Aprofundando

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Como não iríamos a lugar nenhum, resolvi que jeans, tênis e um body seriam suficientes.
Meus pais estavam na cozinha e minha mãe ria apoiada na ilha enquanto meu pai tinha os olhos cerrados e uma falsa expressão de mágoa.

"o que aconteceu aqui? Por que o cheiro estranho?" – minha pergunta fez minha mãe rir mais. As bochechas dela estavam vermelhas e ela teve que limpar lágrimas

"seu pai aqueceu o forno para colocar o macarrão com queijo para derreter e não olhou se tinha alguma coisa já dentro. Resultado, vamos comer macarrão com queijo e papelão" – ela diz e aponta para a travessa com o papelão derretido em cima e eu não consegui segurar a risada também

"por que eu imaginaria que tinha alguma coisa no forno?" – ele se explica e minha mãe se levanta pra abraça-lo enquanto ainda ria

"desculpa, amor, eu deveria ter avisado" – ele não conseguia resistir a ela. Nunca conseguiu.

"tudo bem" – ele cede e circula a cintura da minha mãe com os braços e deposita ali um beijo em sua testa

"e afinal de contas, porque tinha papelão no forno?" – pergunto pegando um copo de água da geladeira e tomando um gole longo do líquido resfriado.

"era um bolo que tinha dentro, queria fazer uma surpresa, mas como sempre, seu pai ama estragar minhas surpresas" – ela resmunga com falsa mágoa e meu pai aperta ela fazendo cócegas em sua barriga tirando uma gargalhada dela.

"não faço por querer, talvez você só esteja com má sorte todas as vezes que escolhe fazer uma surpresa... e por que queria fazer uma surpresa?" – meu pai pergunta tão intrigado quanto eu estava

"assunto para outro momento, Alexa, sai de casa, você tem um encontro" – entre risadas e despedidas, eu acato sua ordem e pego minha bolsa, indo em direção a uma noite que pode ou não ser uma das mais importantes do meu relacionamento novinho em folha.

                                                                                ***

O prédio era muito perto da Cross Industries, por isso era na melhor parte da cidade e completamente maravilhoso.
Assim que me viu, o porteiro liberou minha entrada e me levou até o apartamento na cobertura que, é claro, tinha seu próprio elevador particular.
Antes de sair, dei uma conferida básica na maquiagem e no cabelo tendo completa certeza que estava tudo em ordem e assim que as portas de metal se abriram, consegui ver sua porta entreaberta.
Pensando que estava tudo certo, entrei, andei alguns passos e então ao som de vozes irritadas eu parei, perto do que parecia ser o escritório em um corredor com piso que imitava madeira escuro assim como era o resto da casa por onde pude perceber.
As vozes passavam uma por cima da outra. Max estava irritado, dava pra sentir a quilômetros de distância, mas aquele tipo de fúria era algo novo que eu nunca tinha nem pensado que poderia emanar dele.
Por mera e pura curiosidade, eu dei mais dois passos para perto da porta.

"para que ainda se incomoda em vir aqui? Por que só não nos faz a porra de um favor e esquece que um dia eu sai de dentro de você?" – ele quase grita, a voz ecoa pelo apartamento vazio. Ira pura e animalesca. Ódio em cada palavra.

"porque eu fiz uma porra de promessa que não deixaria o mimadinho estragar a empresa que seu avo trabalhou tanto para conseguir fundar" – a voz era amarga e eu não queria acreditar que aquela era mãe dele nem por um só segundo.

"meu deus do céu, eu também fiz essa merda de promessa. Duas vezes inclusive. Então por favor dá o fora da minha casa, dá o fora da minha vida e só mostra sua cara para mim de novo quando estiver num caixão cercada da porra do meu dinheiro que sustenta esse seu traseiro chique" – houve silencio por um tempo. Depois algumas palavras foram murmuradas e a porta do escritório se abriu, me dando tempo o suficiente para me esconder nas sombras e esperar até ouvir o elevador fechar.
Com passos lentos e cuidadosos eu andei até a porta aberta do escritório para achar um Max completamente vulnerável e pequeno apesar de todo o porte físico e a personalidade indestrutível.
E foi ali que eu percebi que ele, em muitas formas, era ainda um garotinho assustado que não tinha o mínimo de amor e estrutura crescendo para ser algo que nunca desejou ser.
Meu coração ardeu com a visão que eu estava tendo e ele levantou o olhar azulado encontrando o meu e não sei dizer por quanto tempo ficamos ali até ele abrir a boca. A voz agora calma e serena, porém, cheia de sentimentos, remorso e coisas não ditas.

"não era para ter ouvido nada daquilo, me desculpa" – nego com a cabeça

"nunca se desculpe por me deixar ver as verdades ao seu redor. Não importa o quanto elas sejam feias e vergonhosas" – ele solta um suspiro cansado, exausto, na verdade e tentar forçar um sorriso pelo bem da nossa noite

"estou feliz por vê-la. Pela demora em responder a mensagem, pensei que tinha te assustado" – ah e você não faz ideia do quanto, eu queria responder. Mas me contentei em não adicionar nada a pilha que ele estava

"fui criada por uma atriz de Hollywood, não me assusto fácil. Vai precisar de mais do que isso." – Ele sorri de verdade dessa vez e tomo minha vitória, por menor que ela seja.

"bom, o que podemos fazer? Sua escolha" – paro para pensar um pouco até que me vem a mente o programa perfeito para tirar o restante do clima pesado que ainda estava no ar

"qual melhor restaurante mexicano aqui perto?"

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