23 - Ao recomeço.

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- Narradora -

Durante os dias que seguiram, tudo continuou o mesmo. Bem, quase tudo.

Uma mudança notória foi sua falta de apetite, que antes era muita e agora só pareceu aumentar. Como não tem mais quem o lembre de comer, tenta não pular ou esquecer - pelo menos - as duas principais refeições. Beomgyu passou os dias torcendo para que seu estômago não voltasse ao hábito de expelir todo o seu almoço. Ele precisa de energia, e é algo que não vai conseguir se seu sistema digestivo defeituoso voltar a traí-lo e botar para fora todas as vitaminas que seu corpo não teve nem a chance de tocar.

No geral, Beomgyu estava se virando bem, mas chega a ser assustador dormir e acordar totalmente sozinho, sem ninguém na cozinha, fazendo o café. Alguns dias após a morte da mãe, recobrou o hábito de dormir abraçando uma pelúcia. Um tempo atrás, decidiu que estava crescido demais para isso, mas a mãe não colaborava; comprava uma pelúcia nova em todo aniversário. Para ela, era difícil aceitar que o filho era quase um adulto e que o menininho que subia em seu colo nunca voltaria.

Em algumas noites Beomgyu chorava engomado nas cobertas, descontando nos travesseiros fofinhos tudo o que havia segurado durante o dia. Depois de chorar um tanto, dormia rapidinho.

O dinheiro da reserva estava acabando, e a necessidade de um emprego é mais que evidente. Beomgyu já pode prever as contas sendo postas na caixa do correio e o dono da casa batendo na porta da frente, vindo cobrar o aluguel atrasado. Achar um emprego seria difícil, mais do que ele havia imaginado. Lojas de conveniência foram a primeira tentativa, mas nenhuma das que tentou tinham vagas para meio período. Em seguida, tentou restaurantes, shoppings e mercados, mas parece que não há muitos lugares dispostos a contratar estudantes sem o mínimo de experiência.

 Assim como antes, estar desempregado o dá tempo de sobra depois da escola. Com isso, decidiu tentar aprender coisas que nunca havia feito, e que mais cedo ou tarde teria de fazer, como: fazer compras enquanto administra o dinheiro e cozinhar. Mas o maior desafio nem é esse, como diabos se dobra um lençol de elástico? Beomgyu se perguntou enquanto tentava, no final só o enrolou de um jeito que coubesse na divisória do guarda-roupa. Cozinhar não deve ser tão difícil, ele pensou, Algo básico basta. Toda essa dificuldade agora porque em semanas trás ele não precisava se preocupar com nada, quando chegava em casa a mesa já estava  posta, cada dia algo diferente. Agora que tem de fazer tudo por si só as refeições passaram a se repetir, e, nos dias mais corridos, a janta e o almoço foram trocados por delivery. Beomgyu agradecia sempre que uma vizinha solidária vinha trazer alguma comida.

Yuna foi embora há alguns dias, mas Taehyun ainda lembra nitidamente da vergonha que passou na rodoviária. Chorou como uma criança birrenta, chegou a agarrá-la pelo braço, achando que ela mudaria de ideia só porque ele queria. Quem vê pensa que nunca mais se verão.

Taehyun se lembra de como um dia disse amar a primavera, e se arrepende. No caminho de volta para casa, uma chuva forte e gelada o pegou desprevenido. Ele poderia ter se amontoado com um grupo de pessoas debaixo da cobertura de uma loja qualquer, mas já estava todo molhado mesmo; permaneceu a céu aberto, aceitando com prazer e arrepios as gostas de chuva. Sua vida em si já aparenta um roteiro melancólico e desgracento da rotina de um jovem estudante milionário, mas, ainda assim, achou que seria divertido recriar uma cena clichê de drama, sabe, aquelas em que o protagonista acabou de ser rejeitado e a única escolha que ainda tem é a de se molhar ou não. Ele sempre fica na chuva, talvez por rebelião, fazer algo que ninguém faria as vezes te dá uma sensação de controle. Para Taehyun, tudo bem não haver desilusões amorosas ou desentendimento familiar, ele até prefere que seja assim, no final seria apenas um momento na chuva sem contexto anterior. 

Young Blood • [TaeGyu]Onde histórias criam vida. Descubra agora