44° Fuga

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--- Betty ---

Eu não chorei.

Não chorei enquanto vomitava todo o café da manhã na privada do banheiro dos fundos, pouco antes de entrar na água. Também não chorei quando senti um líquido nas minhas pernas vendo o biquíni manchado de sangue.

Não porque eu estava aliviada, claro que não. Eu adoraria ter um bebê. Meu corpo caiu em tristeza. Todas as lágrimas ficaram presas em minha garganta. Eu fiquei tão... Tão atônita com isso que não consegui chorar pela perda. Na noite anterior eu chorava por medo do Jughead não ter uma boa reação da gravidez, e descobri que é tudo ao contrário e ele não se importaria em ter mais filhos. E agora isso... Ele ficou tão animado que até eu me animei ainda mais.

Alguém bate duas vezes na porta. Por sorte eu havia trancado.

- Betty... É você que ta aí? - A voz do Jughead estava abafada. Sabe quando você quer falar e as palavras simplesmente não saem? Eu sinto isso. - Que porra, acho que não é ela... - Ele agora dirigia a palavra para outro.

- Será que ela foi fazer aquilo? - Era o Carl.

- A Betty não iria sem ao menos nos dizer alguma coisa... - Robin diz um pouco ao longe.

- Na verdade, é a cara dela fazer isso. - Enid fala calmamente. - Só falta voltar e dizer que agora trabalha com lavagem de dinheiro... - Sua voz some rapidamente ao perceber que falava em lugar aberto. Como não ouve confusão, julgo que estão sozinhos.

Me sentia tão cansada que não tinha nem vontade de dizer que estava aqui, ao lado deles.

- Leonard também deu perdido. - Jensen deve ter notado. - Mas isso é super normal quando ele conhece e quer comer alguém. Vi ele conversando com a Stark.

- A Betty não saiu pra comer ninguém, que porra. - Jughead se dá por vencido. - Talvez ela escolheu mesmo fazer aquilo sem contar pra gente. Isso é a merda de uma férias pra gente e um trabalho do caralho pra ela. Vamos esperar. Se demorar mais que um dia...

- Vamos chamar a polícia? - Robin pergunta em tom de deboche. - Alô, polícial? Nossa amiga foi traficar e não voltou mais.... Você pode nos ajudar sem prender ela?

- Fala baixo, porra. - Era o Jughead. Sua voz ia se afastando da porta. Coloco o cotovelo no joelho e a cabeça apoiada na mão. Não tinha interesse na conversa. - Qualquer coisa nem vai precisar disso. Vamos voltar no lago...

Um tempo se passou depois dessa conversa. Aproveitando que eles já acham que eu fui cuidar do negócio, vou adiantar tudo para que seja verdade. Todos estão no lago. Eu tinha espiado depois que sai do banheiro. Vou pro quarto e visto uma calça cinza escuro e tenis, uma blusa preta fina de manga comprida. Prendo meu cabelo úmido em um rabo de cavalo. Eles devem ter achado que fui andando fazer a entrega para não desconfiarem que o carro ainda estava aqui. Se eu o pegar, chamará atenção. E atrair meus amigos para uma biqueira ou sabe-se-lá-o-que como eu fazia comigo, não é uma opção. Coloco o endereço no GPS do celular e começo a caminhada. A arma estava na base da minha costa e a bolsa com droga por trás.

O lugar era mais longe do que eu pensava. Deu quase 45 minutos de caminhada. Era um edifício de tijolos vermelhos escuros, semelhantes aos do Brooklyn com quatro andares e uma pequena escadaria preta de ferro levava a porta. As janelas estavam fechadas e escuras, algumas eu consegui ver o papelão ou madeira por trás para tampar a vista de olhos curiosos. Respiro fundo e vou até a porta batendo três vezes.

PRAZER MORTAL °RiverdaleOnde histórias criam vida. Descubra agora