Irritação

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Matteo Martinelli

Encho o copo de uísque e começo a tirar o blazer, cheguei tarde em casa e não consigo dormir. Então vou trocar o curativo do ferimento e talvez ficar bebendo até dormir.

Observo os pontos do ferimento e bebo o uísque de uma vez, uso a boca para prender a faixa e passo o esparadrapo para prender melhor.

Já estou no meu quarto copo quando começo a subir as escadas, meus passos são silenciosos pelo corredor e logo chego na porta em que eu não deveria estar.

Abro lentamente e vejo Summer deitada de barriga para cima. Os cabelos estão em seu rosto e um dos braços dela está estendido pela cama na direção da janela.

Pela luz fraca do abajur posso ver cicatrizes fracas em seus pulsos, franzo as sobrancelhas e me aproximo mais de perto para ver que são cicatrizes que algemas deixam.

Um grito e logo sou empurrado, Summer levanta rapidamente e usa um travesseiro como arma. Ela pisca algumas vezes e me observa atentamente.

-Qual é o seu problema?- ela grita.

-Você é o meu problema.- bufo.

-Aparentemente você gosta de ficar vendo seu problema dormir!- ela está com muita raiva.- E ainda está bêbado!

-Abaixe esse travesseiro.- puxo das mãos dela e jogo na cama.

-Ficou bem claro no contrato que só vamos transar depois de casados...

-Eu não quero transar.- faço careta.- Eu nem sei por que eu vim aqui.

-É melhor você ir embora mesmo.- ela aponta para a porta.- Não quero cheiro de bebida no meu quarto...

-Estranho, por que pelo que eu me lembro você não tem problema com maconha, ecstasy, LSD....

Desvio de algo vindo na minha direção e vejo o abajur quebrar ao atingir a parede, arregalo meus olhos e os volto para uma Summer ofegante.

-Vem aqui no meu quarto para me humilhar?- ela franze o nariz e então pega um vaso.

-Summer!- grito.

-Seu filho da puta!- ela atira o  vaso em mim.

Desvio e logo começo a andar até ela, Summer sobe em cima da cama e vai para o outro lado, bufo com raiva e vou até ela enquanto dá passos para trás.

-Não chegue perto.- ela aponta o dedo.

-O vidro, Summer.- aviso.

-Não chega perto, Matteo!- ela continua indo para trás.

-Você vai pisar na porra do...

-Ai!- ela pula no canto.

Bufo irritado e ela olha para o sangue no chão que está pingando do seu pé, claro que eu tinha que arrumar uma maluca que atira coisas em mim.

☀︎︎

Summer Ballard-Hunt

Matteo me senta na cama e arrasta um banco mais baixo para sentar na minha frente, observo ele colocar meu pé em seu colo e observar.

Acordar com ele me observando não me deu um susto, mas quando ele olhou para meu pulso eu entrei em pânico. E atirar coisas nele foi por puro instinto.

-Ai!- grito de novo quando ele tira o caco de vidro.

-Culpa sua.- ele murmura rasgando uma parte do lençol.

-Você que começou.- cruzo os braços.

-Você que atirou o vaso e o abajur.- ele começa a enrolar meu pé.

Respiro fundo e vejo o cuidado que ele tem para não deixar muito apertado e como os dedos dele são leves ao tocar minha pele, não imaginava que o tipo dele fosse tão delicado.

Meus olhos vão até o peito descoberto e vêm as três cicatrizes de tiro, mordo o lábio me contendo para perguntar e ele dá o nó na faixa improvisada.

-Amanhã eu vejo melhor.- ele explica.

-Não vai dar um beijinho?- provoco e ele me observa.

-Não funciona comigo.- fala calmo.

-Tem certeza?- levanto as sobrancelhas.

Ele começa a se levantar e de alguma forma eu não estou pronta para ser deixada sozinha, pressiono meu pé contra o peito dele e Matteo volta a sentar me olhando com curiosidade.

-O que são as cicatrizes?- pergunto.

-Não vou falar sobre isso.- ele tira meu pé do seu peito.

-Qual é sua cor preferida?- pergunto e ele me observa calado.- Como vamos casar se você não quer me contar nada...

-Uma pergunta por outra.- ele mexe a mão com calma.

-Justo.- me ajeito na cama.- As cicatrizes.

-Tentaram me matar.- explica.- Ganhei elas na mesma noite que matei meu pai e meus irmãos.

-Por que matou eles?- fico curiosa.

-Agora sou eu.- ele sorri lentamente.- O que é isso no seu pulso?

-Um pessoal que odiava os Woodward.- falo baixo.- Eles me prenderam e me agrediram.

-Defina "agrediram".- ele parece tão calmo que me deixa com medo.

-Por que os matou?- insisto.

-Eles mataram minha mãe.- ele não esboça nada quando fala.- Eu sou feito de uma traição. Então a mataram e depois vieram me matar, mas eu já tinha ouvido os tiros.- explica me observando.- Agora você.

-Por dois dias eles me chutaram, me humilharam e me espancaram.- explico.- Mas eles não me tocaram da forma que pensa, sabe por que?

Ele levanta as sobrancelhas esperando a resposta e acho esse gesto parecido com Logan, estava com saudade dele e ele era o único que sabia disso. E que tinha dado um fim nesses caras.

-Por que eles falaram que uma Woodward não merecia ser fodida por um deles.- sorrio lentamente.- Eu não mereço nada que esse mundo possa dar, por que eu deveria ter morrido como todos os Woodward fizeram.

-É por isso que tenta ao máximo se meter em problema?- ele questiona.

-Como sobreviveu?- é a minha vez de perguntar e ele abaixa a cabeça sorrindo.

-Meu irmão mais velho era péssimo na pontaria e não acertou nada que podesse me matar de verdade.- explica.- Passei meses em uma cama, mas fiquei mais forte e mais atento.

-Me meto em problema por que eu quero saber quem vai ter a coragem de dar um fim em mim.- respondo a pergunta dele.

-Bom.- ele levanta.- Depois de amanhã ninguém vai querer servir a bebida errada para você, meu bem.

Sorrio ao ouvir o apelido e ele começa a ir embora, acho que tinha sido uma conversa bem animadora. Matteo era algum tipo de pessoa igual a mim.

Ele é frio e destruído tanto quanto eu, me pergunto se isso vai ser tão explosivo enquanto estou pensando. Mas o que está feito, está feito. Nada vai mudar agora.

Prometida A Ele - 4° Geração 02Onde histórias criam vida. Descubra agora