- Minha prima disse que é no segundo piso, a direita. – todos olham para o mapa do shopping. – Para lá, avante companheiros! – Kris projeta o braço para cima em um soco no ar, aponta para um corredor e sai andando, deixando-os para trás.
- Maluquinha.
- Surtada.
- Louca.
Agora sem sacolas e sem bebidas os casais andam relaxadamente pelo local, analisando todas as lojas. Os recém-casados se mantem grudados um ao outro, com os dedos entrelaçados e o braço dele sobre os ombros dela.
Chegam até lá e o sorriso de Analu se alarga. A loja lhe faz lembrar de sua adolescência. O perfume é o mesmo, ainda que essa tenha um design mais moderno do que a que fica no centro de Milão. Com dois andares, leds coloridos prevalecem entre as araras de roupa e os manequins. As letras ARZ estão escritas bem grandes na parede do caixa, com a fonte da assinatura da estilista, diferenciando esse logo do da fachada.
Todos olham ao redor, impressionados. Reconhecendo a música tocando nos auto falantes, a italiana começa a balbuciá-la.
- “Dimmi cosa succede se tra un secondo scappiamo via. Senza guardare più indietro e la tua bocca diventa la mia.”
- E sua boca se torna minha, é? – Enrico cochicha em seu ouvido, provocativo.
Ela olha para ele. - Bom, parece que alguém entende mais do que diz entender de italiano - Mas dá de ombros, sorri e pisca. Ele pensa em continuar, mas é interrompido.
- Benvenuto! Eu sou a Raquel, como posso ajudá-los? – a moça se apresenta, direcionada exclusivamente para Enrico, mesmo tendo total consciência de que é uma loja de roupas femininas.
Ele trava o maxilar com a menção do nome e pela primeira vez em dias lembra do que passou antes de viajar. Analu o sente ficar tenso, mas não comenta nada, pois fica incomodada por seus próprios motivos. A vendedora olha para seu marido e sorri, sem ao menos se dar conta de que ela está ali. Passou até a língua nos lábios. “Stronza!” - xinga mentalmente, porém com toda sua educação tenta sorrir ao se apresentar.
- Olá, Raquel. Estamos procurando por Stefania, sou prima dela e esse, - gruda mais nele - é meu marido.
- Claro! – sua expressão fraqueja quando escuta Analu se referindo a ele como seu marido, mas se recupera rápido. - Sra. Davis avisou que vocês vinham. Vou chamá-la, só um minuto. – Ana concorda e Raquel desaparece pela loja.
Se dispersam e começam a ver as roupas, até que Kris se aproxima.
- Sua prima trabalha aqui? Que legal!
- Na verdad...
- Luli?! – um loiro de olhos castanhos chama um pouco distante.
De costas para ele, reconhece sua voz quase que imediatamente e sabendo que virá até ela, retira a aliança e guarda no bolso do jeans em um movimento rápido. Enrico a observa fazendo tal coisa e fica confuso – para não dizer puto - Quem é esse cara e porque ele não pode saber que ela é comprometida? – pensa, mantendo-se calmo e repreendendo-se. – Ela deve ter uma boa explicação para isso.
- Lippo! Non credo. – arregala os olhos ao vê-lo e anda de encontro a ele, sorrindo, que a espera de braços abertos. Ela pula em seus braços e ele rodopia.
- Que saudades, mio amore. – diz antes de soltá-la.
Enrico fica incomodado - Mio amore?! É sério isso? – respira fundo e força um sorriso, se preparando para ser apresentado a ele e ser cordial.
Eles finalmente se afastam.
- Você está lindo! – arruma o cabelo loiro dele com as mãos.
- Você também. Quanto tempo faz desde que nos vimos pela última vez? Dois anos?
- Mais o menos isso, foi na inauguração da galeria de Raffe. Foi uma noite e tanto. – pisca para ela.
- Foi. – escuta um barulho atrás deles e se vira, lembrando que os amigos estão ali – Ah, verdade. – Estende a mão para Enrico, que a pega de bom grado e ao se aproximar da esposa, passando um braço pela sua cintura. – Lippo, esse é o Enrico, meu... – não sabe como apresentá-lo sem que vire a principal fofoca na família. - namorado. Enrico, esse é Filippo Rizzo, meu primo.
O moreno relaxa ao seu lado, mesmo que não tenha gostado de ser chamado de "namorado", e estende a mão para cumprimentar o primo da esposa. Lippo o cumprimenta também, com um aperto de mãos.
- Não sabia que estava namorando, Luli. – comenta o primo.
- Lippo, aqueles são Martin e Kristen, amigos nossos. – muda de assunto e ele acena para o casal, que acena de volta. - Afinal, o que está fazendo aqui?
- Mamãe e eu vamos para um evento em Los Angeles e passamos por aqui para verificar como estavam as coisas e se Fani estava bem.
- Tia Andrea está aqui? – começa olhar ao redor, a procura.
- Está, ela e minha irmã estão terminando uma reunião e já vem. E você, o que faz aqui? Tirando umas férias?
- Na verdade eu vim à trabalho, mas estou aproveitando para me divertir também.
- Entendo. – olha para o relógio – Preciso ir agora, mas não vou embora até amanhã anoite, com certeza ainda vamos nos ver. – se aproxima e dá dois beijos para se despedir da prima e ela espelha o movimento.
- Claro! Vou ver com Fani e podemos fazer alguma coisa.
Ele concorda.
- Foi um prazer te conhecer, Enrico.
- Igualmente, Filipo. – trocam um aperto de mão.
- Baci, baci!
- Baci, baci! – se despede e vê o loiro ir embora.
Ela olha para Enrico e ele sorri fraco, percebe que ficou incomodado com algo, mas irá resolver isso mais tarde. Com nada além de um beijo na testa, ele se afasta.
Por que Fani não avisou que a tia estava por aqui? Merda! Ela só espera que não chegue na mãe o fato de estar “namorando”.
- Ana, você disse que seu primo chama Filippo RIZZO? – a amiga pergunta e ela concorda – Rizzo como Andrea Rizzo, DONA da loja?
- É, exatamente como Andrea Lombardo Rizzo de Luca Cattaneo, minha tia por parte de mãe. – sua boca forma um “o” e ela arregala os olhos.
- Sua tia é Andrea Rizzo e você não me disse nada?!
- Desculpa, mas não fico espalhando por aí. Ia te contar na hora que Lippo apareceu, só que não deu tempo.
- É por isso que você entende tanto sobre cortes e cores.
- Descobri que gostava de moda quando fui morar com ela em Milão. Fiquei lá dois anos e nesse tempo me apaixonei pelo trabalho de modista.
- Que legal! – ela tira um vestido das araras, coloca em frente ao corpo e observa no espelho. – E o que te impediu de seguir carreira?
- Meu pai e algumas outras coisas. - pega outra roupa e mostra para Kristen, que nega com a cabeça, fazendo-o devolver à arara.
- Por que tenho a impressão de que você é muito mais do que diz?
- Porque talvez eu realmente seja, não sei. – mostra outro vestido, a amiga o pega e simula como ficaria em seu corpo - Nem tudo é o que parece, minha vida não é simples de se entender. Na verdade, está bem longe disso.
- Quem dera a vida de alguém pudesse ser. – comenta, ainda em frente ao espelho – Todos temos problemas, mas cabe, somente, a nós saber escolher entre resolvê-los ou esquecê-los. Minha dica é: se for algo que não afeta a vida de ninguém, ou afeta minimamente, deixe passar.
- É um bom conselho.
O celular vibra em seu bolso.
Enrico: vamos a uma exposição de carros que está tendo no hotel, me avise assim que saírem daqui e nos encontramos.
Enrico: Beijos.
Analu: ok, até mais tarde. Beijos.
Procura por seus cabelos castanhos com mechas mais alaranjadas ao redor e não os encontra. Eles já foram.
Talvez seja melhor assim, ele deve estar confuso sobre meu comportamento na frente da minha família, mas tem que ser dessa forma, pelo menos por enquanto.
Outra mensagem se mostra presente no celular e Ana a abre para responder.
Fani: Desculpa a demora, estou indo.
Analu: Tudo bem, já estamos vendo alguns vestidos.
Assim que envia a resposta escuta seu nome sendo chamado e se vira para onde vem o som.
- Ana! – a tia se aproxima ao lado de Fani.
- Tia Andi! – abraça a outra italiana de cabelos castanhos, o mais escuro possível, diferente de os de sua mãe, que são um pouco mais claros. As duas são extremamente parecidas tirando a tonalidade do cabelo. Os olhos escuros, o sorriso e o tom de voz as fazem parecer gêmeas, mesmo Andrea sendo uns anos mais velha.
- Che bella! – passa as mãos nos cabelos da sobrinha e analisa todos os detalhezinhos da garota. Como ela mudara desde a ultima vez que se viram – Que saudade senti de você, minha querida. – a aperta em outro abraço, Analu fecha os olhos por um momento e aprecia o carinho, sentindo falta daquele conforto. Sentindo falta de sua mãe.
Por mais cabeça dura que as duas fossem, não se desgrudavam. Beatrice sempre foi o porto seguro da filha e não poder contar a ela o que tirava seu sono, estava a matando, pouquinho a pouquinho. Como queria ligar e chorar ao telefone, tirar aquele peso de suas costas. Mas sabia que não podia fazer a mãe carregar esse peso dessa vez, ela tinha que ser a pessoa a encontrar a verdade antes de jogar a bomba, pelo bem de sua família, ou o que restaria dela, se seus palpites estiverem certos.
- Também senti saudades, tia. – puxou Kris para junto de si. A amiga estava com os olhos arregalados e sorrindo feito boba para Andrea, completamente extasiada de estar tão próxima da grande estilista. – Essa é Kris, minha amiga. – se voltou para a garota – Kris, essas são Andrea e Stefania Rizzo, minha tia e prima.
- É um prazer conhecê-las. – a amiga se manifesta.
- Igualmente. – respondem em coro as outras duas.
- O que trazem vocês aqui?
- Precisamos de uma roupa para Kris usar essa noite. Vamos ao cassino.
- Vou pedir para buscarem algumas que acho que lhe agradarão, mas enquanto isso, champanhe? – Fani pergunta para Kristen, que aceita. – Por aqui. – ela guia corredor adentro, até chegarem a um complexo de provadores e se sentarem na sala de espera dos provadores.
Logo mais uma grande arara é empurrada até elas por Raquel, Fani a agradece e diz que assume a partir dali. Começa a retirar alguns modelos das embalagens e mostrá-los. Por serem muitos, começam a selecionar os preferidos para Kris provar, envoltas em uma conversa que não se estende mais a Analu, que se volta para sua tia, quando ela pergunta.
- Stefania te contou sobre a sua coleção?
- Me contou sim, fiquei meio chocada no começo, mas ela me mostrou as peças e tenho que reconhecer que ficou muito legal.
- Foi um sucesso, de longe uma das que mais vendeu em toda a minha carreira. Até hoje recebo pedidos por uma segunda com o mesmo estilo – beberica mais o champanhe. – Só que... não posso proporcionar isso aos meus clientes, já que não fui eu quem fiz. - ela sorri e pega a mão de Ana - Para você saber, sou superaberta a ideia de confeccionar outra linha sua. – pisca.
- Foi tão bom assim ou você só está tentando me deixar contente?
- Quando foi que menti para você? Além disso, você sabe reconhecer um bom trabalho e se viu as peças não pode se quer estar duvidando da qualidade dos seus trabalhos.
- Nunca. Na verdade, não sei se conseguiria encontrar mais a inspiração necessária para criar outra coleção como aquela.
- Esse tipo de inspiração não é algo que se encontra no mundo exterior, está dentro de você, ragazza. Você só precisa permitir que seu lado criativo floresça.
- Meu lado criativo morreu com a minha volta ao Brasil.
- Não diga asneiras, Analu Rizzo Hideki. Te conheço bem o suficiente para saber que nem se você tivesse perdido a memória e não se lembrasse de quem é, poderia perder seu lado criativo. – pega as mãos da sobrinha – Você tem o dom. Eu sei e você também sabe, que seu pai pode ter interrompido seu sonho lá atrás, mas cabe a você deixar acontecer isso novamente ou não.
- Tia...
- Pense nisso. – ela interrompe - Apenas pense, não espero uma resposta imediata. Leve o tempo que precisar para chegar a uma conclusão. Só quero deixar claro que se um dia quiser, a ARZ está a sua disposição. – acabou com o líquido de sua taça e olhou para o relógio. – Mio Dio, tenho que fazer algumas ligações para saber como estão as coisas em Los Angeles. Esse evento está me deixando de cabelos em pé. – elas se levantam ficando de frente uma para a outra.
- Me prometa que irá considerar?
- Eu prometo, tia. - elas se despedem e Andréa deixa a sala.
Será que ainda conseguiria criar algo? Será que ainda se lembrava como escolher tecidos e desenhar costuras? Será que a tia estava certa e era aquilo que faltava em sua vida?
- O que acha desse? – Kristen pergunta, saindo do provador e ela volta a prestar atenção nas duas loiras paradas a sua frente.
- Acho que é esse. – responde e sorri para a amiga.
- Também acho. – concorda – Vou ficar com ele. – diz para Fani, que balança a cabeça, contente.
- Tenho certeza que quando Martin te ver com esse vestido vai se apaixonar um pouco mais. – afirma Analu.
- Kris, ele vai cair aos seus pés. Pode apostar, vai ser um milagre se vocês realmente saírem do quarto essa noite. – Fani comenta e as três riem.
O celular toca e o nome dele aparece no identificador de chamadas.
- Oi. Onde você está?
- Oi, Lindo. Ainda estamos na loja.
- Martin e Kristen precisam voltar para casa para se arrumar antes do jantar e nós também.
Ela afasta o celular da orelha para olhar o horário e se assusta. Puta que p...
- Analu?
- Estou aqui. Já estamos terminando. – a moça do caixa embrulha o vestido que Fani levou até ela. – acredito que em cin... – Kris ainda não terminou de se vestir. - set... – ainda falta pagar. - dez minutos, no máximo onze, saímos.
- Tudo bem, estamos na recepção. Tchau.
- Ok, beijinhos. – ele não responde antes de desligar e ela fica sentida com a frieza.
Dez minutos depois como prometido, Fani, Ana e Kris saem da loja, pegam o carrinho de golfe endereçado a Sra. Davies e encontram os meninos na recepção, cada um segue seu caminho e combinam de se encontrarem para jantar em algumas horas.
...Oieee, apareci!
Vou contar que anda meio complicado manter um ritmo de escrita e publicação aqui 😬 Então não fiquem bravos comigo por eu só aparecer do nada.
Capítulo de hoje tá aí, espero que tenham gostado.
Votem, por favorrr!
xoxo, LMoras.
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Vegas para Dois
RomanceDois desconhecidos, uma viagem. O que sua mãe diria se você fosse para uma "convenção" de contabilidade e voltasse casada? Depois de ter crescido vivenciando o mais singelo amor de seus pais, Analu não esperava que tamanha revelação fosse cair em s...