Emergencia

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-Duas Semanas depois –

Meus dias se resumem na mesma rotina. Trabalho das oito as seis e meia, as vezes um pouco mais e venho para casa tirar dúvidas com meu pai e passar meu tempo livre com minha família.
Eu sei que não estava agindo igual, com a mesma alegria de sempre. Eu nem me sentia igual. Apesar de todo meu sucesso no trabalho, sentia aquele buraco no meu peito se expandindo em falta dele. Passei de ódio a melancolia e de volta ao ódio até que achava melhor focar em outras coisas ao invés da falta que ele fazia.
Querendo ou não foram nove meses vendo e estando com ele quase todos os dias. Me acostumei a uma certa rotina, a um certo conforto depois de chegar exausta do trabalho. Me acostumei com um tipo diferente de porto seguro.
Eu o tinha só para mim, me fazendo rir, e me aguentando mesmo quando queria gritar e matar ele por causa da minha TPM ou um péssimo dia no trabalho em que tudo deu errado.
Passei por momentos bons, momentos ruins ao lado dele, aprendi a lidar com seu jeito e aprendi suas manias. Aprendi a amar cada um dos defeitos, falhas e qualidades. Tudo fazia dele ele mesmo.
Tudo fazia dele o homem por quem me apaixonei perdidamente por nove meses até ele simplesmente decidir que não queria mais.
E quando pensava nisso ficava muito, muito furiosa.
Porém com tudo isso passando pela minha cabeça, ainda conseguia manter minha mente ocupada com o trabalho e com minha mãe na reta final da gravidez e o parto cada vez mais próximo.
Já estava tudo prontinho para nossa pequena princesa chegar e mal podíamos esperar para conhece-la.
Enquanto estava na minha sala trabalhando com alguns documentos no computador, meu celular toca.
As mensagens não tinham parado de chegar, mas achava que eram só besteiras até atender a ligação com a voz preocupada e tremula do meu pai no outro lado da linha:

"pai? O que aconteceu?" – meu coração estava tão acelerado que eu tinha certeza que sairia pela boca.

"as contrações ficaram mais ritmadas, só que tem sangue junto com o líquido da bolsa que estourou, estamos indo ao hospital agora. Henry está no treino de basquete, sai as três e meia, pode busca-lo para mim?" – agindo completamente no automático, salvei os arquivos, desliguei o computador e reuni minhas coisas espalhadas na mesa colocando meus itens pessoais dentro da minha bolsa e já me levantando

"levo ele ao hospital comigo, ou deixo em casa com a Lou?" – Louise era uma das nossas diaristas da semana, ela estava em casa e devia saber da situação que estava acontecendo.

"deixa ele em casa, vem sozinha" – conseguia capitar a ansiedade e o medo nas suas palavras. Medo de perder mais do que todos nós conseguiríamos suportar.
Na gravidez, tiveram seus momentos de medo que ficamos todos preocupados e cercando minha mãe perguntando se estava tudo bem.
Porém, nada se comparava a esse momento, o momento da verdade em que saberíamos se tudo ficaria bem ou não.
Segundo os médicos da minha mãe, as chances dela de conseguir um parto normal saudável em que ambos mãe e bebe saíssem bem e com vida eram perto de 0. Então optamos pela Cesária que não era menos perigosa, mas as chances de dar tudo certo eram maiores.
Não vi quando sai do meu escritório quase tropeçando nos meus saltos e segui pelo corredor em direção ao elevador que levava direito ao térreo e o estacionamento onde meu carro estava esperando.
Tinha certeza que estava tremendo. Nada mais importava do que a segurança da minha mãe e da minha irmãzinha.
Elas tinham que ficar bem.
Nossa família tinha que ficar bem.
As portas de metal se abrem e antes de dar um passo sequer para fora, dou de cara com ele.
Maxwell.
A menos de cinco metros longe de mim, ele vinha andando, mas também parou quando me viu ali dentro olhando como se fosse a primeira vez que nos víamos e só agora eu percebia o quanto ele era lindo.
Dolorosamente lindo.
E costumava ser todo meu.
Eu não tinha tempo para pensar essas coisas, não hoje, não com tudo acontecendo na minha vida tão mais importante que ficar de luto pelo meu relacionamento perdido.
Ele deve ter notado que eu não estava bem, porque assim que me olhou inteira, percebeu as mãos apertadas nos meus braços e minhas unhas quase fincadas no meu cotovelo.

"Alexa..." – o sussurro do meu nome em sua voz grossa me fazia querer correr para os seus braços e pedir a ele para ficar comigo e não me deixar passar por uma coisa dessas sozinha. Me fazia querer ele de volta e pedi-lo pra ser meu ponto de paz de novo.
Pedir para ele pegar minha mão e me guiar exatamente como fez quando soube da gravidez pela primeira vez e me senti tão assustada e tão perdida.
Eu me sentia da mesma forma agora e queria seus braços como meu conforto.

"desculpa, não posso fazer isso agora" – minha voz não parecia ser minha. Forcei minhas pernas se moverem e andei até onde meu carro estava vendo que até quando sai do estacionamento, Max estava parado exatamente do mesmo jeito que o encontrei.


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