CAPÍTULO 06

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Gael Magnar

Para quem não gostava do mar, aprender a pescar em alto mar parecia até uma tortura, mas para mim foi como uma terapia. De tempos em tempos, me juntava ao Carlo e sua turma para tirar um dia na solidão que encontrava no meio daquele imensidão azul, apenas para pescar e ouvir as histórias daqueles pescadores.

Dentro de um velho barco, sendo cercado apenas pela água salgada, e com o sol escaldante em cima de nós, parecia que eu encontrava uma paz que não havia encontrado nem dentro da cabana no meio da mata. Talvez fosse a simplicidade do lugar, que era mais próximo da realidade que eu fui criado, ou a liberdade de saber que não havia ninguém por dezenas de quilômetros que pudesse me reconhecer. Mas era ali que eu conseguia colocar minha cabeça em ordem, e afastava as lembranças de um passado que não havia se apagado da minha mente.

E sempre depois de um dia de pescaria, nos juntava-mos na beira da praia, ascendíamos uma fogueira, e ali assava alguns peixes pescados no dia. Carlo contava mais algumas histórias, Berto reclamava de Carlo sempre contar as mesmas histórias, e Santino enchia sua cara de cerveja se divertindo com a discussão dos outros dois. Eles eram um trio divertido, e totalmente diferente de todos os homens que já havia conhecido.

Mas no meio da noite começo a ouvir o barulho de música alta, e percebo uma certa movimentação na rua a alguns metros atrás de nós.

- Que droga é essa que está acontecendo? - questiono já irritado com os barulhos da música misturado a risos e conversas que vinham da mesma direção.

- É uma festa do jovens naquele bar que abriu do outro lado da rua. - Berto responde terminando de comer o seu peixe com as mãos, e lambendo seus dedos logo em seguida.

Estreito meus olhos, vendo um grupo de adolescentes que claramente estavam bêbados perto da calçada.

- Em plena segunda? Por uma acaso essa cidade não tem polícia? - questiono vendo tamanha irresponsabilidade de tantos jovens embriagados.

Até parece que você nunca fez pior do que isso, não é Gael? - aquela maldita voz me lembra outra vez do meu passado, e eu inspiro irritado, porque já fui um jovem inconsequente como eles, e olha onde eu estava hoje.

- Deixe que eles se divirtam. São jovens. E você deveria ir lá também. - Carlo sugere me fazendo me virar de volta para ele e o encarar com uma cara que deixava claro que eu não faria isso de nenhum jeito.

- Eu iria, se fosse uns vinte anos mais jovens, e não tivesse Consuelo me esperando em casa com um cabo de vassoura. - Santino responde e eu decido ignorar aqueles velhos irritantes. Mas antes que eu pense em qualquer outra coisa, ouço o som de risadas mais próximo, e quando olho sobre meu ombro, vejo as três amigas do Mike na calçada na beira da praia, rindo alto, e percebo que elas parecem estar alcoolizadas.

Me viro um pouco para ver elas melhor, e então vejo quando Ximena e Safira se despedem de Mia que está rindo e acena para as amigas cambaleando e vindo em direção a areia.

Garota estúpida!

Mas enquanto a vejo andar trançando as pernas pela areia, usando um vestido azul claro e seus calçados na mão, meu alerta se acende assim que ela senta na areia, e por trás dela vejo o mesmo homem da noite do baile, parado do outro lado da rua, recostado em um carro enquanto conversa com um outro homem.

GANGUESTER. Missão Colombiana - O Jogo De Conquista.Onde histórias criam vida. Descubra agora