Passado a surpresa da descoberta de Mali ser sua irmã, já que tudo indicava que sim, Pay estava sofrendo de angústia e de nojo por seus pais, principalmente seu pai, ele enganou uma mulher inocente, a seduziu e a abandonou pagando para ela tirar seu bebê, por sorte a mãe de Mali tinha um coração bom e não aceitou sua proposta, sumindo da vista dele para ter sua filha e cria-la com todo carinho. Pay se lembrou da história de Mali, da família que a fez praticamente de escrava, do primo que queria abusar dela, a forçando a sair de casa sem ter para onde ir, do perigo que correu de ser violentada na rua, da fome... enquanto seu pai biológico posava para a sociedade como um homem de família exemplar. A menina não perdoaria tudo que a irmã passou por estar desprotegida e desamparada por todos esses anos após a morte da mãe dela e, muito menos eles terem lhe negado o direito de conhecê-la e conviver com ela.
Com a dor latente no peito e os olhos vermelhos, Pay olhou para todos que estavam ali, em volta da piscina, a maioria sem laços de sangue o que não os impediam de ser uma família real, cheia de amor e apoio, uns cuidando dos outros, se reconstruindo, sendo felizes, enquanto ela convivia com dois egocêntricos que só pensavam em aparência, eles tinham seu sangue e nada mais, eram criaturas de coração vazio. Por um momento ela se deixou imaginar como seria viver com eles e, tinha certeza de que seria muito feliz ali com sua irmã e todos os outros. Respirando fundo e sentindo o afago de Boss em suas costas, Pay se permitiu sorrir pela solução que veio em sua mente para dar fim aquela vida sem sentido que ela era obrigada a levar com os pais, ela já ia começar a trabalhar na empresa do pai da Del, ia ter seu próprio dinheiro e, já era maior de idade, então ela olhou para o rapaz ao seu lado que olhava intrigado.
- Será que sua família aceita eu morar aqui?- Pay questionou em dúvida. - Eu quero ficar perto da Mali, mas acho que não seria justo pedir para ela vir morar comigo, quando ela tem uma família que a ama tanto.
- E, seus pais irão concordar com isso? - Boss ponderou com cuidado.
- Já não me importo com o que eles pensam ou querem. - Pay afirmou. - Assim como eles não ligam para os sentimentos de ninguém eu não preciso me preocupar com os deles, se é que eles têm algum sentimento. - Ela bufou.
- Se você tem tanta certeza assim, acho que ninguém aqui vai se opor. – Boss a encorajou.
Depois de conversar com os responsáveis e Team, que verificaram se realmente era uma decisão acertada e não um rompante dela, Pay foi conversar com Mali que ficou radiante com a idéia. E, quando tudo estava de acordo a menina foi até sua casa, com Boss e Del, para informar sua decisão e pegar suas coisas. Ao chegarem na residência de Pay, Boss aguardou no carro enquanto as garotas entraram na casa. Elas viram os pais de Pay sentados na sala, mas subiram as escadas correndo em direção ao quarto e, lá chegando Pay pegou quatro malas grandes , colocou encima da cama e falou para Del ir colocando apenas o necessário. E, assim que elas terminaram desceram com as malas e colocaram próximas a porta e, se encaminharam para os donos da casa que olharam curiosos.
- Nongs irão levar mais coisas para aqueles pobres?- A mãe de Pay falou com desdém.
- Não, essas são minhas coisas... – Pay falou encarando os pais. – Estou saindo de casa. – Comunicou ela.
- Que brincadeira é essa bebê? – O pai se levantou assustado. – Que lavagem cerebral aqueles órfãs dos infernos fizeram em você agora?- Ele explodiu em fúria.
- Ohh não os culpe pelos erros de vocês. – Pay também levantou o tom de voz. – Está vendo essa mulher aqui?- A menina tirou a foto do envelope que trazia consigo e mostrou aos pais.
- O que essa mulherzinha desclassificada tem à ver com essa sua loucura?- A mãe de Pay ficou com ódio de rever aquela foto e tentou tirar das mãos da filha, mas ela se esquivou e foi em direção ao pai que estava pálido.
- Essa é a mãe da Mali, aquela garotinha linda que vocês tanto se desfizeram no jantar na casa da N’Del, ela é a criança que vocês pagaram para essa mulher tirar, mas graças a Deus ela não o fez.- Pay esbravejou. – Essa menina, minha irmã , passou por inúmeros problemas desde que a mãe dela morreu...
- E, o quê que nós temos com isso, essa mulher recebeu um bom dinheiro para se livrar da criança, se ela não o fez, não é nosso o problema!- A mãe de Pay a interrompeu. – E, ela não é sua irmã, não acredite no que esses pobres coitados dizem, devem estar apenas tentando arrumar algum dinheiro nosso.
- Mamãe... – Pay riu em cólera. – Você acha mesmo que tudo se resume em dinheiro, em aparência? – A menina olhava com nojo para os pais. – É, realmente... o que eu deveria esperar de vocês? Se quando aquelas pessoas, que vocês tanto abominam, me salvaram vocês estavam preocupados apenas se o ocorrido sairia nos jornais ao invés de ver como eu estava... – Algumas lágrimas rolaram no rosto de Pay. – Mas você pode ficar tranquila nenhum deles quer seu dinheiro, muito menos Mali, ela não quer nem saber da sua existência. – Pay encarou o pai. – Ela não precisa de você ou do seu dinheiro e, nem eu. – Pay virou as costas para eles.
- Quero ver quanto tempo você dura sem suas regalias. – O pai de Pay se pronunciou ferido com as palavras da filha.
- Eu nunca precisei de regalias... – Pay se virou mais uma vez, com toda a tristeza estampada na face.- Vocês que sempre quiseram ostentação, eu nunca me importei, a única coisa que eu queria era o amor dos meus pais, mas descobri que jamais conseguiria porque vocês não sabem o que é isso! – Pay declarou e saiu com Del, pegaram as malas sob o olhar abismado de seus pais e, seguiram para o carro onde Boss as aguardava.
Ao chegarem de volta a casa de Boss, Pay foi confortada pelos braços da pequena Mali que a levou para seu quarto onde já tinha separado espaço para ela guardar suas coisas e se acomodar. Pay afugentou as lágrimas e ficou na melhor coisas que ela tinha na vida, sua linda irmãzinha, tão carinhosa como ela sempre sonhou ser o amor de uma família. Del e Manaow se juntaram as duas para ajudar a arrumar as coisas de Pay, o que acabou sendo quase uma nova festa do pijama, banindo para longe qualquer tristeza. Del ligou para os pais explicando o que ocorreu e pedindo permissão para passar a noite lá para ajudar a amiga nesse processo e, tendo pais tão atenciosos, eles deram não só a permissão como se ofereceram para o que fosse preciso. Depois de tudo arrumado em seu devido lugar, as quatro desceram para curtir o jantar com a família barulhenta e amorosa que as acolheram.
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Anjos da Noite
FanfictionTeam integra um grupo de órfãos que lutam por sobrevivência e, para defender outras crianças para que não sofram as mesmas perdas e agressões que eles sofreram um dia. Foram tantas decepções que eles não acreditam em mais ninguém além deles mesmos. ...