Capítulo XVIII

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Afrodite

— Ele não vai vir, Persie — falei pela terceira vez em dez minutos, torcendo os dedos.

Depois de muita bajulação, Perséfone tinha, finalmente, conseguido uma audiência secreta com Zeus. E agora eu andava de um lado para o outro entre as colunas destruídas do antigo templo do deus do trovão, em Olímpia. A noite caíra há poucas horas e a brisa quente carregava o perfume das flores de camomila que se espalhavam pelas enormes ruínas.

— Ele vem — minha amiga retrucou com firmeza. — Você sabe como ele é.

Eu realmente sabia. Zeus demoraria o quanto quisesse, apenas para me mostrar que podia. Para me lembrar que ele era o imortal, e eu agora era a humana que implorava por seu favor, como outros tantos fizeram naquele mesmo lugar, há milhares de anos. Canalha arrogante.

— Mas eu preciso voltar antes que Ares... — sibilei em agonia, mas fui interrompida quando meu corpo começou a tremer.

Levei um segundo para entender que não era o meu corpo que tremia, mas toda a construção. Ao meu redor, as colunas arruinadas trepidavam e, aos poucos, começaram a se juntar com um ronco baixo. Rachaduras se selavam e pedra quebrada se reformava com estalos cada vez mais frequentes. Os pilares se ergueram gigantescos sobre mim, o mármore límpido e reluzente sob a lua.

À minha frente, a enorme estátua, há muito desaparecida, elevou-se quase até o teto. Ela mostrava Zeus em todo o seu esplendor, feito de ébano, ouro e marfim, sobre um trono de cedro. Seus olhos eram pedras preciosas que cintilavam sobrenaturais, e só a águia pousada no cetro à sua mão tinha duas vezes o meu tamanho. Não pude deixar de arregalar os olhos ao ver o templo reconstruído sob a perspectiva humana.

— Bom saber que você ainda demonstra o mínimo de respeito — a voz retumbou logo atrás de mim.

Contraí os ombros com o susto, mas virei-me lentamente, encarando-o com o rosto o mais neutro possível.

Zeus trajava uma túnica grega, o tecido drapeado pendendo de seus ombros largos e musculosos. Em sua cabeça, ao redor das grossas tranças, uma coroa de louros de prata brilhava como um relâmpago. Os ângulos fortes de seu rosto e a pele contrastavam com seus olhos completamente brancos, reluzindo como as pedras preciosas da estátua que o representava.

Ao seu lado, Hera resplandecia como um diamante. Os lábios grossos em uma linha sisuda e o olhar penetrante queimando sobre mim. Uma fina tiara prateada sobre os cabelos longos.

— Zeus — meneei a cabeça em um cumprimento. — Hera.

Perséfone me alcançou e posicionou-se ao meu lado.

— Obrigada por nos conceder esta audiência — minha amiga fez uma leve reverência, me dando uma bronca com os olhos.

— Considere isso como cortesia à esposa de meu irmão — ele respondeu a ela, mas seu olhar estava sobre mim.

Zeus me observou de cima, o escrutínio fazendo minhas bochechas arderem. Hera permanecia quieta, o olhar atento.

— Qual o propósito dessa reunião, afinal de contas? — ele continuou.

Não havia motivos para rodeios. Respirei fundo e falei com o tom grave:

— Ares quer tomar o seu trono.

Zeus inclinou a cabeça, como se não tivesse certeza do que tinha ouvido.

— Como é?!

— Ele quer a guerra apenas como um pretexto para te matar durante o caos e assumir o trono.

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