Afrodite
Meu corpo correspondeu ao chamado antes da consciência tomar qualquer decisão. O universo parecia expandir ao meu redor e eu me senti dissolver sob aquele toque urgente e cálido. Minha mente capturou o instante como uma lente de aumento, cada sensação intensificada e registrada separadamente. O cheiro salgado da maresia, trazida pela brisa morna e constante. A água fria acariciando meus pés que pendiam do píer. O sol esquentando meus ombros nus. E o contato dos lábios de Loki, quentes contra os meus.
Então, sem aviso prévio, o universo inteiro se retraiu de volta e eu arregalei os olhos, completamente abismada. Minhas mãos se estatelaram em seu tórax e eu o empurrei com um supetão.
Surpreendido, Loki me encarou por um momento. Uma sombra atravessou seu semblante brevemente, mas logo foi encoberta por uma fortaleza inexpressiva. Ele meneou a cabeça com um aceno mínimo, como quem entende um recado, e murmurou sob a respiração:
— Desculpe.
Sem dizer mais nada, Loki se levantou e deu meia volta. Eu exalei o ar com força, um pouco trêmula, e fiquei de pé num salto. Ele dava o último passo do píer para a terra firme quando o chamei.
— Loki... — ele se deteve, os músculos de seus ombros tensionando-se, mas não olhou para trás.
Ergui o queixo e perguntei com firmeza:
— Você me beijou por gratidão?
Lentamente, ele se virou e me observou em silêncio por um tempo. Seus olhos refletiam límpidos sob a luz do sol, os cabelos escuros esvoaçando livremente com a brisa do mar. A expressão séria, resoluta.
— Não.
Assenti com a cabeça, sustentando seu olhar. Cruzei a distância entre nós a passos largos, enquanto via seu semblante de seriedade se transformar em confusão. Enrosquei as mãos em seus cabelos e puxei-o para mim, selando nossos lábios outra vez.
Eu vinha mentindo para mim mesma há um tempo, mas não tinha mais como esconder. Existe um limite até onde a própria deusa da sexualidade consegue se enganar a respeito disso. A verdade era que eu ansiava pelo seu toque. O que eu não admitiria é que ele estivesse ali por qualquer outro motivo que não fosse a pura correspondência do meu desejo.
Loki ficou paralisado por um breve segundo, mas logo em seguida deslizou as mãos pela minha cintura, puxando-me para si. Seu corpo se moldou ao meu sem esforço e nós aprofundamos o beijo quase automaticamente. Seus lábios tinham um gosto suave e a primeira palavra que me veio à mente quando sua língua roçou de leve a minha foi ambrosia – o fruto dos deuses. Estremeci levemente de prazer e senti os braços dele se firmarem ainda mais ao meu redor como resposta.
Quando, um tempo depois, eu me afastei relutantemente, o rosto dele estava afogueado e seus olhos brilhavam com tanta intensidade que pareciam faiscar. Ficamos quietos, nos encarando, ambos arrebatados pela intensidade daquele momento. Meu coração ainda palpitava com força em meu peito e, pela sua respiração ofegante, deduzi que o dele também.
Pouco a pouco, os lábios dele se curvaram para cima num sorriso bem típico, coberto de travessura. Ao ver sua expressão, a risadinha que eu tentava reprimir se transformou numa gargalhada vigorosa, e eu curvei a cabeça para trás, rindo alto. Loki baixou o rosto até a base de meu pescoço e plantou um beijo ali, leve como uma pluma. Com um gritinho de susto e arrepios percorrendo todo o meu corpo, eu me desvencilhei de seu enlace.
— Asgardiano atrevido — murmurei entre as risadas, partindo correndo em direção à beira do cais.
Sem olhar para trás e sem hesitar, mergulhei de cabeça no mar cretense, brilhando intenso sob o sol.
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Dark Necessities
RomanceAfrodite é a deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade. Loki é o deus nórdico da trapaça e da enganação. Um não poderia ser mais diferente do outro. Porém, quando Afrodite se descobre sem poderes e banida do Olimpo nos dias atuais, Loki vê nel...