NAQUELA NOITE AMARREI MINHA MÁSCARA com firmeza e ajeitei meus cabelos. Mesmo estando do lado de fora do clube, dentro de um carro preto simples e discreto, eu conseguia ouvir a música e as pessoas conversando animadas enquanto faziam fila na calçada. Olhei pela janela e senti a animação percorrer meu corpo como uma corrente elétrica.
"Como estou?", ouvi Lilah perguntar ao meu lado. Ela tinha acabado de colocar sua máscara preta adornada com detalhes vermelhos em forma de arabescos. Seu cabelo estava penteado para trás em um coque elaborado que deixava alguns fios soltos caírem ao redor de seu rosto.
"Linda como sempre", disse de forma automática. Ela tirou um espelhinho da bolsa e conferiu o batom por demorados segundos, me fazendo bufar baixinho. "É melhor nós irmos antes que você se apaixone pelo seu próprio reflexo e acabe como Narciso."
"Ah, para com isso. Narciso nunca chegaria aos meus pés", ela disse, seus olhos brilhando em divertimento quando se voltou para mim. Eu ri e a segurei pelo braço, arrastando-a para fora do carro. Lilah trocou algumas palavras com o motorista e o carro deu partida, nos deixando sozinhas junto ao meio fio.
"Você deve estar subornando muito bem o motorista", eu comentei quando começamos a andar na direção oposta de onde a multidão vinha, todos animados com a possibilidade de uma noite no The Rebels.
"Carlos é um amor e me conhece desde criança. Ele nunca me deduraria para a minha mãe. Contanto que eu não exagere na quantidade de favores que peço a ele, é claro."
"Saídas às escondidas durante uma noite por semana contam como uma quantidade muito grande de favores?"
"De jeito nenhum."
Eu sorri para mim mesma e balancei a cabeça. Deus sabia que nos últimos meses Carlos era quem nos levava praticamente todas as noites de quinta ao The Rebels, durante a Festa Mascarada. Mas Lilah sempre garantiu que ele era confiável e que nós não precisávamos nos preocupar. E eu confiava nela mais do que confiava em qualquer outra pessoa.
Naquele momento chegamos até as portas dos fundos do clube e entramos, seguindo por um corredor iluminado. O som da música e das vozes era inebriante, me fazendo tamborilar os dedos na coxa em expectativa. Um segurança alto – Rory – nos esperava diante de uma porta que levava até o espaço comum do The Rebels.
"Senhoritas", ele disse, abrindo a porta. Lilah e eu sorrimos para ele e entramos. Luzes coloridas dançaram diante dos nossos olhos, iluminando tudo em tons de vermelho e azul. Eu segurei o braço da minha amiga e me perguntei se era cedo demais para nos arrastarmos até a frente do palco, onde uma banda jovem da região tocava e animava o pessoal.
"Ainda não", ela disse no meu ouvido, como se lesse meus pensamentos. "Ninguém está embriagado o suficiente para que você não corra nenhum risco, querida. São só oito horas e muita gente vai encher esse lugar ainda."
Quis revirar os olhos diante do comentário, mas eu sabia que ela estava certa. Eu gostava de aproveitar cada segundo daquelas quintas-feiras preciosas, mas apesar da máscara, das luzes e do barulho, eu sabia que todo cuidado era pouco. Se alguém me reconhecesse, se algum rumor começasse, eu podia colocar tudo a perder.
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Mais que uma Princesa, livro 3 - Casa Arthenia
RomanceQuando a princesa Margot Arthenia, quarta na linha de sucessão ao trono de Steinorth, se mete em apuros que quase termina em tragédia em uma das boates mais famosos da capital do país, seu pai decide que é hora de impor um castigo severo a filha mai...