- Vai doer?
- Não é bem uma dor, é mais um incomodo persistente.
- Não está mentindo para me deixar fazer a maior loucura da minha vida, não né?
- Pensei que eu fosse a maior loucura da sua vida.
- Lindo, isso vai ficar marcado na minha pele pelo RESTO da minha VIDA. Então você foi, sim, rebaixado à segunda maior loucura da minha vida.
- Relaxa, você não vai se arrepender, vai ficar lindo. Uma tatuagem vai combinar com você. Já decidiu o que vai ser?
- Sim e não.
- Lu, ou sim ou não.
- Sim, uma borboleta. Na parte de dentro do tríceps.
- Uma borboleta, gostei. Vai ficar lindo.
- Já escolheu a sua?
- Sim, uma âncora. No mesmo lugar que a sua.
- Isso é tão... sexy. Somos tão clichês, ave.
- Somos mesmo, mas tudo bem a gente ser clichê juntos.
- Que brega. – ela zoa e os dois riem.
Os nomes deles são chamados e se levantam da sala de espera para ir até onde a moça cheia de piercings e tatuagens indicou. Na sala, um homem cheio de tatuagens, musculoso e barbudo os cumprimenta e se apresenta como Tom. Analu comenta que confia em pessoas chamadas Tom e Enrico revira os olhos para ela e ri quando ela o cutuca com o cotovelo. Eles falam o desenho que querem e logo estão prontos.
- Quem será o primeiro? – Tom pergunta, já sentado na cadeira com a máquina na mão e eles se entreolham.
- Vai lá, linda. – ele pisca para ela, que se senta na cadeira e estende o braço para ele marcar o desenho. Ele pede a aprovação dela com o espelho e ela aprova. Ao ouvir o barulho da máquina ligada ela começa a ficar tensa.
- Segura minha mão? Estou com medo. – pergunta ao marido, sentado no banquinho ao seu lado.
- Sempre, linda. – ele segura sua mão – Se doer, não se mexa, aperte a minha mão ao invés disso. Transformar dor psicológica em física, lembra?
- Não acredito que isso vá ser psicológica, mas tudo bem. Entendi aonde você quer chegar. Na verdade acho que nem se quisesse conseguiria me mexer, congelei nessa cadeira.
- Vou começar, relaxe o braço. – o tatuador pede e ela respira fundo e solta, três vezes.
- Tudo bem, estou pronta.
Sente a agulha entrando em contato com sua pele e aperta a mão de Enrico, não por dor, mas porque é realmente algo incomodo.
- Já está acabando? – pergunta, não querendo olhar para a agulha.
- Longe disso, Lu. Ele acabou de começar, não marcou nem uma asa inteira. Aguenta aí. Converse comigo, me conte sobre a primeira vez que você quebrou um osso, ou sei lá, qualquer coisa. Vou ajudá-la a se distrair.
- Eu tinha oito anos quando quebrei a perna, andando de patins. Eu costumava andar na área do prédio em que eu morava, era muito grande e o piso era reto, mas não totalmente liso, então era perfeito para uma criança desastrada como eu. Só que um dia eu peguei muito impulso e tinham acabado de regar as plantas do outro lado do prédio e não consegui parar antes de escorregar na água e cair em cima da minha perna. Fiquei quatro meses e meio para conseguir me recuperar e voltar a andar normalmente.
- Você voltou a andar de patins depois disso?
- Claro, sou uma pessoa persistente. Hoje não ando mais porque não tenho tempo, mas ainda tenho um par guardado em casa. Faz tanto tempo que não ando que acho que até me esqueci como se faz.
- Isso é como andar de bicicleta, nunca se esquece. Fica registrado no subconsciente.
- Talvez seja isso mesmo.
- Eu já fiquei com os dois braços quebrados de uma vez. É isso que dá quando sua mãe fala para você não cair na pressão dos outros e você ignora. Estávamos em um parque de skate, eu e meus amigos da escola, e me desafiaram a descer e fazer uma manobra que eu não sabia, mas estava valendo não só a minha honra como também um combo do Mcdonalds.
- Olha o que a gula não faz com uma pessoa!
- Eu não tinha almoçado ainda. – se defende – Enfim, o skate quebrou e eu voei, só que tentei proteger a cara e coloquei os braços na frente para absorver o impacto, porém foi muito forte e quebrou os ossos do antebraço.
- Sua mãe deve ter ficado muito contente. – ela brinca e faz uma careta quando o tatuador sobe um pouco mais o traço.
- Ela gritou tanto comigo que ficou até rouca. Além disso se recusou a me dar outro skate no aniversário seguinte.
- Eu também não daria.
- Sinceramente, eu também não.
- Está acabando?
- Quase lá. Só mais uns minutos e a tortura passa.
- Quando meus pais virem isso, vão surtar. Que bom que não moro mais com eles, se não teria medo de ser expulsa de casa.
- Minha mãe não ficou lá muito contente quando chegamos em casa tatuados, mas depois do choque inicial e de entender que foi uma coisa de irmãos, ela aceitou.
- Todos vocês tem a tatuagem no mesmo lugar?
- Sim, mas são desenhos diferentes. Elas representam os quatro elementos, assim como nós. Eu sou água, Pietro é fogo, Giovanni é terra e Fabrício é ar.
- Como vocês escolheram o que cada um seria?
- Foi puramente astrologia. Só nos encaixávamos perfeitamente nas definições dos elementos e achamos uma boa ideia marcar.
- Isso é legal. Queria fazer algo assim com meu irmão, talvez um dia até faça. Quem sabe. – ela faz uma careta quando a máquina passa no que parece ser um ponto incomodo – Talvez não queira mais tatuagens depois dessa, deixa para lá.
Ele ri e beija sua mão, encantado com todas as facetas que conhece dessa bela mulher. O elemento água simboliza uma pessoa intuitiva, com emoções profundas, dominado por anseios internos e reações carregadas de sentimentos e desejos, assim como ele, mesmo que em diversos momentos tenha tentado se segurar, e justamente nesses momentos ficou descontente consigo mesmo e com suas atitudes. Sua intuição tem algo que geralmente não falha, mas ainda há margem de erro, como tudo na vida. Só que... ela tem algo que o faz sentir como se todas as respostas certas tivessem cinco letras e formassem uma única palavra, Analu.
A máquina desliga e Tom avisa que está pronta, limpa o excesso de tinta preta e mostra no espelho para ela, que sorri de orelha a orelha com o resultado.
- Valeu a pena, no final. – confirma.
Borboletas representam mudança, segundas chances, recomeços, liberdade, mas também, força para enfrentar todas as suas piores fases, pois no final o resultado é lindo. Foi esse o motivo da escolha de Analu. Depois de Vegas nada mais será igual, de uma forma nem melhor, nem pior, só... diferente. Sua família, seu relacionamento, seu coração, sua cabeça, e mesmo que as fases sejam difíceis, no final vai valer a pena, pois ela é como uma borboleta.
Enrico diz que ficou adorou e depois de enfaixar, eles trocam de lugar na cadeira. Ele estende o braço e nem parece perceber quando a agulha entra em contato e rasga sua pele, marcando-a de preto. O desenho é menor que o dela e em poucos minutos os dois saem porta a fora do estúdio, conversando e apreciando a companhia um do outro.
- Adoro quem eu sou perto de você. – ela diz enquanto andam de mãos dadas pelo hotel. Enrico a puxa para perto de si e a beija no topo da cabeça, suavemente.
- Eu também adoro ser quem eu sou perto de você, lindinha.
Oieeee, voltei!!!
Final do livro vem aí galera. Esse é o penúltimo capítulo, mas ainda teremos o epílogo. Então não desistam de mim rs
xoxo, LMoras.
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Vegas para Dois
RomanceDois desconhecidos, uma viagem. O que sua mãe diria se você fosse para uma "convenção" de contabilidade e voltasse casada? Depois de ter crescido vivenciando o mais singelo amor de seus pais, Analu não esperava que tamanha revelação fosse cair em s...