Hipoteticamente

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Acabei dormindo no meu quarto na casa dos meus pais mesmo e tive que vestir qualquer roupa que encontrei no meu closet que não fosse um short ou um cropped que tinha deixado aqui.
Acabei optando por algo mais simples do que os vestidos e as saias que normalmente uso e colocando uma calça jeans com uma blusa de maga comprida e pegando uma sandália de salto emprestado com a minha mãe junto com algumas maquiagens.
Sentar na mesa com todos eles, fora uma coisa que eu senti muita falta. Minhas refeições normalmente eram feitas junto com meu cachorrinho ao meu lado me fazendo companhia, então finalmente ter minhas manhãs agitadas em casa com meus pais e um Henry mal humorado por ter que levantar cedo demais e ir à escola era a melhor coisa do mundo para mim.

"espero que veja o quanto é gostoso ter todo mundo de volta com você e resolva voltar para casa" – minha mãe diz enquanto bebia um copo de vitamina ainda vestida com a calça legging e o top preto em que treinou mais cedo.

"não chantageie a menina, ela precisa tomar as próprias decisões. Se acha que sair de casa vai ajudá-la de alguma forma positiva, faça sem se sentir culpada" – meu pai diz largando o tablet em cima da mesa ao lado do prato

"no começo eu achei que sim..., mas, não sei se agora tenho tanta certeza" – murmuro enquanto mexo o conteúdo em minha xícara pensando longe.
No começo eu talvez tenha ficado animada demais com essa coisa toda de emprego novo e eu finalmente crescendo um pouco mais. Achei que morar sozinha fosse um passo necessário que tinha que tomar, mas depois de algumas semanas somente eu e meu ursinho, minhas ideias estavam começando a mudar.
Eu queria minha família maluca de volta comigo todos os dias.

"okay, o que acha disso: você volta a morar com a gente, mas mantém seu apartamento mesmo assim. Quando realmente se sentir pronta para dar esse passo, nenhum de nós aqui vai reclamar" – nós todos levantamos uma sobrancelha para ela. Inclusive Henry.
Minha mãe revirou os olhos verdes

"por que me crucificam tanto por ser uma mamãe ursa?" – ela resmunga trazendo o copo na boca e tomando um gole ainda com o cenho franzido.

"eu adorei a ideia" – digo sinceramente entre um sorriso.
Meu pai me dá um aceno de cabeça e uma piscadinha que eu sabia muito bem que significava o quanto ele estava feliz de me ter de volta

"finalmente vou ter meu cachorro de volta" – ele diz comemorando e eu abro a boca em uma falsa indignação

"ama mais o Max do que eu, seu pestinha?" – pergunto jogando meu guardanapo nele que pega no ar e dá uma risada gostosa

"é, vocês dois competem um com o outro" – balanço a cabeça e antes que ele pudesse correr começo um ataque de cócegas nele aumentando sua risada

"okay, vocês dois, Henry, mochila, já está na hora" – libero ele e mostro língua enquanto ele andava meio correndo com medo de pega-lo de novo.
Quando me viro minha mãe tinha um sorriso enorme no rosto que fez ficar impossível não sorrir também.
Ela era pura alegria maternal.

"tenho meus nenéns de volta" – dou uma risada e balanço a cabeça mordendo de leve meu lábio também me sentindo muito mais leve e muito mais feliz depois de uma boa e velha manhã com a minha família maluca.

-Alguns Dias Depois (POV Maxwell Cross) –

De alguma forma ela estava mais linda de alguns dias para cá do que antes.
Não sabia dizer o que era, mas algo em sua expressão, o jeito de agir, absolutamente tudo nela parecia mais leve.
Seu sorriso parecia mais sincero, sua risada mais genuína e o brilho em seus olhos, muito mais forte do que o de costume.
Isso tudo me fazia encara-la em reuniões por um tempo um pouco maior, e se me perguntasse metade das coisas que foram discutidas eu não me lembro de nenhuma delas. Minha atenção estava completamente na loira dos olhos azuis e verde que mordia a caneta quando estava concentrada e que mexia nas unhas enquanto lia alguma coisa.
Eu sabia que ela tinha notado minha, como vamos dizer, fascinação em crescimento por ela mais do que no começo, porque as vezes ela sentia que estava sendo observada e era só olhar na minha direção para descobrir de onde o olhar estava vindo.
Sempre fui um homem ligado ao físico.
Não sou bom com emoções, não sei lidar com elas, nunca aprendi com ninguém e honestamente, depois de um tempo, não precisei mais aprender. Tinha descoberto o segredo.
Nunca me apegar.
Nunca ficar por perto a tempo de me apaixonar ou ainda pior... de amar alguém.
Sempre fui ótimo em fazer isso, em fugir quando começava a ficar demais. Para alguns pode ser uma vergonha dizer que aos trinta e um anos nunca tinha se apaixonado, mas para mim, isso era uma bela de uma vantagem, uma das minhas maiores vitórias.
Não posso dizer que já senti vontade de saber como é amar alguém. Nunca tive ninguém me amando de verdade, então, não tenho como saber qual é a sensação.
Alexa sempre soube como é ser amada.
Pela mãe, pelo pai, pelo irmão, pelos avós, por pessoas ao redor do mundo.
E certamente ela sabia como era amar outra pessoa. Realmente amar outra pessoa. Sentir isso e poder falar sem medo.
E agora olhando para ela do outro lado da mesa da minha sala de conferencia, concentrada em alguns slides que estava me preparando...
Algo nela me chamava...
Algo além do físico que sempre me atraiu antes.
Eu não fazia ideia o que era. Não saberia explicar se me perguntassem.
Alguma coisa lá no fundo, uma vozinha distante na minha cabeça que nunca tinha ouvido antes, me alertava, gritava para eu tomar uma atitude e pedir a ela um encontro. Uma oportunidade.
Eu tinha que saber como era estar com ela fora do trabalho, ver quem ela era sem essa máscara profissional. Conhecer a Alexa, garota prodígio de 22 anos que por acaso era a mulher mais bonita que já tinha cruzado meu caminho.

"escutou alguma coisa do que disse nos últimos cinco minutos?" – acordo com sua voz doce, porém firme enquanto me encarava com a cabeça um pouco entortada para o lado e o cenho adoravelmente franzido.
Pois é... agora eu acho uma mulher adorável.

"me desculpe. Tenho pensado bastante nesses últimos dias" – me desculpo e ela continua encarando por uns segundos

"quer compartilhar?" – ela pergunta de repente me surpreendendo.

"sério?" – ela dá de ombros

"talvez eu possa ajudar" – mordisco o lábio de leve agora pela primeira vez não sabendo muito bem o que dizer em seguida

"o que diria se eu contasse que estou pensando sobre você?" – ela me encara por alguns segundos sem desviar os olhos lindos dos meus. O foco em meu rosto.

"diria para ser honesto comigo. Me contar o que está pensando sobre mim" – ela cruza os braços e os apoia na mesa quebrando o olhar brevemente.

"se eu respondesse que quero sair com você... qual, hipoteticamente, seria sua resposta?" – agora um pequeno sorriso aprece em seus lábios vermelhos e ela desvia o olhar para a janela onde conseguíamos ver a cidade se agitando lá embaixo com a chegada das seis da tarde, os carros já passando nas ruas, as pessoas saído dos prédios ávidas para chegar em casa e descansar depois de um longo dia.
Depois de cinco segundos contados, ela se vira para mim de novo e com um sorrisinho que poderia ser malvado ou só absurdamente sexy, ela se levanta.

"eu diria que estou livre amanhã a partir das sete da noite... hipoteticamente" – meu sorriso apareceu enquanto ela juntava alguns papéis e o leptop.

"te vejo as sete e meia" – ela continua com o mesmo sorriso no rosto e vira as costas saindo da sala e levando junto consigo todo o folego que tinha nos meus pulmões.
Porém ela nunca saberia o quanto sem fazer simplesmente nada, já me tinha completamente na palma da mão. 

Bright Side (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora