Prólogo

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Loki

Olhei as cartas sobre a mesa. Dentre algumas bobagens, um Valete, um Rei e um Ás de Espadas. Em minhas mãos, um precioso Dez de Espadas e um inútil Sete de Ouros. Relembrei as cartas que já tinham aparecido antes e calculei as possíveis combinações que os outros jogadores provavelmente teriam. Observei-os com os cantos dos olhos. Tensos, ansiosos, amedrontados. Alguns até fingiam razoavelmente bem, admito. Mas não pra mim. Não para Loki, o deus da trapaça.

Toquei o Sete com a ponta do dedo e, com apenas um direcionamento de energia, vi-o se metamorfoseando no Q, a rainha que eu tanto queria. Sei que meu rosto não esboçou nenhuma emoção, mas, dentro de mim, o sangue pulsava um pouco mais rápido. Eu nunca me cansava dos jogos humanos. E, menos ainda, de vê-los perder. Por melhor que eu fosse jogando poker dentro das regras, nada se comparava à diversão de quebrá-las.

Empurrei todas as minhas fichas para o centro da mesa e, um a um, eles tomaram suas decisões. Os mais inteligentes desistiram. Um deles, porém, irresponsável ou corajoso, me desafiou. Não o julguei. Eu faria o mesmo se não soubesse contra quem estava jogando.

Esperei meu oponente mostrar suas cartas primeiro. Um belíssimo Full House, que ele revelou com o olhar inundado de soberba. Suspirei, fazendo minha melhor interpretação de decepção e vi seu sorriso abrindo-se com alívio e arrogância. Permiti que ele saboreasse a vitória por um curto instante e, lentamente, revelei o jogo em minha mão. Royal Straight Flush. A combinação mais rara possível e, não por acaso, minha marca registrada.

Levantei antes de seus gritos de frustração ou protesto, e comecei a me dirigir em direção à saída. Antes de cruzar a porta, entretanto, falei sem olhar para trás:

— Meu encarregado vai buscar o pagamento pela manhã.

Saí do porão mal iluminado em que o cassino clandestino funcionava e inspirei o ar frio de Paris. Ponderei para onde iria em seguida. Um outro cassino em Las Vegas? Talvez uma boa disputa territorial no Oriente Médio? Desde minha última saída de Asgard, passei a maior parte do tempo me divertindo às custas dos humanos. Era divertido, claro, mas estava começando a ficar entediante.

Antes que pudesse tomar qualquer decisão, porém, eu senti. Todos os pêlos do meu corpo se arrepiaram e a energia me atingiu em cheio vinda do leste. Enfraquecida, sem dúvidas, mas ainda divina. Algum ser superior havia chegado em Midgard.

Senti o sorriso se alargando em meu rosto enquanto a curiosidade e a expectativa me dominavam. Era exatamente o que eu queria. Alguém forte o bastante para me auxiliar, mas fraco o suficiente para eu poder manipular. Uma oportunidade tão propícia não passaria duas vezes na minha frente no mesmo milênio, e eu não estava disposto a deixá-la passar.

Se ao menos eu soubesse...

Se ao menos eu soubesse

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