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ELENA MACKENZIE

Descobri que o ganhador da corrida receberia mil dólares, mas nem isso meu irmão conseguiu fazer pra gente ter uma semana de comida garantida.

Além disso quase me atropelaram. Eu não quero fazer isso outra vez.

- Boa noite, pessoal! - Uma morena com o vestido preto tocou no microfone para garantir que estava funcionando. - Antes de começarmos o nosso showzinho, quero parabenizar o ganhador da corrida - diz e levanta o copo com algum tipo de bebida, e logo o leva até os lábios tomando todo o líquido. - E pra comemorar alugamos uma banda de Seattle para tocar aqui. Com vocês, The Zurzoffin! - Anuncia e vejo Vinnie juntamente com mais dois meninos subindo no palco.

Por um segundo senti vontade de revirar os olhos ao ver como ele passava a mão em seus cabelos e sorria para a plateia.

Talvez eu esteja sendo chata? Sim, mas só pela maneira que esse garoto me recepcionou no primeiro dia de aula, automaticamente iriei odiá-lo para o resto da minha vida.

Comecei a me interessar com o show do loirinho quando ele começou a cantar Fluorescent Adolescent.

Decidi dar uma chance a apreciar como sua voz ficava bem enquanto cantava. E a maneira que seus dedos eram rápidos para acertar na guitarra. Me surpreendi.

Achei que ele ia se desengonçar e esse negócio de tocar em banda era zoeira da parte dele.

Rolei os olhos por toda a frente do palco, onde eu pude observar que tinha muitas garotas desesperadas pela sua atenção. Há alguns segundos atrás não tinha ninguém ali além da mulher que anunciou a banda deles.

- Loirinho é muito desejado, qual será o perfume? - Perguntei-me para mim mesma.

- Legal aí, né? - Me assunto com Kevin, que se sente ao meu lado, também apreciando a música.

Por um segundo achei que ele tinha escutado minha conversa com meu subconsciente.

- Sim, está. Mas queria ver você cantar - revelo e ele sorri.

- A gente vai ir embora, deixa pra eu cantar em casa - diz se levantando.

- Não acredito que você me fez vir até aqui só pra te ver correr - junto as peças na minha cabeça e fico irritada.

- Não fique brava, terá outras oportunidades de me ver cantar...

- Sua irmã curte Arctic Monkeys? - Uma voz surge do além, me assuntando mais uma vez.

- Austin? - Kevin pronuncia a voz do cara a nossa frente em um tom de surpresa.

- Eu mesmo. Não sabia que ia voltar pra Seattle - sorriu e aquele sorriso me deu aflição.

Eu não o conhecia, e também não sabia de onde Kevin o conhecia.

- Puxa, você cresceu, Elena - franziu a boca e eu fiz uma careta, por não fazer ideia de quem essa cara era.

- A gente tava indo embora, se vemos outro dia - Kevin pegou tão forte em meu pulso que quase o xinguei.

- Espera! - O tal Austin ao invés de pegar em meu irmão, pegou no meu braço, fazendo-me o olhar feio.

- Me solta! - Exclamei irritada me afastando dele.

- Você nem tocou no assunto do dinheiro - riu sem graça e eu olhei para meu irmão com as sobrancelhas juntas.

Dinheiro? Eu e Kevin estamos quase passando fome.

- Podemos conversar outra hora? Estou com minha irmã e não queria entrar nesse assunto com ela presente - Kevin tentou dizer baixo mas eu pude ouvir.

Olha, tenho certeza que Kevin se meteu em uma encrenca suja, e só por ele não me querer perto, sei que isso é bem maior do que eu posso imaginar.

[...]

- Cem mil dólares?! Caralho, Kevin! - Consegui dizer depois de ouvir tudo o que Kevin tinha me contado.

Já estávamos em casa. O caminho todo voltamos quietos, por conta do que tinha acontecido com aquele tal de Austin.

- A gente não tem nem dez dólares direito, quem dirá cem mil! - Coloquei minhas mãos na cabeça e fechei os olhos fortemente, pensativa.

Antes de voltarmos para Ambler, cidade natal da nossa mãe, Kevin vendia drogas e andava com caras pesados por aqui. Isso só piorou a nossa situação atual.

- Mas ele era da mesma cela que você? - Pergunto.

- Não, mas ele mandou uns caras cuidarem de mim - explica. - Eu só fui aumentando a proteção e quando vi já estava nesse preço - continua.

- Puta que pariu, Kevin... onde que você tava com a cabeça - praticante sussurro irritada.

- Talvez se pegarmos no banco e...

- A gente não tem dinheiro no banco, Kevin - digo alto.

Nunca tivemos uma vida financeiramente boa, mas sempre tínhamos o que comer e coisas boas. Porém tudo desandou quando mamãe adoeceu e Kevin foi preso aos dezenove anos de idade. Isso foi a deixa pro papai.

- Vou me deitar, isso foi muito pra minha cabeça - anuncio tentando tirar esses pensamentos da minha mente. Eles me atormentavam demais, eu odiava isso.

Nosso pai passou praticamente a vida inteira tentando construir uma gravadora para podermos viver daquilo, e de certo modo, fazer Kevin ser o cantor que ele não conseguiu ser.

No começo não deu certo, mas agora, ele tem uma gravadora de sucesso em Los Angeles, porém nunca liga e ao menos dá dinheiro pra mim e para Kevin.

Eu odeio lembrar das coisas que passamos com nosso pai, ele foi horrível com a gente.

Entrei em meu quarto e fechei a porta, tirando minha jaqueta logo em seguida. Quando tirei minha jaqueta lembrei do maço de cigarro que Vinnie tinha me dado, e eu pensei muito antes de pega-lo.

Fiquei uns três minutos olhando pra caixa, pensando se eu enfim fumava um.

Fazia tempo que eu não usava quaisquer coisa assim, estava longe de drogas, cigarros e bebidas, tudo que um dia me fizeram muito mal.

Não demorou para eu pensar em minha mãe, lembro-me como se fosse ontem quando ficou desapontada após descobrir que eu estava fumando diariamente.

Senti uma angústia muito grande por lembrar disso. Nesse dia eu tinha reclamado com ela e dito coisas horríveis para a mesma. Como eu me arrependo.

Fui até o banheiro e sem pensar joguei o maço de cigarro no lixo, mas o peguei de volta quando vi que tinha algo escrito em baixo dele.

Era o número do loirinho e uma mensagem, dizendo pra eu lhe mandar uma mensagem.

Ri com essa ato mas achei fofo de sua parte.

Era óbvio que eu não iria ligar, e no outro dia, faria questão de estacionar na sua vaga de novo.

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