Cap 24

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    É a segunda vez em menos de uma semana que Ana acordou com Stefania telefonando. Dessa vez ela tinha um compromisso e não podia se atrasar. Marcou de encontrar a tia e a prima para um café da manhã antes dela partir para Los Angeles. Por sorte Fani ligou uma hora antes, para que ela tivesse tempo de acordar e se arrumar com calma. Arrumou o cabelo, escovou os dentes, colocou um jeans, uma blusinha e um tênis, e antes de sair foi até o marido, largado entre as cobertas com as costas musculosas desnudas. O jeito que a pele levemente bronzeada contrastava com as cobertas brancas mostrava o caminho do paraíso, um paraíso que ela não podia cair na tentação de visitar agora.
    Caminha até a cama e beija seu rosto para acordá-lo. Ele se remexe e começa a tatear ao redor em busca dela, resmungando quando não encontra.
    - Porque você não está deitada, lindinha?
    - Eu preciso sair. Fani e minha tia estão me esperando para tomar café.
    - Que horas são?
    - 8h20.
    - Lu, você precisa descansar, só dormiu três horas essa noite.
    - Estou bem. – boceja – Vou sobreviver.
    Ele abre os olhos e se vira para encará-la. O abdômen musculoso convidando-a se deitar ali.
    - Quer que eu vá com você?
    - Não, durma mais um pouco, prometo que não demoro muito e trago café quando voltar.
    - Tudo bem, bom café para você. – ele se aproxima e dá um beijo em seus lábios.
    Se afasta a passos largos e logo está entrando no elevador. A pouca maquiagem em seu rosto não disfarça completamente a cara de cansada, mas dá uma aliviada. Fani disse para se encontrarem em uma área privada do The Palazzo e que um carrinho de golfe iria esperar por ela na parte de fora do hotel, ela logo encontrou o segurança da prima esperando por ela e ele a conduziu até o local.
    Entrou em um jardim e seguiu o caminho de pedras até uma mesa sob as árvores, onde as italianas a esperavam.
    - Buon Giorno! – cumprimenta.
    - Buon Giorno! – as duas cumprimentam em uníssono.
    - Sente-se, vamos comer. – Andrea diz. Ela puxa a cadeira desocupada e coloca café em sua xícara.
    - Esse lugar é lindo.
    - É o jardim secreto, sempre disse que um dia teria um jardim assim. Pois bem, Ethan o construiu no meu último aniversário.
    - Ethan parece ser um bom rapaz. – tia Andi comenta.
    - Ele é sim. Sou feliz com ele, mãe. Temos o hotel, amigos, uma casa incrível e muito amor. Estou muito bem aqui. – Stefania afirma para a mãe.
     Analu percebe pelo tom de Fani e a expressão de sua tia que algo não está certo.
    - O que eu perdi?
    - Mamãe não acha que estou bem morando aqui e quer que eu volte para Milão, para ser modelo novamente.
    - Ela está muito afastada da família, nunca tem tempo para nos visitar e participa pouco da nossa vida. Além disso, nunca vi modelo mais carismática que Stefania, todos a adoram, ela é o que precisamos para ser nossa modelo principal.
    - Tia, Fani tem uma vida aqui. Ela é casada com um homem que a ama e venera o chão em que pisa, trabalha em algo que gosta e é feliz levando a vida assim. Talvez não consiga participar sempre dos compromissos de família por causa da distância, mas não significa que não queira. Olhe para mim, eu também ando afastada da família, mas não é por mal. Além disso, Serena é perfeita para o papel de modelo principal. Ela é ótima para ser o rosto da ARZ.
     - Concordo plenamente, Luli.
As primas trocam um olhar cumplice, como sempre, uma salvando a outra. Andrea não gosta muito da situação, mas aceita a derrota.
    - Olhem para vocês, minhas menininhas. Estão tão crescidas, agora são mulheres bem-sucedidas e felizes. Sinto falta de tê-las em casa, mas entendo que suas vidas estão em lugares diferentes. Lamento muito por essa distância, porém tenho que aceitá-la. Se vocês estão felizes, eu estou também.
    - Eu estou mais do que feliz, mãe. Me sinto completa.
    - É isso que importa, querida. – estende a mão para a filha, que a aperta e sorri – E você, piccola, como anda a vida?
    - Vai bem, tia.
    - Está namorando algum ragazzo bonito e bem afeiçoado?
    - Deus a ajude, mas aquele homem é um pedaço do paraíso. – Fani dispara.
    - Que bom que você é casada, se não ia ficar preocupada de deixá-la perto do meu ma... – ela se cala rapidamente e Fani arregala os olhos – do meu namorado.
    - Ethan é um pedaço de mal caminho, também. Não é, minha filha?
    - Isso não posso negar, aquele homem sabe como usar as armas que tem. Acreditam que outro dia até cronometrei quando tempo ele demorou para tirar a minha roupa e ele demorou menos de 30 segundos?
    - Não se esqueça que a quantidade de gominhos da barriga diz muito sobre os homens.
As três riem.
    - Por isso se casou com meu pai e aqueles pneus, em? – provoca a mãe e Ana se engasga com o café enquanto ri.
    - Acredite ou não, na época em que nos conhecemos aquele barriu de cerveja era um abdômen com oito gomos.
    - Oito???
    - Não é possível, mãe. Isso é propaganda enganosa.
    - Juro, eram oito.
    As garotas trocam um olhar e começam a rir loucamente. A mulher não resiste e as três comem aos risos enquanto compartilham histórias sobre suas vidas.
    - Luli, conversei com Stefania antes de você chegar e agora que já sabe sobre sua coleção você terá acesso ao dinheiro que ganhamos com isso. Criei uma conta para você quando lançamos e a cada peça vendida, sua comissão entra lá. Tiramos o preço do material e da confecção mas o resto é todo seu.
    - Mas eu não quero tirar dinheiro de vocês, nem da loja.
    - Esse dinheiro é seu, é o dinheiro do seu trabalho, querida. Você não está tirando dinheiro de ninguém.
    - Mas...
    - Sem “mas”, é seu dinheiro. Se quiser usar, use-o, se não quiser, guarde. É seu para fazer o que quiser com ele. – Fani repreende.
    - Tudo bem, eu aceito.
    - Ótimo, agora que já resolvemos isso, posso ir para Los Angeles em paz. – as três se levantam e vão até a entrada, onde se despedem.
    - Lembre-se da minha oferta, ela ainda está de pé. – diz para Analu, que apenas concorda.
    Andrea abraça as duas mais uma vez antes de entrar no carro que a espera do lado de fora do jardim e partir, deixando as meninas sozinhas, ainda observando o carro com um sorriso no rosto. Quando o perdem de vista, Fani relaxa e suspira profundamente.
    - Graças a Deus acabou. – elas entram no jardim, outra vez.
    - Fani! – a outra repreende – Ela é sua mãe. Quando vai superar seu pânico de aprovação e relaxar na presença dela? Caramba, você é independente, casada e mora em um continente diferente do dela, não precisa mais ficar temendo-a. O que ela pode fazer? Falar que não aprova sua vida?
    - Isso ela já faz. – desdenha e dá de ombros – Tem razão, preciso parar de ficar tentado agradá-la, sempre vou ser a ovelha perdida na visão dela mesmo. Precisava ter visto o escândalo que ela fez ontem anoite por termos chegado tarde em casa.
    - Ela ficou na sua casa?
    - Não, esse é o ponto, era para ela estar em um quarto no Palazzo, assim como Filippo, mas ela resolveu obrigar Marlon a levá-la até minha doce e desprotegida casa no meio da noite, dizendo que ia me esperar lá. Ela fez Nani preparar um martini para ela as duas da manhã... – Ana se segura para não rir, mas uma risadinha escapa e ela tosse para encobri-la quando Fani quase a frita com o olhar.
    - Por que tenho a impressão de que o desfecho dessa história é pior do que tudo que já contou?
    - Porque é! Tínhamos bebido um pouco e... talvez... a gente estivesse um pouco... soltos demais.
    - Soltos, tipo... – a incentiva a continuar.
    - Coelhos. – diz por fim.
    Silêncio.
    As duas se olham, sem dizer absolutamente nada, tentando entender o que aquilo quer dizer. 
    - Que porra isso significa? – Ana pergunta e desmancham em gargalhadas.
    - Não faço ideia do que significa. – coloca a mão na coxa e se dobra, rindo – Não consegui me expressar direito, espera.
    - Coelho! – Analu imita Fani, gargalhando ainda mais alto em seguida. 
    Ana enxuga as lágrimas e tenta parar de rir, Fani também, mas assim que cruzam o olhar novamente, voltam a rir.
    - Não vou conseguir parar de rir para eu te contar o desfecho, Luli. – respira fundo e tenta se concentrar em qualquer outra coisa - Pare de rir, por favor. – a prima começa a se acalmar até finalmente conseguir parar de rir.        
    - Pronto. Estou bem, pode continuar.
    - Minha mãe estava sentada no escuro, na sala. Nós entramos e, não sei por que, fomos parar na cozinha.
    - Ok...
    - Enfim, não sei como, nem porque, tivemos a brilhante ideia de transar no balcão. A gente nunca faz isso!
    - Ai, meu Deus.
    - Do nada as luzes se acenderam e lá estava minha mãe, me vendo pelada em cima do balcão da cozinha, com o meu marido dentro de mim.
    - AI-MEU-DEUS! – volta a sentir o formigamento em sua barriga, fazendo-a rir compulsivamente. – Não acredito! Que situação.
    - Isso, ri da minha desgraça... vai em frente. – cruza os braços e espera Analu lentamente se recuperar da crise de riso.
    - Desculpa, mas voce tem que concordar que foi engraçado.
    - Engraçado? Foi horrível, eu não sabia onde enfiar a minha cara e Ethan muito menos, o coitado ficou tão pálido que pensei que fosse desmaiar. Ele ficou gago do nada. Não conseguia formular uma frase sem se enrolar todo. Por isso hoje ela estava falando que não aprovava minha vida aqui e acha que eu devia voltar para Milão, não era saudade, era medo das merdas que eu posso fazer longe dela.
    - Errada ela não ta.
    - Eu, você e Deus sabemos que não, mas isso a gente não comenta.
    - Tadinho do Ethan, deve ter sido horrível conhecer a sogra assim.
    - Foi catastrófico para a autoestima dele, ela para ajudar um pouco menos, ainda fez questão de deixar claro que não gostou dele.
    - Tia Andi é incrível, mas quando quer, consegue ser impossível.
    - Exatamente. Ethan é tão interativo, o tipo de pessoa que se dá bem com todo mundo, com exceção da minha mãe. Como se já não fosse ruim o suficiente, quando a questionei o motivo de estar ali ela ainda disse, na frente dele, que queria que eu a acompanhasse em Los Angeles e depois voltasse para a Itália com ela. Ethan ficou super abalado, mesmo depois de eu obviamente recusar, ele ficou repetindo o resto da noite o quanto me ama e que vai fazer com que ela goste dele para que eu não tenha que escolher um lado.
    - Coitado.
    - Pois é, foi uma noite e tanto.
    - Imagino. – olha o relógio do celular, já faz uma hora que saiu do hotel e deixou aquele monte de músculos largado e sozinho naquele mundo de lençóis confortáveis.
Não admitiria isso em voz alta a ninguém, talvez admitiria a alguém muito próximo se estivesse muito bêbada, mas adorava vê-lo acordando. O jeito como seus olhos demoram para conseguir se ajustar a claridade e ele fica apertando-os fazendo todas as linhas de expressão do rosto se flexionarem, o cabelo bagunçado, o corpo relaxado, o sorriso mole e aquela voz rouca... Ah, aquela voz. Era magnifico. Todos deviam ter a chance de viver essa experiência pelo menos uma vez na vida, não tem nem como acordar de mal humor.
    O celular toca em sua mão e ela recuso outra ligação da mãe. Stefania vê o movimento e cruza os braços em frente ao peito.
    - Luli, não pode continuar fazendo isso para sempre. Quando foi a ultima vez que falou com ela?
    - Antes de embarcar, a uns dias.
    - Ou seja, você nem a avisou que havia chegado bem.
    - Enviei uma mensagem.
    - Ela deve estar morrendo de preocupação, sua maluca! – grita e sacode Analu.
    - Não consigo enfrentar ela, Fani! – grita também, sentindo um peso no peito e as lágrimas prestes a sair - Não posso, ainda não. – diz com a voz embargada, o que desmonta o ataque da prima.
    - Luli, tem certeza que não quer me contar o que está havendo? Da ultima vez que te vi tão abalada assim foi no dia em que descobriu que teria que ir embora de Milão.
    - Acho que foi a ultima vez que estive realmente abalada. – resmunga para si mesma, mas Fani ouve, apenas não comenta – Vai ficar tudo bem.
    - Tem certeza?
    - Aham. – desvia do olhar da loira e enxuga a lágrima solitária que escorre – Vou resolver tudo, prometo.
    - Não duvido disso, mas estou ficando preocupada com você.
    - Não fique, não tem motivos para isso. Só briguei com meus pais e agora preciso resolver, só isso.
    - Analu...
    - Estou falando sério, estou bem. Só preciso de um pouco mais de tempo para colocar as coisas em ordem na minha cabeça.
    - Não consigo acreditar em você, desculpa.
    - Juro que estou bem, Stefania.
    - Não me chame pelo meu nome, parece minha mãe.
   - Então não me chame pelo meu. – força um sorriso – Juro, estou bem.
    Fani concorda, pois sabe que não adianta insistir, ela está completamente fechada, algo que não acontece muito, mas que quando acontece, a única solução é esperar que ela se abra sozinha, sem ninguém pressionando-a. Está muito preocupada, mas precisa respeitar a decisão dela de lidar sozinha com isso.
    - Preciso voltar, Enrico está me esperando para comer. Disse que levaria o café.
    - Vou ligar agora mesmo para a cozinha e pedir para que levem até o quarto de vocês.
    - Obrigado, você é demais. – sorri.
    - Sabe que estou aqui sempre, né? – pergunta delicadamente.
    - Sei sim. Obrigado.
    - Imagina. Agora vá encontrar seu marido antes que ele coma os sabonetes e as cobertas.
    Ela soltou uma risada, o que aqueceu o coração de Fani e lhe causou um alivio indescritível, parece que a corda que o machucava foi afrouxada. Vendo a prima ir embora com aquele brilho nos olhos, pensando em Enrico, a fez ter certeza de duas coisas: 1- Ele é muito especial e 2- Analu vai ficar bem, independente de tudo, vai ficar bem.

...

Oieeee

Mais um capítulo aqui ;)
Já na reta final desse livro em...

xoxo, LMoras.

Vegas para DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora