CAPÍTULO 22

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Maria Valentina Guzmán

Ainda sinto aquela adrenalina correndo em meu corpo. Minhas mãos estão trêmulas e sinto meu estômago se embrulhar. Mas seguro firme o volante, e quando uma lágrima corre em meu rosto, eu a seco com o dorso da minha mão que rapidamente volto para o volante, tentando manter o carro sobre controle assim como estou tentando fazer comigo mesma.

Eu odiava minhas brigas com Romero Dias, meu padrinho. Sim, Romero meu padrinho e tutor, não apenas meu tio como ele se dizia para todos. E nós dois não nos dávamos tão bem, mas ele me forçava a parecer que sim.

Quando meus pais morreram quando eu tinha apenas onze anos, fui deixada nas mãos dos meus únicos parentes vivos, meus padrinhos. Eu e toda minha herança, e tudo mais o que vinha com ela. E isso se tornou um karma para mim, pois eu não conseguia olhar para ele sem sentir aquela náusea que me forçava a quase vomitar a bile em meu estômago.

E foi por isso que minha tia me levou com ela para o outro lado do país. Para bem longe de Romero Dias e tudo o que ele representava, e as lembranças que ele acionava em minha mente.

Vivi anos longe dessa cidade. Longe desse lado da família. Longe dessas lembranças loucas que levei anos para dominar dentro de mim, e com muitos anos de terapia descobri que poderia um dia superar. Mas voltar para cá estava sendo cada dia mais difícil.

Claro que eu vim com um novo objetivo, com um novo propósito, afim de reconstruir minha vida e superar todos meus medos. Mas jamais pensei que seria como estava sendo. Jamais imaginei que encontraria pessoas que me faziam questionar a mim mesma, e era para uma dessas pessoas que eu estava indo agora.

Estaciono o carro que eu havia comprado mais cedo, próximo a uma camionete preta toda imponente, a qual deixa o Porsche ainda menor ao lado dele, e saio afundando meus saltos finos sobre as pedras, até apressar meus passos assim que alcanço a varanda. E então corro até a porta, sentindo meus batimentos acelerados, meu corpo tremendo e meu choro preso em minha garganta.

Mas antes que alcance a porta e bata na madeira, ela se abre e vejo Gael me olhar confuso, ainda usando a mesma calça que ele usou no baile, mas seu peito está nu, expondo os lindos desenhos dos seus músculos.

- Mia? - sua voz soa confusa, mas eu não queria explicar nada agora, eu só queria ficar perto dele. Então me jogo contra ele, e agarrando seu pescoço me estico sobre meus saltos, puxando seu corpo mais para baixo, para que alcance seu rosto, então o beijo de forma desesperada e faminta, enquanto meu coração parece bater mais forte.

Gael corresponde ao meu beijo, mas leva algum tempo para me acompanhar. Mas logo ele me puxa para dentro, e depois de bater a porta atrás de nós, me puxa para seu colo, e eu entrelaço minhas pernas em sua cintura, enquanto minhas mãos se afundam em seus longos cabelos macios e cheirosos.

Desde o momento que eu o vi pela primeira vez, eu soube que esse homem seria minha ruína, mas também, que só ele poderia me salvar de mim mesma. Por isso o quis, e quis ter ele perto de mim, eu precisava de uma âncora para me agarrar caso minha mente se perdesse. E o Gael era essa âncora, mesmo parecendo que ele mesmo estava perdido, tentando manter todos a uma distância segura dele, eu queria ser essa solitude que ele vivia.

Gael nos leva até o sofá, e quando sentasse sobre ele, comigo em seu colo, sinto sua mão grande e forte segurar meu rosto, e ele se afasta para me encarar e me analisar. E é então que me dou conta de que lágrimas rolavam espontâneas em meu rosto, e um vinco se  formou entre suas sobrancelhas.

- Por mais que eu tenha adorado essa surpresa, preciso saber o que está acontecendo.

Aceno para ele secando minhas lágrimas com minhas duas mãos.

GANGUESTER. Missão Colombiana - O Jogo De Conquista.Onde histórias criam vida. Descubra agora