Capítulo XXV

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Afrodite emergiu de trás da cadeira como uma miragem. Ela usava um lindo vestido creme de um ombro só com drapeados que ondulavam à medida que se movimentava. Uma fenda profunda deixava sua perna toda à mostra a cada passo. Seus cabelos estavam soltos e volumosos, adornados com uma tiara de delicadas flores lilases. Em seu pescoço, o famoso colar de pérolas brilhava sob a luz da manhã. Uma verdadeira deusa grega.

Todos os presentes arquejaram em choque e o silêncio reinou outra vez.

Ela caminhou sem pressa, inabalada pelos olhares sobre si. Sua atenção inteiramente focada no deus da guerra no meio do salão. Ele estava congelado no meio de um passo, o queixo caído e os olhos dourados estatelados como dois pires.

— Olá, meu amor — Afrodite ronronou, parando a alguns metros de distância. — Sentiu saudades?

Ares a encarava ainda sem palavras.

— Por favor, prossiga. Não quero atrapalhar — ela sorriu cinicamente. — Você estava falando que eu sou uma traidora, correto?

Isso pareceu trazê-lo de volta às suas faculdades mentais. A aura escarlate ao redor dele expandiu levemente, a surpresa transformando-se em raiva. Ele estreitou os olhos e falou entredentes:

— O que você está fazendo aqui?

— Eu vim participar da reunião, é claro.

Zeus, que até então estava em choque como todos os outros, ameaçou levantar, indignado. Ao seu lado, Hera o impediu com um toque leve em seu braço e um olhar fulminante.

— Como você entrou? — Ares rosnou. Seu olhar desconfiado foi direto para Perséfone, que parecia à beira de uma síncope em seu assento.

— Por que não deixamos os detalhes para depois — Afrodite o circulou, obrigando-o a desviar a atenção da amiga para continuar a vê-la — e focamos em algo um pouco mais interessante?

Ela observou ao redor, encontrando os olhares dos outros deuses. Sorriu amistosa e abriu os braços endereçando-se a todos:

— Meus amigos, vocês não acham curioso que, sendo eu vítima ou traidora, Ares esteja tão ansioso para nos empurrar uma guerra divina a todo custo?

Os presentes se entreolharam, alguns poucos murmúrios soaram em reconhecimento.

— Um conflito que, sem dúvidas, seria catastrófico para ambos os lados, independente dos vencedores — ela acrescentou, erguendo as sobrancelhas. — Será que não há um motivo por trás disso?

— Cale a boca — Ares chiou. Os olhos faiscando em vermelho.

Afrodite o ignorou e elevou a voz:

— Ares quer aproveitar a distração e vulnerabilidade de todos nós durante a guerra para matar Zeus e tomar o trono.

O burburinho recomeçou com força total. Os olimpianos se debruçavam sobre suas cadeiras para debater, as vozes cada vez mais exaltadas. Zeus se remexeu desconfortável em seu lugar antes de simular um assombro exagerado.

O deus da guerra deu um passo à frente.

— Ninguém vai acreditar em você — ele praticamente latiu para Afrodite. Seus ombros tremiam de fúria.

Em meio às conversas, uma voz soou mais alta.

— Eu vou — Perséfone declarou.

— Eu também — acrescentou Atena.

Outras vozes se juntaram ao coro. Hefesto. Hera.

Ares parecia prestes a entrar em combustão. Sua respiração estava rasa, os olhos injetados de fúria. O corpo irradiando energia escarlate. Ele cobriu a distância até Afrodite.

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