fosse uma opção. Como em Jogos Narrativos onde você tem três escolhas, mas não a que prefere.

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