Eu tinha contado exatos trinta e um carneirinhos até desistir de vez daquela bobeira e me sentar na cama, encarando meu quarto escuro e silencioso. Peguei meu celular e conferi as horas, constatando com um suspiro desanimado que já eram duas da manhã.
Por que eu não conseguia dormir?
Já tinha assistido uma série de episódios de Friends, me empanturrado com cookies gostosos e vestido meu pijama mais confortável – aquele estampado com trenós do Papai Noel – mas nada parecia ter o poder de me fazer ficar quieta na cama e mergulhar em um sono profundo e tranquilo. Sempre que fechava os olhos, imagens daquele dia horrível pipocavam na minha mente, com Jack me acompanhando para todos os cantos do palácio e Sebastian rindo de mim durante o jantar até que eu jogasse uma ervilha nele.
Eu ainda não tinha tentado fugir. Nem eu era louca o suficiente para testar a paciência do meu pai daquele jeito. Além do mais, com todo o tipo de coisa que estavam dizendo sobre mim por conta do incidente no clube, sentia como se não quisesse arriscar a mostrar meu rosto na cidade por um tempo. Não que eu estivesse envergonhada pelo que tinha acontecido. Claro que não. É só que saber que cada atitude minha poderia vir com um peso grande demais depois estava começando a me deixar cansada.
Interrompi aqueles pensamentos ao pular da cama e calçar minhas pantufas. Lancei um olhar para a porta do meu quarto e me perguntei se Jack estaria ali do outro lado. Eu sabia que ele fazia poucas pausas ao longo do dia e era substituído por outro guarda do castelo que eu não conhecia, mas me perguntei se ele também havia pegado alguns turnos da noite como meu carcereiro.
Imaginá-lo do outro lado da porta me deixava inquieta, o que talvez estivesse tornando ainda mais difícil a minha tarefa de fechar os olhos e dormir. Sem pensar demais no que estava fazendo, eu fui até a porta do quarto e girei a maçaneta, espiando o corredor iluminado por aquelas luzes alaranjadas e aconchegantes.
E ali estava ele. Parado como um objeto inanimado ao lado da porta.
"Alteza?", ele disse ao me ver, obviamente surpreso.
Eu sorri de lado, saindo para o corredor.
"Esse deve ser o pior emprego do mundo, não?"
Ele não respondeu, ao invés disso continuou em sua posição impecável junto à parede. Eu sabia que ele ainda tentava compreender o motivo pelo qual eu estava ali àquela hora da noite, mas a verdade é que – apesar do meu tédio e óbvia falta de sono causada em parte pela ansiedade de saber que tinha alguém parado na porta do meu quarto – nem eu entendia direito. Aquele dia tinha sido mentalmente exaustivo e eu sabia que não havia me comportado como uma boa pessoa com Jack. Reclamei durante todo o tempo e devo tê-lo deixado com uma baita dor de cabeça. Por mais que não quisesse admitir aquilo, talvez eu estivesse me sentindo um pouquinho culpada por ter sido tão insuportável.
"Você não fica com sono?", perguntei, tentando mudar o rumo dos meus pensamentos. "Quer dizer... Se eu ficasse toda paradona assim olhando para a parede, acho que acabaria dormindo em pé e seria encontrada no outro dia desmaiada no carpete."
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Mais que uma Princesa, livro 3 - Casa Arthenia
RomanceQuando a princesa Margot Arthenia, quarta na linha de sucessão ao trono de Steinorth, se mete em apuros que quase termina em tragédia em uma das boates mais famosos da capital do país, seu pai decide que é hora de impor um castigo severo a filha mai...