Encontro no elevador

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-POV Alexa Blackwell –

Como todos outros dias, preciso começar com yoga. É diferente do que estou acostumando, vendo que estou sozinha em um apartamento basicamente vazio e sem a minha mãe do meu lado como de costume.
As manhãs sempre foram nossas. Nós duas amamos isso. Minha mãe sempre diz que quando estou com meu pai ele tem todo o resto do dia dele comigo, mas as manhãs são minha e dela para fazermos uma seção de yoga, conversar sobre tudo e nada e comer alguma coisa gostosa.
Vou morrer de saudade dessas pequenas coisas que tive por tantos anos e agora não tenho mais, mas como minha mãe mesmo disse "algumas coisas precisam ser sacrificadas por um bem maior. Igual minha sanidade foi sacrificada quando me casei com seu pai". Claro que essa frase terminou em um beijo dos dois e eu e Henry soltando um "eca!" cada um. Essa era outra coisa que iria sentir muita saudade, ver o amor dos meus pais e zombar dele com meu irmãozinho.
Max solta um latido. Olho para baixo onde ele estava sentado e me olhava com a língua para fora e uma carinha linda de morrer.
Eu amo esse cachorro, sério.

"também sente falta do pestinha com você o tempo todo, não sente?" – outro latido – "é eu sei, vocês eram muito amigos" – me abaixo nos saltos e passo os dedos pela cabecinha peluda dele – "logo eles aparecem por aí, não conseguem ficar muito tempo longe, você vai ver" – ele solta mais um latido e eu sorrio me colocando de pé novamente.
Quando olho o relógio do meu celular, marcava exatamente oito e meia. Estava na hora de ir, de começar um novo capítulo na minha vida.
Respiro fundo algumas vezes, pego minha bolsa do sofá recém montado e jogo um beijo para o meu peludinho.

"me deseje sorte bebe" – ele late em resposta e eu saio de casa sorrindo.

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O prédio da BWI ainda era tão grandioso e luxuoso quanto eu sempre achei. Nunca perdia a graça entrar por essas portas de vidro e andar até os elevadores cumprimentando todo mundo no caminho.
Quando cheguei, os seguranças me cumprimentaram com um aceno de cabeça que foi retribuído com um sorriso da minha parte. Todos aqui sabiam quem eu era, não tinha como não saber. Além de ser a filha do chefe, trabalho aqui desde os dezessete anos como estagiária.
Alguns visitantes ainda arregalavam os olhos por me ver ali as vezes. Por incrível que pareça, ainda sou parada na rua para tirar fotos com pessoas que me reconhecem do filme que fiz com minha mãe quando era bem pequena. Me lembro bastante da experiencia, porém por mais divertido que tenha sido, e por mais talento que as pessoas diziam que eu tinha, a vida em Hollywood não me atraia tanto e eu não sentia que me encaixava como minha mãe se encaixa.
Sophia Parker Blackwell foi feita para os tapetes vermelhos, as telas de cinema e a estrela que tinha na calçada da fama. Muitos dizem que ser filha de uma atriz como ela era o pior fardo que eu poderia carregar, mas eles não a conheciam como eu. Eles não sabiam de metade do que nossa família tinha passado para chegar ao ponto que é hoje. A mídia ainda não fazia ideia do que fez meus pais se separarem por aqueles oito meses e meio e depois voltarem a ficar juntos. Nós manteríamos assim. O silencio sobre essa parte das nossas vidas ficava intacto.
Quando era pequena a história deles dava de mil em qualquer contos de fada da princesa perfeita que conhece o príncipe perfeito. Tinha absolutamente tudo que eu mais amava em uma história e quando meu pai me deitava na cama, me dava um beijo na testa e dizia que o final feliz dessa história era eu e Henry, aquilo me fazia sorrir como nada mais conseguia.
Ainda tenho esperanças de encontrar um amor como o deles. Afinal ainda só tenho 22 anos e muito o que viver, muita coisa pra ver, pressa não está no meu vocabulário. Sou muito paciente, sempre fui, uma coisa que deixava meus pais maravilhados e as vezes ainda deixa, principalmente ao lidar com a mente mágica e mística do meu irmãozinho que está na sua fase Harry Potter, Star Wars e Senhor dos Anéis.
Cheguei no elevador e cumprimentei a moça ali dentro com um sorriso pequeno e educado. Ela respondeu da mesma forma e voltou sua atenção ao celular onde digitava algo com uma rapidez admirável.
Andamos apenas dois andares antes das portas se abrirem e ela sair, mas um homem entrar.
Ele usava um terno de três peças azul escuro e uau... ele era muito alto.
Tudo bem, eu não era tão pequena assim. Tinha 1,65, mas por algum motivo o porte físico em combinação a altura e o terno tão perfeitamente ajustado o fazia parecer enorme. Enorme como um gigante.
Sua têmpora estava franzida e ele parecia também distraído com o celular enquanto lia ou via algo. Suas expressões eram duras. Parecia como alguém que não sorria frequentemente e algo me dizia que ele nunca tinha motivos para sorrir.
Ele era jovem. Talvez jovem demais para usar uma expressão tão... obscura. Não deveria ter mais do que trinta anos.
Eu tinha que admitir... ele era um dos homens mais lindos que já tinha visto na minha vida.
Nunca fui muito de reparar em homens, sempre fui focada demais em meus estudos e minha mãe reclamava disso comigo dizendo que eu precisava encontrar um tempo para diversão.
Mas esse homem... hummm, algo me dizia que nunca o encontraria em festas e clubes noturnos curtindo uma noitada com os amigos da faculdade.
Não...
Ele era do tipo que ficava em casa trabalhando até cair no sono porque não tinha outra saída a não ser dormir e ceder ao cansaço do corpo e da mente.
O que não significava que ele não malhava, porque... Meu Deus ele era gostoso!
Apenas quando o misterioso bonitão olhou da tela do celular, ele reparou que não estaria sozinho ali dentro do elevador que de repente pareceu se tornar pequeno demais para nós dois.
Tenho certeza de que poderia ter queimado bem ali com o olhar dele que nem sequer disfarçou o quanto me achava uma visão dos céus. Quase sentia as linhas de calor que seus olhos faziam no meu corpo enquanto meu olhava. Dentro de mim aquilo inflou uma parte do meu ego. Perceber um olhar tão intenso de um homem como ele faz maravilhas ao ego de qualquer uma.
Ele anda alguns passos até se encostar na parede do lado, apenas alguns passos longe de mim. Ainda tinha os olhos grudados em mim, então resolvi de volver o olhar da mesma forma.
Isso o fez dar um sorrisinho.
E eu sabia que aquele sorrisinho tinha sido a causa de muitas calcinhas molhadas ao redor da cidade.
E ele também sabia muito bem disso.

"você é nova" – ele não perguntou, apenas afirmou. Sua voz grossa mandou arrepios e ondas de eletricidade pelo meu corpo todo

"tecnicamente" – Ele morde de leve o lábio e só então reparo o quanto os lábios dele eram rosados e muito, muito convidativos.

"meu nome é Maxwell, mas gosto que me chamem de Max" – eu solto uma risada, que muito breve depois prendo de novo. Ele me olha de uma maneira ainda mais curiosa – "o que é engraçado?" – ele não parecia ofendido, ainda bem, mas mesmo assim senti minhas bochechas corarem um pouco.

"eu tenho um cachorro, o nome dele é Max" – ele apenas me encara por alguns segundos sem dizer nada. Os olhos tão intensos quanto do primeiro momento que me viu

"ele é um bom cachorro?" – solto outra risada fraca, dessa vez sem me senti envergonhada

"o melhor cachorro do mundo" – por algum motivo isso tira dele um sorriso pequeno. Acho que pelo amor e sinceridade escorrendo pela minha voz nas minhas palavras

"você não me disse o seu nome" – ele questiona. Os olhos que só agora, percebi que eram da cor do mar do lugar paradisíaco mais lindo em todo o mundo. Uma mistura interessante de verde e azul que mesclava pela suas íris e tornava seu rosto ainda mais inacreditavelmente lindo. Seus olhos vagavam por mim curiosos, como se eu fosse alguma coisa que ele precisava muito desvendar.

"meu nome é Alexa" – surpresa percorre sua expressão

"Alexa Blackwell?" – apenas assinto confirmando. Ele agora me olhava ainda mais curioso e até... impressionado – "sinceramente pensei que você fosse..." – ele para. Me analisa novamente com aqueles olhos e dá um sorrisinho esperto – "mais velha" – é minha vez de sorrir. Muita gente disse isso pra mim. Perdi a conta de quantas delas.

"é... todos parecem pensar a mesma coisa" – o elevador apita e abre as portas de aço. Era a minha deixa.
Me desencosto da parede do fundo e com um último olhar para Max eu saio andando sem olhar para trás. 

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