Quando contei que ficaria alguns dias longe de casa para acompanhar a princesa até outra cidade, minha mãe mal ergueu os olhos de sua máquina de costura. Ao invés disso, apenas disse:
"Você vem passando cada vez mais tempo com ela."
Eu dei de ombros, ainda vestido com o uniforme do palácio. Era noite e eu tinha vindo para casa para dormir um pouco antes de sair cedo na manhã seguinte.
"É o meu trabalho", falei. "O rei não quer que ela vá sozinha."
"Trabalho, é?" Minha mãe parou de costurar e tirou os óculos de grau, em seguida voltando para mim. Eu conhecia aquele olhar. Era como se ela estivesse tentando ver através das minhas palavras e obter respostas.
Nada confortável.
"Há quanto tempo você gosta dela, Jack?", ela me perguntou, e a sinceridade em suas palavras quase me fez dar um passo para trás. Engoli em seco, pensando em mentir e dizer que ela estava ficando maluca, mas do que aquilo adiantaria? Eu podia negar e esconder o que sentia para o resto do mundo, mas não para a minha mãe. Nunca para ela.
"Não sei exatamente quando começou", falei. "Só sei que aconteceu."
Minha mãe assentiu devagar, então se levantou da cadeira e colocou uma mão no meu braço.
"Ela sabe?"
Eu pensei nos momentos roubados em que Margot e eu nos escondíamos nas sombras do castelo. Nos beijos e nos abraços, nas horas em que eu mais tinha vontade de jogar tudo para o alto e ser inconsequente.
"Acho que sabe. E..." Hesitei por um momento, pensando em como eu soaria ao mesmo tempo infantil e esperançoso ao dizer as próximas palavras. "E acho que ela sente o mesmo também."
Eu vi a dúvida e o medo estampados nos olhos escuros da minha mãe, e no fundo sabia que entendia cada um daqueles sentimentos. Imaginei como deveria ser difícil para ela entender que eu e a princesa de Steinorth poderíamos ter qualquer coisa que não fosse indiferença um pelo outro.
Mas não era assim. Nunca tinha sido. Mesmo quando Margot me odiava e eu tinha vontade de esganá-la, nunca houve algo tão normal como neutralidade entre nós.
"Só... tome cuidado, Jack", minha mãe disse finalmente, cada palavra saindo como se tivesse um peso enorme. "Não quero que isso acabe mal. Para nenhum de vocês."
"Eu sei." Naquele momento eu pensei em mim, em Margot e em como parecia que uma bomba relógio estava contando os instantes ao fundo. Por melhor que fosse a ideia de aproveitar o momento, eu sabia que teríamos de tomar uma decisão muito em breve. As coisas não podiam ficar do jeito que estavam. "Depois de tudo o que aconteceu hoje, eu preciso dar um tempo antes de conversar com ela. Margot não está nada bem."
"Eu imagino." Minha mãe suspirou e voltou a se sentar na cadeira, o semblante preocupado. "Aquela garota... Acho que nunca conheci alguém como ela. Desde que entrou nesta casa, com aquele sorriso simpático e uma alegria que preencheu cada cantinho, soube que era especial. Para ser sincera, eu não acredito como alguém não se apaixonaria por ela."
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Mais que uma Princesa, livro 3 - Casa Arthenia
RomanceQuando a princesa Margot Arthenia, quarta na linha de sucessão ao trono de Steinorth, se mete em apuros que quase termina em tragédia em uma das boates mais famosos da capital do país, seu pai decide que é hora de impor um castigo severo a filha mai...