já acabou?

153 22 1
                                    

O vento se faz presente, bagunçando meus cabelos, as árvores, as flores e as roupas daquele garoto que insiste em ver o resultado da pintura que ainda não acabei de pintar. Seu semblante demonstrava curiosidade e teimosia, o jeito que ele dava alguns pulinhos de ansiedade o deixava fofinho. Devo me concentrar na paisagem à minha frente antes que eu me distraia até demais.

As águas que se movimentam naquela cachoeira, brilham diante de meus olhos, elas sabem como devem chamar a atenção de seus admiradores. Seu movimento é calmo, o som é aconchegante. O pequeno rio é brilhante, sua temperatura deve estar morna e viciante para mergulhar. Imagino alguns peixes pulando para superfície em plena sintonia, decido pintar essa imaginação repentina.

— Já está acabando? — aquele garoto pergunta.

— Ainda não. — respondo.

Começo a pintar algumas escamas nos peixes. Sim, eu sou bem detalhista quando se trata de pequenos desenhos.

— E agora? Já acabou? — ele pergunta novamente.

Ué, mas não deu nem dois minutos que ele perguntou isso e ele pergunta novamente?

— Não.

E o silêncio domina o ambiente, só escuto o som das águas isso é bom para a concentração e relaxamento. Passa-se exactamente três minutos que estou pintando as últimas escamas com o maior cuidado do mundo, preciso ter muita calma e concentração para este pequeno detalhe na borda da pintura.

— E agora? — ele pergunta novamente e acaba me assustando. Sem querer acabo borrando a escama e a pincelada sai do modo desejável.

Coloco uma em meu peito, meu coração deve estar procurando algum buraco para sair fora do meu corpo por conta do susto. Fecho os olhos e respiro fundo.

— Você me assustou, seu.. — eu quero tanto xingar ele, mas lembro que não tenho intimidade com o mesmo e não quero ser mal educado logo de cara.

— Seu o que? Vamos fala. — ele provoca. Aí que abusado ele.

— Seu... Boboca!

Sua face demonstrava confusão, juro que eu estou conseguindo até ver um ponto de interrogação no topo de sua cabeça. Ele ri baixinho, mostrando suas covinhas perfeitinhas na sua face.

— É sério que você me chamou de boboca? Você por acaso está preso no tempo da minha bisavó?

— Foi o único xingamento mais educado que consegui encontrar. — respondo. Realmente essa palavra foi educada, mas me arrependo por usar algo tão ultrapassado.

— Isso foi hilário, realmente. Mas você já acabou?

Meu Deus. Até quando ele vai perguntar isso? Já estou ficando sem paciência.

— Não, carambolas.

— Outra palavra ultrapassada. — ele começa a rir alto.

Não digo mais nada, prefiro continuar pintando antes que eu me estresse e acabe pintando à sua cara com tinta permanente da cor amarela só para sentir o gostinho.

Tempos se passam e minhas pernas ficam cansadas de tanto ficar em pé pintando essa paisagem à cada detalhe. É. Quando disse que iria ser bem detalhado é porque aquilo era bem sério. Ouço alguns sons de folhas se remexendo. Olho para o lado e vejo aquele garoto deitado sobre ela se mexendo, tipo aquelas crianças que quando vê neve, elas pulam em cima e se mexem para a neve ficar em forma de anjo — se é que aquilo parece uma borboleta e não um anjo — só que é com folhas.

— Isso é tão legal, deveria experimentar. — ele propõe.

— Acho que não. Aí deve ter um inseto peçonhento e pode lhe picar, cuidado. — o alerto, vai saber o que a natureza pode nos surpreender.

— Nossa! Verdade! — ele se levanta rapidamente como se não houvesse amanhã e tira os restos de folhas em sua jaqueta rapidamente. — Morro de medo de insetos. — ele fala assustado.

— Uiii.

— Como assim " Uiii " ? — ele pergunta.

— Nada. — tenho que prender o riso antes que ele perceba o que eu quero dizer.

金  ≀  théâtre et art  " woosanOnde histórias criam vida. Descubra agora