Afrodite
Senti como se eu fosse me desfazer em migalhas. A viagem através do espaço-tempo costumava ser um passeio tranquilo para o meu corpo de deusa. Agora, como mortal, ainda mais pegando carona na energia tempestuosa de Ares, eu estava enjoada e tonta. Levei alguns segundos até conseguir focalizar a visão.
— Onde estamos? — perguntei, analisando o interior da pequena cabana de madeira, o sangue gelando em minhas veias.
— No Monte Olimpo — Ares estava de costas, organizando alguma coisa sobre uma pequena mesa. Quando virou, encontrou minhas sobrancelhas unidas em confusão. — A montanha, não a morada dos deuses — explicou.
Caminhei apressada até uma das minúsculas janelas e olhei através do vidro. De fato, exceto por esse refúgio um pouco mais plano, uma trilha seguia íngreme, tanto para cima, quanto para baixo. Mesmo durante o verão, pequenos montes de neve se acumulavam nas depressões das pedras, e as nuvens baixas impediam a visão para além de alguns metros à frente.
— Por que estamos aqui? — questionei sem encará-lo. Temi que, se visse meu rosto, ele enxergaria a apreensão em meus olhos.
Por mais que Ares houvesse garantido que não pretendia me matar, eu não tinha confiança nenhuma em sua benevolência. Em meus plenos poderes, eu não temeria enfrentá-lo. Como mortal, era outra história.
— Você é humana, Afrodite, não consegue entrar no Olimpo — declarou categórico, todos os resquícios de romantismo esquecidos em Creta.
Pensei em Loki e minha garganta pareceu se fechar um pouco. Revi seu olhar assombrado e o manto de frieza que o cobriu depois. Eu sabia que o havia ferido. Se não seu coração, no mínimo, seu orgulho. Mas foi necessário, pela segurança dele e pela minha própria. Eu conhecia Ares o bastante para saber que se eles se enfrentassem ali, não seria uma briga estúpida entre irmãos. Alguém sairia morto. Sabendo disso, peguei todo e qualquer sentimento que pudesse existir em relação a Loki e guardei no fundo da minha alma, numa caixa minúscula e perigosa, como a de Pandora.
— Qual é o plano, então? — eu me virei de braços cruzados, a impaciência se sobrepujando ao receio.
— Muito simples: — e falou como se fosse a ideia mais revolucionária do universo — o Olimpo vai à guerra... e eu vou aproveitar a distração de Zeus para matá-lo e tomar o poder.
Homens e seus egos. Todos iguais.
Revirei os olhos e me joguei no pequeno sofá de couro no canto da parede.
— E então, quando você estiver no trono, vai devolver minha imortalidade — completei, já prevendo suas próximas palavras.
— Exatamente! — respondeu exultante, mas logo em seguida percebeu minha falta de entusiasmo. — O que foi? Achei que você estava com ódio de Zeus.
— E estou! — gesticulei irritada. — Mas achei que isso fosse sobre a minha imortalidade, não sobre você armando uma insurgência.
Ares sorriu pra mim. Um sorriso que eu já vira muitas vezes, e que antes costumava me deixar excitada. Dessa vez, me pareceu um mau presságio. Reprimi a contração dos ombros quando um calafrio percorreu minha espinha. Ele sentou ao meu lado no sofá e levantou meu queixo delicadamente, seus olhos dourados brilhando.
— Quem falou em insurgência? O Olimpo vai lutar como um só, eu apenas vou aproveitar a oportunidade para destronar Zeus.
— Contra quem vai ser a guerra, então? — indaguei estreitando os olhos, o coração disparando.
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Dark Necessities
RomanceAfrodite é a deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade. Loki é o deus nórdico da trapaça e da enganação. Um não poderia ser mais diferente do outro. Porém, quando Afrodite se descobre sem poderes e banida do Olimpo nos dias atuais, Loki vê nel...