CAPÍTULO 08

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Gael Magnar

- Cento e dezoito, cento e dezenove, cento e vinte... - continuo contando baixo enquanto termino minhas flexões na varanda da cabana, isso depois dos meus alongamentos, caminhada, um mergulho na praia, uma corrida na areia até o povoado, ida e volta, e agora um pouco de abdominais, pela segunda vez no dia - cento e quarenta e cinco, cento e quarenta e seis...

Continuo contando, sentindo meu corpo pesado, cansado, mas ao mesmo tempo entediado. Era isso que se ganhava por passar tanto tempo sozinho, em completo silêncio, onde o tédio era minha maior companhia.

Como eu sentia falta de uma agitação, até de um carregamento errado de drogas, uma boa briga, bater ou torturar alguém, eu sentia falta até mesmo de dar uns tiros, e olha que armas de fogo nunca foram meu forte, preferia as facas, as adagas, algo que me fizesse olhar de perto para o meu alvo, e sentir o impacto da lâmina atravessando a sua carne, perfurando ele por dentro e logo depois ver o sangue jorrando pelo buraco que eu fiz, não uma bala. Armas de fogo era muito fácil, e covarde, você nem precisava olhar nos olhos do desgraçado para ver ele morrer, e eu só recorria a elas em última ocasião. Mas nos últimos tempos minha mão coçava para pegar uma, nem que fosse para atirar em árvores ou caçar, porém, eu não queria fazer isso, não queria abrir o cofre onde elas estavam e despertar meus demônios internos. Eles estavam muito bem adormecidos, e ninguém ia querer eles por perto agora.

- Duzentos e dois, duzentos e três... - minha contagem é interrompida pelo barulho de um carro vindo pela estrada de pedras e areia, e logo Thor e Pantera estavam agitados indo até ele, e quando vejo, nada mais é que o carro do Mike, outra vez.

Dou um salto para ficar em pé e pego uma toalha secando meu rosto, enquanto vejo o carro se aproximar.

O que ele queria pelo segundo dia seguido vindo até aqui?

Desde que eu lhe dei a brilhante ideia de cuidar dos projetos para mim, suas visitas começaram a ficar menos constantes, e ele chegava a passar dias sem aparecer ou dar qualquer sinal de vida, o que para mim foi um alívio, até certo ponto. Mas aqui estava ele outra vez. Ou não. Porque assim que o carro parou e a porta se abriu, vi por baixo da porta aberta um pé delicado e feminino, em uma daquelas sandálias baixas, tocar o cascalho, e logo depois a figura que apareceu me surpreendeu.

- Ah. Oi! Será que pode me ajudar aqui? - Mia falou enquanto eu permanecia parado a encarando com estranheza, mas logo me movi para ir até lá.

Quando me aproximei do carro percebi que meus cães a olhavam e abanavão seus rabos contentes, como se já a conhecessem.

Seus traidores. Eu os adotei para serem meus guardas, não as putinhas do primeiro que aparecesse por aqui. - raliei mentalmente para eles, e logo voltei para a garota que tirava um monte de sacolas do carro.

- O que faz aqui? - perguntei assim que ela se virou e enfiou todas aquelas sacolas nas minhas mãos.

- Vim te agradecer. - ela falou voltando para o carro tirando um embrulho que segurou com a palma das duas mãos, e assim que me afastei ela bateu a porta do carro com uma jogada de quadril. E aquilo foi estranho e engraçado, ainda mais para ela com aquele corpo tão pequeno e magrelo, junto daquele carro tão grande e rústico. - Me desculpe não aparecer antes, mas as crianças estavam tomando meu tempo, e só agora consegui fugir do projeto.

Eu a olhei se balançar, arrumando a alça da sua bolsa em seu ombro, enquanto tagarelava, e depois virou-se para os dois cachorros ao seu lado e abriu um largo sorriso ao falar com eles.

GANGUESTER. Missão Colombiana - O Jogo De Conquista.Onde histórias criam vida. Descubra agora