Maria Valentina Guzmán
- Eles chegaram. - por sua voz meu pai parece nervosos. Jamais havia visto ele transparecer seu nervosismo tão claramente, mas minha mãe parece calma e confiante, quando sussurra algo para ele, algo que não posso ouvir.
Mas assim que eles olham para o lado do corredor e me vêem parada na porta que levava até a sala, os dois soltam suas mãos que estão juntas entre eles, e minha mãe é a primeira a me dar um sorriso doce e delicado. Mas por algum motivo eu sentia que havia algo muito errado em tudo aquilo, e eles estavam apenas tentando me esconder algo.
- Querida, você deveria estar em sua cama. - mamãe fala com um tom angelical enquanto estou com a boneca que ganhei no meu último aniversário pendurada em minha mão.
Não, eu não tinha mais idade para brincar de boneca. As meninas da minha escola nem colecionavão mais objetos infantis, mas eu sempre fui a mais infantil entre todas elas, e não me importava com isso.
- Quem chegou? Vamos ter visita essa hora? - pergunto movida por minha curiosidade, pois já era tarde da noite, e isso faz meu pai se afastar da minha mãe vindo até mim, e se abaixar para ficar a altura dos meus olhos. E foi ali que eu tive certeza que havia algo muito erradacontecendo. Meu pai só me encarava com aquele olhar, quando sua preocupação beirava o medo, e meu pai com medo era uma novidade.
- São apenas os amigos do papai. E você deve ficar no seu quarto, independente do que ouça, não saia de lá até que alguém vá lhe buscar. Você me entendeu?
Aceno que sim, concordando com ele, pois eu sempre fazia o que eles mandavam em casos como esse. E assim sinto o toque quente dos dedos do meu pai passar sobre o pingente em forma de coração que estava na gargantilha em meu pescoço, onde guardava uma foto de nós três em uma de nossas viagens pela Colômbia.
- Guarde nosso coração e o entregue a sua tia, apenas a ela, se algo der errado. Seu padrinho irá levar você, então seja uma boa menina.
Aquelas palavras fazem o coração dentro do meu peito se apertar, e por instinto, seguro sua mão antes que ela solte meu pingente.
- Nada vai acontecer. Eles são amigos, não são, mamãe? - meus olhos para a mulher mais linda que já vi em toda minha vida, que surge logo atrás de seu marido, a qual sorri para mim e repousa sua mão sobre o ombro dele.
- Sim, minha filha. Eles são nossos amigos. E logo eles irão embora e nós vamos lhe dar um beijo de boa noite antes de dormir.
O problema foi que eu não ganhei esse beijo de boa noite. Pois, enquanto eu estava em meu quarto, sentada na ponta da minha cama, ouvi aquelas vozes tão familiares que me lembravam momentos felizes em nossa casa, vozes que cantaram o meu último parabéns, vozes que riam e sorriam com meus pais em momentos íntimos dentro da nossa casa, mas as quais hoje falavam duramente. Ouvi os estrondos de coisas se quebrando e vozes alteradas de quem eu não esperava algo assim, e quando minha curiosidade me moveu, ela me levou pelo corredor escuro, até que eu estivesse atras da cômoda de madeira, onde eu sempre me escondia para ouvir as conversas que eu não deveria.
E foi ali, sentada no meu refúgio desde minha infância, que ouvi os tiros silenciosos que se sucederam, me fazendo tampar minha boca para reprimir meu grito, enquanto meu corpo se encolhia e meus olhos se enchiam de lágrimas que rolaram silenciosamente.
Com um salto me sento na cama, soluçando em meio as lágrimas, e quase como um instinto levo minha mão até meu peito, onde o colar deveria estar, mas não o sinto mais. A única coisa que consegui sentir são meus batimentos acelerados e minha respiração ofegante por tanto chorar. O barulho dos tiros ainda ecoava em minha mente, como se fosse real, e eles eram. Para mim ainda eram.
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GANGUESTER. Missão Colombiana - O Jogo De Conquista.
RomansaRecomeçar. Esse é o maior desafio que Andrej Morris terá que enfrentar. Recomeçar bem longe de tudo o que um dia foi a sua vida, e esquecer seu grande amor. Mas será que isso é uma tarefa fácil para um criminoso procurado, ex-aliado de mafiosos pode...