As piores horas

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  Henry não protestou quando disse a ele que ficasse em casa. Mandei-o deixar o celular ligado e sempre por perto para mandar notícias sempre que pudesse.
Ele parecia tão em choque quanto eu estava.
Meu irmão era um homenzinho muito corajoso, não fugia de nada, nenhum desafio, nunca reclamava de experimentar coisas e lugares novos. Era muito raro alguma coisa deixa-lo no automático e completamente assustado ao ponto de ele não conseguir nem falar direito.
Antes de sair de casa, depois de ter trocado de roupa, me sentei no sofá onde ele estava encarando a parede e trouxe seu queixo até mim para fixar seus olhos lindos e tão iguais os da minha mãe, nos meus.

"não importa o que aconteça... eu te amo, papai te ama e a mamãe te ama mais ainda. Você sempre precisa saber disso." – Ele desvia o olhar

"eu sei, ela já me disse. Falou também que se alguma coisa acontecer com ela, não vou precisar ser o homem da casa mesmo que o papai estiver quebrado" – ele solta um suspiro. Minha garganta fecha e reprimo as lágrimas. – "Fala que eu amo ela também e que amo nossa irmãzinha. Ela vai ser nossa princesa." – Sorrio com isso. Ela definitivamente seria uma princesa na nossa casa.
Uma princesa guerreira.
Com um beijo e um abraço apertado em Henry, eu dirijo até o hospital usando o caminho para respirar e conter as emoções que estariam todas descontroladas no segundo que colocasse os olhos nos meus pais.
O hospital era enorme. Uma ala especial da maternidade já estava cheia de pessoas em volta, todas com seus próprios bebes para pensarem sobre.
Todos alheios ao que acontecia em uma daquelas salas de parto.
Com os passos apressados, passei pela recepção e dei a moça meu nome e o nome da minha mãe.
Segui as instruções que ela me passou e apertei o passo para o elevador até chegar ao andar que minha mãe estava.
Andei devagar demais quando cheguei no corredor certo. Eu não queria ver o que estava acontecendo, mas queria saber ao mesmo tempo.
Minhas palmas estavam suadas e tremendo e eu queria muito chorar.
Respiro fundo.
Uma vez, duas, três vezes e ando até o quarto.
Bato de leve na porta que depois de alguns segundos é aberta pelo meu pai.
Paro um segundo até absorver a imagem dele. Cansado, olheiras começando a aparecer e os olhos meio vermelhos.

"pode entrar, vai lá" – ele diz com a voz fraca me dando espaço para entrar e ver o quarto todo.
Era exatamente igual todos os outros quartos de uma maternidade luxuosa. Espaçoso, com cama, banheiro, hidromassagem e algumas outras coisas que eu não sabia o que eram.
Meus olhos pousam na mulher deitada na cama com uma roupa típica de hospital, as mãos na barriga acariciando com tanto carinho, tanto amor. Nas costas de uma das mãos a intravenosa estava colada com uma fita e o bipe da máquina era calmo.
Me assustava ainda mais saber que minha mãe não estava com medo igual nós estávamos.
Ela parecia pronta pra batalha, mas conformada se não sobrevivesse a ela.
Seus olhos se voltam para mim e apenas nos encaramos por uns segundos dizendo tudo sem precisar falar em voz alta.
Com apenas um aceno de cabeça dela, eu quase corro para o lado da cama me sentindo como uma garotinha assustada.

"seu pai te assustou, sabia que faria isso" – ela diz com a mesma voz calma e doce de sempre. A mesma que me confortou quando tive pesadelos, quando precisei de um conselho e quando estava assustada demais para fazer alguma coisa, sempre me encorajou a ir e tentar.

"ele só disse a verdade" – sussurrei de volta. Uma das suas mãos passam pelo meu cabelo.
Ela estava tremendo

"isso é efeito da anestesia" – ela diz lendo minha mente. Sua testa se franze e ela respira fundo por alguns segundos – "não doem como antes, mas com certeza ainda sinto" – ela diz com uma risada fraca.
Seus olhos me escaneiam com cuidado.

"não me olha desse jeito, me deixa ficar com medo" – resmungo tirando-lhe outra risada

"eu sei que não é ideal e que nós nunca pensamos que isso aconteceria de novo, mas..." – ela sorri. Eu sorrio junto – "foram alguns dos melhores meses da minha vida apesar de todos os riscos. Mas não só pela gravidez. Pude ver você se apaixonando cada dia mais pelo Max e pude ver Henry encontrando finalmente algo que ele ama mais do que vídeo game e aqueles aviões" – ela suspira e franze a testa de novo – "se alguma coisa acontecer comigo, eu já vou ter vivido tudo e muito mais do que sonhei" – fecho os olhos diante daquela frase e balanço a cabeça

Bright Side (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora