Loki
O impacto contra o chão lançou uma descarga de dor pelas minhas costas e eu arquejei, sem conseguir me mover. O sol brilhava bem no meio do céu sem nuvens. Gungnir segura em minhas mãos. O torpor, entretanto, durou apenas um segundo, e eu me lancei para frente. Os olhos varrendo a varanda da casa de Creta em desespero.
Do outro lado, Afrodite também disparava em minha direção, o rosto lívido e o peito subindo e descendo com a respiração rasa. Larguei a lança sobre o gramado e nos encontramos no meio do caminho, meus braços estendidos para ela. Suas mãos envolveram meus ombros, seus olhos arregalados e aflitos.
— Você está bem? — falamos praticamente em uníssono.
Fiz que sim com a cabeça e pousei as mãos nos dois lados de seu rosto, insistindo:
— Não está machucada?
A queda não foi exatamente perigosa, já que não percorremos nenhum tipo de distância física. Mas um tombo inesperado poderia trazer consequências, principalmente para o corpo humano.
— Estou bem — ela murmurou.
Gastamos mais um momento nos inspecionando mutuamente, cada um absorto em suas próprias preocupações. Pouco a pouco, nossas respirações voltaram ao normal. Nossos olhares, enfim, se encontraram. Seu semblante sério e ainda apreensivo fez meu peito se contrair e eu corri o polegar por sua bochecha num afago não planejado que surpreendeu a nós dois.
Senti seu rosto enrijecer sob meu toque e um golpe de desconforto nos atingiu como uma onda. Afrodite se desvencilhou ressabiada e eu desviei o olhar, um silêncio carregado pairando entre nós.
Sem saber muito bem o que fazer, pigarrei e voltei em direção à Gungnir, resgatando-a de onde eu a havia esquecido na pressa para ter certeza de que Afrodite estava bem. Ela deve ter tomado isso como uma deixa. Quando me virei outra vez, ela já atravessava a porta com os passos apressados.
A casa estava silenciosa quando entrei e deixei a lança num canto. A sala continuava bagunçada, mas eu estava cansado demais para me preocupar. Todos os acontecimentos da manhã tinham me exaurido mentalmente. E ainda tínhamos um longo dia pela frente.
Afrodite surgiu vinda da cozinha, virando um copo d'água em goles fartos. Segui seu exemplo e conjurei um igual para mim. Sentamos em poltronas afastadas demais para parecer natural. Encarei o copo em minha mão por alguns instantes antes de limpar a garganta e perguntar:
— Então, como entramos no Olimpo?
O silêncio engasgado que se seguiu me fez virar o rosto para questioná-la outra vez, mas sua expressão mortificada olhando para o nada me calou. Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não emitiu nenhum som. O copo pareceu vacilar em suas mãos.
— Não sei — sua voz era um chiado rouco.
— O quê? — meus olhos se arregalaram.
Ela demorou a encontrar as palavras.
— Eu... Hera disse... Achei que Hera entraria em contato com instruções — olhou pra mim com o rosto lívido —, mas ela não apareceu, e não temos mais tempo.
Com o conselho de guerra acontecendo em menos de um dia, nós realmente não podíamos sentar e esperar o aparecimento milagroso de mais uma olimpiana.
— Você não consegue... — comecei a formular a pergunta, mas Afrodite interrompeu.
— Eu sou humana, Loki, nenhum mortal consegue entrar sem auxílio divino.
— E aquela sua amiga que me amarrou? — tentei reprimir uma careta.
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Dark Necessities
RomanceAfrodite é a deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade. Loki é o deus nórdico da trapaça e da enganação. Um não poderia ser mais diferente do outro. Porém, quando Afrodite se descobre sem poderes e banida do Olimpo nos dias atuais, Loki vê nel...