Capítulo VII

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Afrodite

Coloquei o braço no batente da porta, bloqueando a entrada por instinto, mesmo sabendo que Perséfone não estava mais no quarto.

— Com ninguém.

Loki continuou me olhando intensamente. Seus olhos verdes eram frios enquanto ele se aproximava devagar, a postura ameaçadora. Ele estava tão perto que eu podia sentir o poder que emanava em ondas de seu corpo.

— Errado. Tenta de novo — disse com a voz baixa.

Levantei uma sobrancelha e ergui o queixo em desafio. Se ele queria me intimidar, precisaria de muito mais do que uma cara de bravo.

— Que tal... Não é da sua conta?

— Afrodite, — nossos narizes quase se tocavam — qualquer pessoa que você receba na minha casa é da minha conta.

Senti meu rosto ardendo com a raiva e cerrei o maxilar. Ele não era meu dono, meu amante e nem meu amigo. Não tinha o direito de saber com quem eu me encontrava ou deixava de me encontrar. E eu não permitiria que ele usasse minha condição de convidada para me oprimir.

— Não seja por isso — respondi no mesmo tom, sustentando seu olhar. — Eu vou embora da sua casa.

Dei um passo para trás e empurrei a porta do quarto, mas ele a segurou antes que fechasse. Enquanto eu me afastava, Loki parou sob o batente e encostou-se de lado, com os braços cruzados. Comecei a revirar meus poucos pertences tentando organizá-los numa pilha. Quando voltou a falar, seu tom de voz recuperou um pouco da nuance de divertimento de sempre.

— Então quer dizer que você acharia completamente normal se eu recebesse um imortal às escondidas na sua casa?

Parei o movimento no meio. Minha blusa suja do hospital pendendo da ponta dos meus dedos. Suspirei, a raiva abandonando minha mente como o ar saindo de um balão desinflando. Ele era insuportável, mas sua observação estava correta. Se a situação fosse o contrário, eu estaria espumando de ódio. Sentei na beirada da cama, remexendo a peça de roupa em minha mão.

— Era uma amiga. De casa.

Olhei-o na defensiva. Sua expressão tinha suavizado. Apontou para dentro do quarto e perguntou:

— Posso?

Assenti com a cabeça. Ele entrou, veio até a cama e sentou-se ao meu lado, sem me tocar.

— Sente falta deles?

— Não! — respondi com pressa, mas acabei corrigindo, contrariada: — Não de todos. Ela é minha única amiga.

— Achei que vocês, gregos, fossem todos uma grande família feliz — debochou com um sorriso maldoso.

— Nós somos... Quando não estamos tentando destruir uns aos outros.

Ele gargalhou e não pude evitar acompanhá-lo. Dei de ombros. Era verdade.

— Bom, — falei, levantando e indo em direção à porta — o que você queria aqui tão cedo, afinal de contas? Se não se importa, gostaria de continuar minha missão de procurar algo para comer.

— Ah, sim. Claro — respondeu como se lembrasse de um objeto perdido em algum lugar. Caminhou para a saída, e completou: — Meu irmão está aqui. Te espero na sala — e saiu, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

Pela segunda vez na mesma manhã, eu fui deixada para trás, olhando para o nada de queixo caído. E o dia estava apenas começando.

Minutos mais tarde, eu me dirigia até a sala. O robe trocado por um dos frescos vestidos que Loki havia deixado no quarto em minha chegada. Agradeci mentalmente pelas roupas limpas, sem a menor intenção de expressar a gratidão em voz alta. Meu estômago roncava e eu estava mal humorada, mas minha curiosidade vencera a guerra contra o atrevimento. Queria ver quem era esse tal irmão.

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