Eu tinha descido até o refeitório para uma pausa de quinze minutos naquela tarde quando vi Josh passar pela porta. Nossos horários de descanso quase nunca coincidiam, por isso ele abriu um enorme sorriso quando me viu e se aproximou, apoiando os cotovelos no bebedouro onde eu tinha parado para encher um copo de água gelada."Terminou por hoje?", ele perguntou.
"Que nada." Bebi toda a água em longos goles e joguei o copo descartável na lixeira. "Estamos no meio da tarde, Josh, ainda vai levar um tempo para eu voltar para casa."
"Não que você esteja muito incomodado com isso, não é?"
Estreitei os olhos para ele, notando aquele sorriso torto de quem quer dizer mais alguma coisa, mas prefere ficar só na provocação.
"O que quer dizer?", perguntei. Não gostava de rodeios.
"Ah, nada." Josh passou uma mão pela manga do seu uniforme, como se quisesse se livrar de uma poeira invisível. "É só que você e a princesa pareceram bem próximos naquele dia no lago. Não sabia que tinham se tornado amigos."
"Nós não..." Mas me interrompi, porque estava prestes a dizer que não éramos amigos, e aquilo não parecia ser verdade.
Eu já tinha desistido de agir formalmente com Margot há algum tempo. Quando a seguia pelo castelo, ela fazia questão de conversar comigo, de saber minha opinião sobre as coisas e garantir que eu não permanecesse mudo como foi naqueles primeiros dias no meu novo trabalho. Ela falava comigo sobre os abrigos, sobre as pessoas que conhecia e sua família, e eu já tinha percebido que ouvi-la tagarelar não era um problema tão grande para mim.
E no outro dia, quando contei a Margot sobre Cody à beira do lago, percebi que confiava nela. Pelo menos em relação àquilo. Não sabia direito o que tinha dado em mim para revelar uma coisa que eu considerava ser tão pessoal, mas enquanto estávamos sozinhos, longe da cidade e das outras pessoas, só pareceu natural que eu contasse a ela um pouco da minha vida, como amigos costumavam fazer. E o que mais me surpreendia em toda aquela história era que até agora eu não tinha me arrependido nem um pouco de conversar com ela.
Josh esperou que eu dissesse mais alguma coisa, mas quando percebeu que não falaria nada, se inclinou para mim e sussurrou:
"Como isso aconteceu? Nós dois sabemos como estava relutante em trabalhar com a princesa. O que rolou entre vocês?"
"Não rolou nada", eu disse, agora já me sentindo ansioso para fugir do refeitório e voltar aos andares superiores do palácio. "A princesa não queria um guarda-pessoal, para início de conversa. No começo ela me detestava e eu não sentia nada muito diferente disso por ela. Mas então..." Eu cocei a nuca, sem saber direito o que dizer a seguir. Não podia contar a Josh sobre os abrigos que tínhamos visitado, também não queria falar sobre como Margot tinha dado abertura para que eu a conhecesse melhor nos últimos dias e acabasse percebendo que ela não era uma cruz tão pesada de se carregar. A princesa era difícil, óbvio, mas também era divertida, sincera e se importava de verdade com as pessoas ao seu redor. "Ela não é tão ruim quanto eu pensava, só isso", decidi dizer por fim.
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Mais que uma Princesa, livro 3 - Casa Arthenia
Roman d'amourQuando a princesa Margot Arthenia, quarta na linha de sucessão ao trono de Steinorth, se mete em apuros que quase termina em tragédia em uma das boates mais famosos da capital do país, seu pai decide que é hora de impor um castigo severo a filha mai...