Com a certeza de que tomou a decisão certa, ele se ajeita em seu assento.
Os passageiros que se sentarão ao seu lado ainda não chegaram e tudo que espera é que sejam pessoas legais a ponto de não o usarem como travesseiro. O voo era só amanhã, porém como ia perder todo o sábado fazendo absolutamente nada, ligou logo cedo na empresa para tentar antecipar a viagem. Por acaso tinha acabado de vagar uma única poltrona nesse voo. Infelizmente era a cadeira do meio, mas tudo bem, o importante é que está indo curtir tudo que Vegas tem a oferecer da melhor maneira possível, completamente solteiro e desimpedido. Pelo menos é o que está tentando se convencer desde que Caio lhe disse aquelas mesmas palavras horas antes.
Um casal entra brigando aos berros. Todos os demais presentes parecem incomodados com a gritaria. Instaurando de vez o caos, o bebê da fileira da frente começa a chorar. Eles começam a olhar os números nos bagageiros pouco antes de onde ele está, ainda brigando.
Tudo que Enrico pede é que ele não tenha que aturá-los durante todo o trajeto.
- Minha cadeira é aquela, se importa de levantar-se por favor? – a mulher desbocada toma um tom um pouco menos agressivo ao se direcionar ao rapaz.
Ele respira fundo e se levanta antes que ela fique com raiva e bata com a bolsa em sua cabeça, igual fez com o marido a poucos segundos. Os três se acomodam e Enrico se sente preso entre o casal espaçoso, mas agradece por pelo menos eles terem parado de brigar.
- Rose, me dê o fone de ouvido.
Ela o ignora e olha para a janela.
- Rose. – chama novamente.
- Não quero falar com você, seu estupido. – ela eleva o tom.
- Você me bate e eu sou o estupido? – pergunta sem obter resposta. - Não é como se eu estivesse puxando assunto de qualquer forma, só quero o fone, sua escandalosa.
- Eu não sou escandalosa! – grita a mulher terrivelmente ofendida.
Eles voltam a discutir. Rick apenas ignora a situação inconveniente e tenta se concentrar no livro em suas mãos, mas cabeça já começa a incomodar depois de aproximadamente dois minutos deles enchendo seus pobres ouvidos. Tudo que queria era um pouco de paz, mas tudo que conseguiu foi uma tremenda dor de cabeça.
Estando quase a ponto de explodir, como se fosse um anjo, um comissário simpático o aborda, fazendo com que seus companheiros de viagem se calem.
- Senhor, desculpe incomodar. Temos uma poltrona sobrando na classe executiva, se concordar poderá se acomodar lá.
- Pode deixar que eu vou, aceito nem que tenha que pagar a mais por isso. – o homem briguento começa a se levantar, mas o atendente explica que não será possível, já que ocorreu um sorteio para o upgrade da passagem e ele não foi o ganhador. Ainda mais estressado se joga no banco.
O garoto se levanta.
- Claro, seria muito bom. – Enrico sorri, pega seus pertences e o segue, não esquecendo-se de agradecê-lo quando estão longe o suficiente do casal.
Eles param quase ao lado de uma garota de cabelos castanhos escuros e olhos levemente puxados. O assento ao lado está vazio e ele logo entende.
- Aquele é o seu lugar. Tenha um bom voo. – entregando-lhe um kit para passageiros da executiva segue seu caminho.
- Obrigado.
A garota está com fones de ouvido e os olhos fechados, mas desconfia que não esteja dormindo, pois balança o pé provavelmente ao ritmo da música. Ele ainda arrisca dizer que poderia escutar sua música a metros de distância.
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Vegas para Dois
RomanceDois desconhecidos, uma viagem. O que sua mãe diria se você fosse para uma "convenção" de contabilidade e voltasse casada? Depois de ter crescido vivenciando o mais singelo amor de seus pais, Analu não esperava que tamanha revelação fosse cair em s...