Capítulo 34- O terceiro a cair...

266 39 9
                                    


O quarteto de nadadores estavam apreciando cada degrau que subiam e cada tombo que levavam até conseguirem chegar aos corações dos seus Nongs, por fim entenderam que com aqueles quatro não seria fácil, mas seria real e duradouro se tivessem a chance de alcança-los. Eles, mesmo sem nenhuma garantia de que seus pequenos iriam retribuir seus sentimentos algum dia, estavam felizes pelo fato de estarem amadurecendo para vida. A convivência com aquele grupo estava mudando permanentemente suas visão de mundo, suas atitudes estavam melhores e já estavam vendo mudanças em seus hábitos. Suas famílias já notavam as sutis diferenças com alegria e apoiavam esse novo caminho em suas vidas que os transformariam em pessoas melhores.

O grupo estava ansioso, pois naquela tarde estariam todos reunidos no boliche, seus estômagos já estavam cheios de borboletas esperando que o passeio seja bem proveitoso. Ganhar os irmãos seria uma forma  de garantir a proximidade aos Nongs Anjos, mas isso já tinha deixado de ser uma estratégia para ser um prazer, porque os nadadores estavam realmente felizes de se conectar com aquela família tão cheia de lições. O convívio com aquelas criaturas batia forte neles mostrando o quanto suas vidas eram vazias e sem propósito construtivo, até que eles surgiram e os viraram do avesso. E, como todo o processo de crescimento tem suas dores , mas também, tem suas alegrias que sobrepõe qualquer dificuldade encontrada pelo caminho, então se aquilo era o mais  que podiam alcançar da felicidade verdade, eles aceitariam com resiliência.

Do outro lado da moeda a aproximação dos jovens não passava tão despercebida quanto parecia, mas os Nongs eram bons em manter guardados seus sentimentos, principalmente aqueles que eles não entendiam e, aquele tipo de afeição que crescia dentro deles  era uma coisa completamente nova que os deixavam um pouco agitados e incrivelmente apreensivos. O fato principal é que a primeira impressão que tiveram dos seniores aos poucos ia se transformando e os pequenos tinham que  reconhecer que os mais velhos eram persistentes, resistindo aos entraves e as personalidades fortes deles, que normalmente afastavam os outros. Outro ponto a favor dos nadadores, na visão dos anjos é que eles caíram nas graças de seus irmãos e, não os tratavam com pena, parecia ser um carinho verdadeiro que nutriam por seus menores, então eles não iriam rechaçar a aproximação dos mais velhos.

Então naquela tarde os dois grupos se encontraram no boliche, os pequenos estavam extremamente felizes, empolgados com mais uma aventura ao lado de seus irmãos e seus novos amigos. Kanda,  Mali e Phoom quase voaram para pista assim que colocaram os sapatos adequados e, Intoch e Kao foram acompanhá-los com risos pela alegria que as crianças demonstravam. Team e Pharm foram providenciar lanches e obviamente que Win e Dean se ofereceram para ajudar. Manaow e Pruk ficaram para acompanhar Del, Pay, Can e Ae, já que Boss e Don iriam chegar mais tarde por conta de trabalho. Aquela tarde prometia ser de pura diversão e, se dependesse da animação contagiante dos pequenos ela seria.

Já com todos os presentes reunidos nas quatro pistas reservada para eles, começaram a organizar o grupo por categorias por nível de experiência, assim na primeira pista ficaram Team e Win  como instrutores de Phoom e Mali, na segunda pista Intoch e Kao brincavam com Kanda, na terceira pista Pharm e Dean ajudavam Pay e Del, na última pista Pruk disputava com Can e Ae, enquanto Manaow assistia, a menina não achava graça em jogar boliche, mas se divertia vendo seus pequenos se divertirem.  Mesmo com essa divisão eles circulavam entre as pistas, o importante era se divertir e, isso eles estavam fazendo com maestria.

- Vocês dois são muito bons nisso. – Pruk elogiou vendo os lançamentos de Can e Ae.

- Nossa Mãe amava boliche. – Ae deu um sorriso saudoso. – E isso se tornou uma coisa de família. – Explicou ele.

- Meu pai também ama jogar boliche, foi ele quem me ensinou. – De repente Pruk se lamentou não ter convidado seu pai, talvez uma mudança de ares o ajudaria ou a própria convivência com aquela família iria ajudá-lo como estava fazendo com ele próprio.

- Tudo bem, P’Pruk? – Can perguntou olhando para o mais velho parado com a bola na mão.

- Sim... – Pruk lançou a bola. – Só pensei que deveria ter chamado meu pai, ele iria gostar de conhecer vocês.

- Não faltará oportunidade Phi!- Can sorriu, ele gostava muito de Pruk, achava que era um cara fácil de lhe dar e muito gentil.

Pruk sorriu de volta de fato eles seriam uma luz a mais para iluminar a saída da escuridão em que seu pai se encontrava. O sênior olhou para sua Nong favorita e a viu olhando em direção a um casal que brincava com a filha pequena na pista ao lado deles. A menina deveria ter uns cinco anos e era muito fofinha tinha os cabelos da cor do de Manaow, ela estava com um sorriso largo se divertindo com seus pais. Já Manaow tinha um olhar triste ao presenciar uma cena tão encantadora, o que ela tinha era saudade  de seus pais e de seu lar da época de quando tinha aquela idade, tudo seria diferente  se aquele maldito acidente não tivesse ocorrido. Vendo sua pequena perdida em pensamentos tristes, Pruk disse para os meninos irem jogando e foi se sentar ao lado de Manaow para ver se ela precisava de algo.

- N’Manaow está bem? – Pruk pousou sua mão na da menina para transmitir apoio. – Quer ir tomar uma água, respirar um ar?  - Sugeriu ele e, a menina o olhou por um segundo e acabou concordando.

- Se quiser falar o que está te incomodando eu estou aqui. – Pruk se prontificou quando chegaram do lado de fora. – Mas se não quiser falar tudo bem eu ficarei aqui calado, leve o tempo que quiser. – Ele deu outra opção a ela.

- Eu só estava me lembrando de como era... – Manaow rompeu o silêncio depois algum tempo se encostando na parede próxima a eles.– Como era ter meus pais comigo... Eles eram tão carinhosos comigo, me amavam tanto. – Ela olhava para nada como se visse a imagem de seus pais lhe sorrindo. – Eu era uma garotinha com a vida perfeita até que um motorista bêbado bateu em nosso carro e meus pais se foram. – Manaow deixou as lágrimas caírem e Pruk que estava ao seu lado segurou forte sua mão. – Eu tinha tudo em um instante e no outro eu não tinha nada. – Se lamentou a menina olhando para o sênior que enxugou suas lágrimas. – Eu acordei no hospital e fiquei sabendo que meus pais morreram e que nenhum parente meu queria a responsabilidade de cuidar de mim, os mesmos parentes que enchiam a minha casa em  festas, que falavam que eu era a coisa mais linda do mundo, me viraram as costas quando eu mais precisei. – Pruk não aguentou e a puxou para um abraço apertado.

- Isso é cruel demais... – Ele sussurrou beijando a lateral da cabeça de Manaow. – Eles por certo não te mereciam. – Ele tentou consola-la e pensou com dor no que ele fez com seus pais deixando eles sozinhos tratando da depressão do pai, talvez seja o mesmo que ocorreu com ela, Pruk se sentiu mal.

- Me mandaram do hospital direto para o orfanato, eu já tinha certeza que jamais alguém ia me querer, já que nem a minha família me quis. – Manaow continuou dentro do abraço aconchegante. – Eu estava assustada, fiquei sentada num canto encolhida quando notei dois meninos vindo em minha direção, eram P’Team e Pharm, duas crianças franzinas, que carregavam tanta dor quanto eu. – Seu choro acalmou e ela conseguiu sorrir da lembrança. – P’Team não era muito de falar mas ele estava sempre ao meu lado arrastando Pharm com ele e, quando eu chorava de saudades ele apenas me abraçava e dizia que tudo ficaria bem, eu acabei acreditando nele e decidi já que  minha família me rejeitou eu teria minha própria família. -Ela desabafou.

- E você conseguiu! – Pruk sorriu para ela. – A família de vocês é maravilhosa. – Ele foi sincero. – Eu tenho aprendido tanto com vocês... – O sênior abriu o coração. – Eu estava me recusando a aceitar os problemas de minha família, meu pai tem sofrido de depressão desde que ele descobriu que sua irmã caçula a quem ele não via desde que eu era bem pequeno morreu, eu não pensei na dor dele eu só achei que não tinha que me envolver... – Agora inverteram os papéis e Manaow lhe secou as lágrimas. -  Mas vocês me trouxeram uma nova percepção da importância da família, do quanto eu tenho que ser grato por ter o amor dos meus pais e de quanto eu estava falhando como filho e como pessoa. – Ele olhou para Manaow que tinha um olhar doce para ele, como se compreendia tudo que ele estava passando. – Mas eu prometo que serei melhor... Eu vou dar tudo de mim para ajudar meu pai... E para ajudar quem estiver ao meu alcance. – Ele sorriu.

- Que bom! – Manaow beijou o rosto do sênior. – Eu estarei aqui se precisar. – Ela prometeu e os dois ficaram um bom tempo em silêncio conversando pelo olhar.

Anjos da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora