Provocação e Desejo • Mirandy

Capítulo Sete: Você Não Disse Isso!

ANDREA SACHS POV

Encarei os inúmeros potes de sorvete em cima da minha mesa de jantar e refleti sobre o que diabos eu tinha feito. Eu tinha me esquecido, por um momento, que não era milionária e que tinha contas para pagar. Mas já era tarde. Os potes de menta, chocolate, morango, creme, napolitano, flocos e chiclete encaravam-me como se eu fosse uma fugitiva de algum hospício. Mas eu não era. Eu só estava... só estava alguma coisa.

Acordei duas horas da manhã com a cabeça perto de explodir. Me levantei, fui em um mercado vinte quatro horas e gastei metade do meu dinheiro em sorvetes. Sim, todos eles! Se minha avó visse isso diria que sou uma irresponsável. E eu sou.

Eu precisava alimentar meu drama, minha dor e frustração. Depois de chorar horrores, acabei por dormir, mas enquanto dormia, tive mais um de todos os outros pesadelos. Mais um de tantos! Eu não entendia o por que deles, a razão de me fazerem tão mal, mas sempre que eu pensava em sentir coisas por Miranda além do que eu tinha planejado simplesmente me assombrava. Mas então havia o quesito: me apaixonar por Miranda seria tão ruim assim?

Sentia-me como se fosse algum tipo de tortura ou obrigação para me dar uma própria resposta. Era como se eu não pudesse mais fugir do que me parecia óbvio. Antes mesmo que eu pensasse em ter algo com ela, ao menos fisicamente, já me via com risos fáceis e suspiros. Mas isso não significa alguma coisa, não é? Eu também costumo sorrir com meus amigos, com um filme qualquer ou um livro.

Honestamente? Eu já tinha essa maldita resposta há tempos! Estavam expostas na minha testa, no meu teto, na minha pele. Eu só não queria aceitar. Eu não posso aceitar!

Eu esperava, sim, ficar com Miranda após aquela magnífica noite de amor. Amor?Andrea, por favor! Que amor? Você sabe muito bem que aquilo tinha sido apenas uma noite de sexo selvagem. Talvez não tão selvagem, até porque ela me tocava com paciência, mas... droga, cá estou suspirando novamente.

Não posso mentir! A quem eu quero enganar? Dizem que quanto mais jugimos do óbvio, mais sentimos e sofremos com isso. Eu não estou pronta para sofrer por causa de um novo alguém. Não estou pronta para me prender à um sentimento que não seja recíproco. Eu não deveria pensar nisso! Miranda não era uma mulher de relacionamentos. Era era livre para ser quem quisesse e, se a revista não é capaz de tirá-la do eixo, quem dirá eu?

Pensar nisso me faz querer chorar muito. Deus, tem algo de errado comigo! Eu não podia. Não podia agir como uma adolescente após sua primeira vez com uma pessoa que talvez, simplesmente, fugisse depois. Mas eu iria conseguir. Em algumas horas eu voltaria a ser a mulher que sou, intocável, e voltaria a ver aquela mulher que tanto me balançava sem sentir absolutamente nada.

Preciso entender o quanto antes que, em uma revista de moda como aquela, eu sou apenas uma capacidade. Sou apenas uma opção barata. Levantaria e iria mais bela que nunca. Até porque tenho que estar mais perfeita que uma boneca. Como não sou isso, diria apenas, apresentável.

Quando Miranda me entregou aquele roupão pensei que a noite ainda estava para começar. Pensei que ela me colocaria na mesa de sua cozinha e me deixasse tocá-la também. Mas eu teria de ir embora, como ela mesma disse. Enquanto eu a queria por perto, ela já pensava na hora que eu teria de partir.

Provavelmente, se eu estivesse apenas retirado aquilo do meu corpo e ignorado as sensações ruins, teríamos no máximo transado em sua cozinha. Mas eu seria mandada embora pra casa como da última vez, sem a capacidade de dizer mais uma palavra. Eu não queria aquilo. Não que no dia eu tenha me sentido rejeitada, não. Eu não me senti. Mas esperava ansiosamente que Miranda jogasse tudo para o alto e tivesse me mostrado o que eu queria ver. Mas ela mostrou, não é? Ela já tinha feito isso.