Capítulo XI

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Loki

A gargalhada estrondosa de meu irmão ecoou pelas paredes enquanto eu atravessava a porta da frente. Reprimi o impulso de revirar os olhos e estampei meu maior sorriso antes de entrar na sala de onde vinha sua voz grave e, ao mesmo tempo, escandalosa. Afrodite seguia em silêncio ao meu lado.

— Irmão! — abri os braços. — Que ótima surpresa!

Thor interrompeu sua animada conversa com um empregado, que saiu correndo, e me olhou com seus olhos azuis claros. Ele estava esparramado no sofá, com os pés sobre a mesinha de centro. Olhando rapidamente, poderia até ser confundido com uma versão marombeira de Baldur, não fosse pelos cabelos longos e o sempre presente ar de superioridade.

Ele se levantou, aproximou-se e me abraçou, batendo em minhas costas com um pouco mais de força do que eu julgava necessário. Quando soltou, segurou-me pelos ombros e olhou de mim para Afrodite com um sorriso pedante.

— Então é mesmo verdade — falou em tom conspiratório. — Você arrumou uma namorada!

— Eu o quê? — A voz saiu esganiçada de minha garganta e eu me desvencilhei das mãos de meu irmão com o rosto em brasa. — De onde você tirou isso?

De soslaio, vi Afrodite franzir o cenho, mas não consegui interpretar sua expressão. Thor cruzou os braços e inclinou a cabeça para o meu lado.

— Ora, não se fala de outra coisa em casa — disse em voz baixa. — Confesso que eu mesmo não acreditei, a princípio. Nunca tinha visto você passar mais de uma semana com o mesmo parceiro e tive que vir conferir pessoalmente.

Ele endireitou a postura e voltou-se em direção de Afrodite, falando com um sorriso cheio de insinuação:

— E agora sou obrigado a admitir que te entendo, irmão — olhou-a de cima a baixo sem censura. — Por uma coisinha dessas, acho que eu também sossegaria.

Tomei fôlego para responder, mas a voz de Afrodite cortou o ar como uma flecha.

— A coisinha tem nome e está bem aqui à sua frente.

Thor levantou as sobrancelhas, como se o fato de ela falar fosse realmente admirável. Tocou o peito como quem leva um tiro. Inclinou-se em uma espécie ridícula de reverência e tomou uma de suas mãos, beijando-lhe os nós dos dedos.

— Perdoe-me, senhorita — sorriu como um maldito príncipe. — Eu sou Thor, deus do trovão e herdeiro de Asgard. É um prazer conhecê-la.

Ela o encarou por um segundo, o lábio superior levemente erguido.

— Aham — resmungou, retraindo a mão e olhando para nós dois. — Vou descansar um pouco, se não se importam. Com licença.

Afrodite deu meia volta e saiu pisando duro em direção a seu quarto. Antes de desaparecer corredor adentro, pude vê-la limpando discretamente o dorso da mão na lateral de sua calça. Sorri contidamente, mas Thor pigarreou, chamando minha atenção de volta.

— O que é que você realmente quer aqui? — chiei.

Ele levantou os ombros e contorceu os lábios num sorriso.

— Não posso querer conhecer a namorada de meu irmão?

— Nós não estamos juntos — falei entredentes. — E você não desceria de Asgard só pra conferir as últimas fofocas.

Thor riu de forma vigorosa e caminhou para o outro lado da sala. Sentou-se na poltrona, colocou os cotovelos sobre os joelhos e uniu as mãos, olhando-me sob as espessas sobrancelhas.

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