8 - Os traços do arrependimento.

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- Beomgyu -

Me deitei na cama, permanecendo desperto madrugada a dentro. Quando finalmente dormi, o alarme soou sobre a cômoda de cabeceira, o ruído irritante e insistente do toque padrão que eu não me preocupei em mudar. A gentileza de Taehyun me custou uma ida ao banheiro no meio da madrugada - minutos após conseguir dormir -, para meu corpo se desfazer da comida que ele mesmo rejeitou digerir.

Por volta dos 15, já na metade do primeiro ano, comecei a perder o apetite. As vezes, o ácido passava o dia corroendo as paredes do meu estômago, porque, ao olhar para a comida, eu simplesmente não conseguia imaginá-la descendo pela minha garganta. Meu estômago embrulhava apenas por sentir o cheiro. Por isso, comecei a evitar as comidas que mais amava. Tentei não me rejeitar a comer toda vez que a fome batia, vez ou outra, forçando a comida a entrar. Algumas vezes depois dos 16, vomitava sempre que algo batia no estômago. Desde então, comecei a pensar que havia desenvolvido um transtorno alimentar. Claro, com base em diagnóstico algum. Existe um nível de preocupações que podem ser impostas à uma mãe solteira, a ideia de perturbá-la com tolices era, e ainda é, totalmente nula.

Ainda deitado na cama, senti a indisposição correr pelo meu corpo, o estômago dor e a sensação de ardência na garganta causada pelo vômito. Mesmo sem vontade alguma, me apressei e levantei da cama, sentei na beira do colchão de solteiro e estiquei os braços para o alto. Após me vestir e sentir-me desperto, comi uma banana que peguei na fruteira sobre a mesa, me despedi da minha mãe e saí de casa, caminhando por alguns minutos até o ponto de ônibus enquanto o peso da mochila puxava minhas costas para trás.

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Aqui estou, escola novamente. Parado em frente ao portão, aprecio os quatro pavimentos do prédio em que um dia fiquei feliz por poder frequentar. A tintura clara do térreo é os de mais andares, as várias janelas dispersas uniformemente do térreo ao terceiro andar. É preciso inclinar o olhar para ver o parapeito do terraço, um espaço ao ar livre, lotado de carteiras velhas e objetos em desuso acima do terceiro andar, que mesmo sujeitos a chuva e sol parecem, milagrosamente, manter-se intactos.

Passei pelos alunos do primeiro ano no térreo de cabeça baixa, eu podia sentir os olhares sobre mim. Todos curiosos, ansiando por detalhes de como havia se finalizado o dia anterior. Parei em frente ao meu armário, inseri o segredo do cadeado e abri a porta metálica acinzentada. Enquanto tentava ajustar a mínima bagunça, encontrei meu celular sobre uma pilha de livros didático. Liguei o aparelho e me deparei com 16 ligações perdidas, obviamente da minha mãe. Coloquei-o dentro da mochila e caminhei pelo extenso corredor dos armários. Subi as escadas em formato espiral - e prolongado - que seguiam até o terceiro andar (quarto pavimento), ignorando a possível vista que teria dos de mais: o ar que circulando pelas salas vazias dos clubes no primeiro andar, esperando que os alunos as preenchessem no contra turno. Os corredores - provavelmente lotados - do segundo andar, com os alunos baderneiros do segundo ano andando de um lado ao outro e trombando nos armários.

Parei na ponta da escada, sentindo alguns alunos do terceiro ano esbarrarem em mim ao tentarem passar. Encarei o terceiro andar, as diversas salas que dividem e comportam os vários alunos cursando o terceiro ano. Andei receoso pelos corredores e entrei na classe 6, minha classe. Pendurei a mochila nas costas da cadeira e só então percebi que havia esquecido o material das primeiras aulas no armário. Sai em passos largos - e sem a mochila - pelos corredores, desci a escada em grandes passadas e voltei até o térreo, abrindo novamente a porta do armário. Peguei os dois livros e os abracei junto ao peito, batendo a porta e travando o cadeado em seguida.
Quando me virei para deixar o corredor, vi de relance e primeira instância passos largos e próximos em minha direção (quando estou na escola, costumo ver primeiro as pernas ao rosto). Alguém centímetros mais alto e com um perfume caro me abraçou abruptamente. O impacto fez-me recuar dois passos.
Não havia dúvidas de quem fosse, alguém próximo à mim e com intenções suficientes para chegar tão perto... Hueningkai.
Ele continuou pressionando seu peito contra os livros e meu braço por um tempo. Apenas ele me abraçava. Minha mão livre agarrou o tecido da calça e, em momento algum, pareceu precisar de outro escoro.

Young Blood • [TaeGyu]Onde histórias criam vida. Descubra agora