Quando a princesa Margot Arthenia, quarta na linha de sucessão ao trono de Steinorth, se mete em apuros que quase termina em tragédia em uma das boates mais famosos da capital do país, seu pai decide que é hora de impor um castigo severo a filha mai...
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Já lidei com pessoas mesquinhas na vida. Pessoas dissimuladas e até maldosas. Para ser sincero, nunca odiei nenhuma delas por passar por cima de mim de um jeito ou de outro. Posso ter guardado mágoa, mas não ódio.
Acho que a coisa muda completamente de figura quando é a pessoa com quem você se importa que está sendo atacada. Porque então não é mais sobre os seus sentimentos e como você vai lidar com eles, mas sim sobre o que a outra pessoa sente. A pessoa que de repente entrou na sua vida para nunca mais sair.
"O que atrairia mais atenção indesejada, Margot, assumir um relacionamento de mentira comigo ou lidar com o caos quando todos souberem que a princesa de Steinorth tem um caso com seu guarda-pessoal?"
Saí do meu lugar junto à parede antes mesmo que o príncipe terminasse de dizer as palavras. Margot estava parada diante dele, seus olhos claros perdidos por um instante.
"O que você disse?", falei, me voltando para o príncipe. Minha voz saiu mais como um rosnado do que qualquer outra coisa.
Nikolai não vacilou.
"Você ouviu."
Que se dane o meu emprego, pensei naquele momento, eu vou acabar com esse cara.
Dei um passo adiante, mas então senti a mão de Margot segurar a minha com força, me mantendo no lugar. Olhei para ela e percebi que seu rosto estava pálido. Seus olhos foram de mim para o príncipe, e pensei que ela fosse começar a negar tudo – era o que eu esperava que ela fizesse – mas, ao invés disso, Margot falou:
"Você se acha muito esperto, Nikolai."
O príncipe arqueou as sobrancelhas e sua expressão prepotente e arrogante poderia até parecer perigosa, isso se ele conseguisse disfarçar o tremor de seu corpo.
"Bom, não é como se vocês tivessem tentado esconder", ele falou, e seus olhos se encontram com os meus. "Se antes eu já desconfiava, tudo ficou bem claro depois que Jack e eu nos encontramos depois do baile."
"Você diz quando eu te joguei contra a parede?", sibilei, a raiva fazendo meu corpo inteiro ficar rígido como pedra. Nikolai não respondeu, ao invés disso, voltou a olhar para Margot.
Pensei no que ela poderia estar pensando. Eu estava ocupado demais imaginando mil maneiras de matar Nikolai para prestar atenção no que sua ameaça significava. Tentei afastar aqueles pensamentos violentos só por um momento, e imaginei como seria se o príncipe vazasse as informações para a imprensa.
Margot poderia tentar negar, claro, poderia dizer que não passavam de boatos. Mas quem se importava? As pessoas só precisavam de uma desculpa para poder fazer dinheiro em cima de polêmicas que envolvessem seu nome. E que polêmica e tanto...
Pensei no que as pessoas diriam sobre ela quando descobrissem sobre nós. Eu ainda era muito novo quando o príncipe Steven se casou com Layla Bennett, mas sabia como as pessoas tinham sido maldosas com ela, pelo abismo colossal que parecia separar seus estilos de vida. Mas não era comigo com quem estava preocupado. Era com Margot. Eu reconhecia a minha ignorância sobre o assunto, mas pelo pouco que já tinha conversado com minha mãe e minha irmã a respeito, tinha entendido que de um jeito ou de outro sempre é a mulher que sai prejudicada em qualquer tópico envolvendo relacionamentos. E a proporção daquilo seria mil vezes maior, Margot sendo quem era.
Olhei para ela, que permanecia em silêncio. Senti um peso no estômago quando a ideia de que Margot poderia estar considerando a proposta de Nikolai me passou pela cabeça. Talvez ela estivesse imaginando como seria, quando as pessoas soubessem sobre nós. Quem sabe tivesse entendido como seria difícil. Como não valeria a pena.
Nós ainda nem tínhamos colocado em palavras direito o que significamos um para o outro. Como esperar que o resto do mundo entendesse?
O príncipe pigarreou e Margot piscou depressa, como que despertada de um sonho. Ele olhou fundo em seus olhos quando perguntou:
"E então, Margot? O que me diz?"
Ela hesitou, mas só por um momento. Quando falou, devolveu a mesma intensidade em cada palavra.
"Eu digo para você ir se foder, Nikolai."
O príncipe recuou, atordoado como se tivesse levado um tapa. Eu, por minha vez, sorri. Olhei para Margot, meu coração batendo tão alto e forte que achei que ela pudesse ouvir.
Por todos os santos... Eu acho que amo essa garota.
O pensamento era assustador e incrível. Muito incrível.
"Margot...", comecei a dizer, a voz embargada. Ela balançou a cabeça e segurou minha mão. Observei seu rosto, os traços corajosos e ferozes, cada parte destemida dela.
"Ninguém me ameaça", ela disse para mim, alto o suficiente para que Nikolai ouvisse. "Nunca. Eu tomo minhas próprias decisões."
"Não é o que parece", o príncipe interveio, a raiva queimando em seu olhar. "Se levarmos em conta os últimos acontecimentos."
Margot se virou para ele, a coluna ereta e os olhos semicerrados.
"E o que você tem a ver com isso?"
O príncipe não respondeu. Não precisou.
Não entendi muito bem o que se passava entre eles, mas de repente Margot assumiu uma expressão surpresa e cobriu a boca com a mão para conter um arquejo.
"Foi você!"
Nikolai engoliu em seco e encarou o carpete. Quando voltou a erguer o olhar, seus olhos estavam marejados.
Margot se moveu, a fúria transformando seu rosto. Ela avançou para cima de Nikolai, mas eu a segurei pela cintura no último instante. Ela se rebateu, as unhas machucando meus pulsos enquanto tentava se libertar.
"Eu não tive escolha", Nikolai disse, enquanto Margot lutava contra meu aperto em uma raiva descontrolada. "Se você..."
"Cale a boca!"
"Margot, pare com isso", pedi, mas foi inútil. Ela me deu uma cotovelada no estômago e eu a soltei.
O príncipe ergueu as mãos e Margot avançou em sua direção, mas naquele momento uma sombra cruzou a porta que dava para o corredor, sua voz grave congelou todos nós.
"Agora, já chega", o rapaz disse, os olhos muito escuros percorrendo a sala com cuidado. "Vamos nos sentar. E nos acalmar." Ele olhou por cima do ombro, e eu vi a figura baixinha e aparentemente aterrorizada do mordomo tremer. "Henri, acho que agora era um bom momento para aquele chá."
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Oii gente!!
Essa é só a primeira parte do capítulo de hoje, podem ficar tranquilos hahaha
Já liberei tudo de uma vez para vocês! Nos vemos no final da próxima parte.
