Loki
O bourbon desceu cálido pela minha garganta, aquecendo meu peito. A música tranquila do piano trazia um clima aconchegante ao bar sofisticado do hotel. Pelas imensas janelas, era possível ver a magnífica dança das águas iluminadas nas famosas Fontes do Bellagio. Conferi a hora mais uma vez e me apoiei no encosto da confortável cadeira de veludo, suspirando impaciente. Já fazia mais de meia hora que eu estava ali, esperando por Afrodite, que ainda se aprontava na suíte.
Havíamos chegado em Las Vegas no início daquela noite, dois dias após a sugestão de Baldur. Ele teimou em não vir conosco, mesmo depois de nossos insistentes convites, e confesso que não fiquei de todo insatisfeito com sua recusa. Ele era certinho demais para as infinitas possibilidades daquela cidade. E Afrodite, pelo jeito, estava querendo assumir a mesma pose.
Rolei os olhos ao lembrar como ela ficou desconfiada quando os carregadores nos conduziram ao nosso andar. "Um quarto?", perguntou com os olhos semicerrados. "Um apartamento", eu corrigi, "com dois quartos e bastante espaço".
Percebi sua aproximação sem precisar ver a porta de entrada. Todos os olhares no bar se levantaram em sua direção, admirados. Ela era realmente belíssima. E imponente como uma valquíria. O que atraía todas as atenções, entretanto, não era físico. Ela tinha presença. Algo que pairava ao seu redor, como um magnetismo invisível e poderoso.
Levantei-me quando ouvi o som seco de seus saltos contra o mármore logo atrás de mim e virei em sua direção. Ela usava um bonito vestido de alças finas e tecido leve, seus cabelos soltos e volumosos.
— Boa noite, John Locke — seu sorriso educado continha apenas uma ponta de sarcasmo.
— Kypria — retribuí, tomando sua mão e beijando os nós de seus dedos.
— Então — começou, enquanto eu oferecia meu braço para ela entrelaçar o dela —, o que é que esta cidade tem de tão especial?
Eu apenas sorri. Caminhamos lentamente para fora do bar, pela exuberante recepção do hotel – uma abóbada com incontáveis flores de vidro multicoloridas sobre nossas cabeças. Quanto mais nos aproximávamos do cassino, mais alto era o burburinho de conversas e música, causando um crescente sentimento de antecipação.
Nossa primeira parada foi no enorme salão dos caça-níqueis, repleto de turistas e milhares de máquinas ornamentadas de dourado. Logo um garçom se aproximou e nos ofereceu um par de taças de champanhe, que aceitamos de bom grado. O período de convalescência tinha ficado para trás. Peguei uma moeda em meu bolso e virei-a em meus dedos, transformando-a numa ficha de jogo. Estendi para Afrodite.
— Gostaria de fazer as honras?
Ela pegou a ficha de minha mão, seu sorriso nada menos do que malévolo.
— E se eu ganhar?
— Eu te deixo em paz — evoquei nosso encontro em Santorini.
Ela gargalhou e depositou a ficha no caça-níquel. Seu rosto permanecia impassível, mas sua mão apertou a manga do meu paletó quando as figuras começaram a girar na tela. No início, era tão rápido que tudo o que conseguíamos ver era um borrão luminoso. Mas, aos poucos, a velocidade foi diminuindo, e diminuindo... até parar.
Todas as figuras diferentes. Perdemos.
Ela me olhou com o canto dos olhos e eu dei de ombros.
— Eu não ia deixar mesmo.
As horas seguintes correram num piscar de olhos. Passamos em praticamente todos os jogos oferecidos pelo imenso cassino. Ganhamos algumas centenas de dólares no bacará e os perdemos na roleta. Afrodite se mostrou uma exímia jogadora de craps, o jogo de dados. De acordo com ela, era um dos favoritos no Olimpo.
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Dark Necessities
RomanceAfrodite é a deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade. Loki é o deus nórdico da trapaça e da enganação. Um não poderia ser mais diferente do outro. Porém, quando Afrodite se descobre sem poderes e banida do Olimpo nos dias atuais, Loki vê nel...