Enviada.
O único pensamento que se passa pela cabeça dela é o famoso Seja o que Deus quiser.
Menos de um minuto depois o telefone toca.
- O que houve, ragazza? – a triste voz um pouco carregada do sotaque italiano de Beatrice Hideki.
- Nada demais, mamma. Antes da reunião Elisa estava conversando com a secretária do chefe e ela perguntou sobre a viagem, minha secretária não sabia do que ela estava falando e foi olhar a caixa de e-mails. Encontrou um convite para uma convenção de contabilidade, exclusiva, com grandes profissionais dando palestras e workshops. Não tínhamos visto isso ainda e mesmo que quisesse ignorar não poderia, a presidência da empresa também recebeu o convite para fazer parte desse grande projeto e resolveram que eu tinha que ir. Foi tudo de última hora, sinto muito.
A única coisa verdadeira daquilo tudo foi o eu sinto muito e mesmo assim, talvez não tenha sido, já que Ana não sente por não estar indo encontrar a família e sim porque se ela estiver certa, a vida das duas vai mudar muito. Se ela contar, vão sofrer, se não contar não conseguirá ficar bem consigo mesma.
- Olá, querida. – O pai diz ao fundo.
Engolindo a repulsa que insiste em subir a garganta, investe todo seu dom artístico para interpretar a menininha do papai, aquela mesma pessoa que era até dois dias atrás.
- Olá, papai. Mãe, preciso desligar pois já está começando o embarque. Te aviso assim que fizer a conexão em Atlanta.
- Va bene, figlia. Buon viaggio. – dá para sentir a decepção na voz da mãe e o silêncio recai por um minuto, Analu queria tanto tirar esse peso das costas, mas não pode. Beatrice volta a falar tirando a filha de seus devaneios. – Baci, baci.
Ao expressão de carinho usada pela mãe a faz se sentir forte de novo e não contém o sorriso ao se despedir do mesmo modo.
Por serem italianas, mas morarem a muito tempo no Brasil, sempre misturam as duas línguas. Be nunca deixou que a filha esquecesse de sua língua nativa e quando era menor só conversavam em italiano, com o passar do tempo foram abrindo mão de utilizar somente um dialeto e agora simplesmente deixam rolar. Em respeito a mãe, Ana tenta ao máximo usar a língua europeia para interagirem e meio que acabou se tornando uma coisa delas, já que mesmo seu pai tendo morado durante alguns anos em Milão, nunca se interessou verdadeiramente pelo italiano e atualmente não lembra quase nada.
O Baci, baci" é uma forma carinhosa de se despedir, mesmo que as palavras não tenham nada de tão especial, elas usam quando querem reafirmar a conexão e nesse momento foi essencial, pois a filha estava abalada em deixar a mãe tristonha e por um momento ficou com medo que a mentira fosse machucar mais do que a verdade por trás de tudo.
Atenção senhores passageiros do voo 8324 com destino a Atlanta, EUA. O embarque está começando e pedimos a cooperação de todos, fique na sua respectiva fila e aguarde sua vez, pacientemente. Desejamos um bom voo a todos.
A mensagem ecoa nos auto falantes e ela se dirige ao portão de embarque. São quase dez horas de viagem até Atlanta, é um voo longo, mas Elisa a colocou na classe executiva, o que torna tudo um pouco melhor.
Ana tem um certo pavor de altura e pensar em aviões já a deixa meio desesperada, porém nenhuma pessoa consegue viver sem aviões ultimamente, então como é necessário que ela utilize o meio de transporte, sempre opta pelo máximo de conforto.
Logo que entra a aeromoça a ajuda a localizar sua poltrona e não demora muito mais para outras pessoas ocuparem as cadeiras ao redor. Com uma última checada no celular o desliga, pelas próximas horas não quer saber dos problemas que ficaram do lado de fora da aeronave, e se não temesse que sua mãe colocasse a polícia internacional atrás dela por não dar sinal de vida por quatro dias, o deixaria desligado até depois de já ter chegado novamente em São Paulo. Coloca a bolsa embaixo do assento a frente e termina de se acomodar. A movimentação lá atrás já deve ter terminado e todos embarcado, pois não há mais tanto barulho. A maioria dos passageiros perto dela já estão instalados e relaxados, mas como seu pai sempre diz, ela não é todo mundo. A tensão começa a deixá-la desconfortável e com dor nas costas, antes que piore, deixa uma de suas bandas prediletas ecoar em seus fones de ouvido.
Um dos comissários fecha a porta e outros começam a circular vendo se está tudo bem. Ao lhe perguntarem se necessita de algo responde que não, mesmo que a verdade seja totalmente oposta, sua vontade é voltar para casa, pois agora a ideia de ficar dentro desse troço voador pelas próximas dez horas começa a apavorar.
Começa seus exercícios de respiração como sua psicóloga a ensinou alguns anos atrás, inspira, segura por três segundos, expira e repete até se sentir mais tranquila, nunca esquecendo de esvaziar a mente e pensar positivo.
Agora não tem mais volta.
...
Agora a nossa história realmente começa!
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xoxo. LMoras.
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Vegas para Dois
RomanceDois desconhecidos, uma viagem. O que sua mãe diria se você fosse para uma "convenção" de contabilidade e voltasse casada? Depois de ter crescido vivenciando o mais singelo amor de seus pais, Analu não esperava que tamanha revelação fosse cair em s...