Tennessee, 1960.

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O  Ford F 100 batia na estrada de chão quente do Tennessee enquanto o rádio mal funcionava naquela região. A voz grossa e rude de Johnny Cash fazia com que ele lembrasse de seus velhos tempos na faculdade, que não eram tão velhos assim.

Depois de uma temporada inteira morando no Texas e indo e voltando da Inglaterra, ele já sentia o baque da idade em seus ossos. Por algumas vezes, ele parava na estrada e fumava um cigarro, suspirando aquele cheiro de terra velha e de roçado. Poderia confessar que sentiu falta daquele espaço onde cresceu. 

Mas não estava lá para sentimentalismo e sim para resolver alguns velhos problemas daquele rancho. Uma das éguas recém-paridas estava doente, um potro faleceu de alguma doença que ninguém lá entendia e ainda tinha que cuidar da plantação de trigo que não estava lá essas coisas. Não que plantação fosse o forte daquele lugar, mas seu pai havia insistido que ele fosse até lá e tirasse um tempo para se dedicar ao local que seria sua herança em breve, se seu pai não tratasse daquela tosse seca e fétida que acometia sua saúde há alguns meses.

Hank Willians perturbou sua mente enquanto a caminhonete entrava pelos portões de madeira talhada com o logo do rancho: Dois cavalos com as patas dianteiras levantas e um cowboy entre eles, de braços levantados como se fosse um domador nato. E abaixo, os dizeres "Rancho StoneHeart: Para aqueles de coração de pedra e alma de ouro". Frase proferida pelo seu bisavó quando chegou naquelas terras em 1901, no declínio do Velho Oeste. O derramamento de sangue dos índios e dos pistoleiros já havia passado de seu auge, quando sua família se instalou ali e começou o que seria um pequeno império.

Os portões se abriram com ajuda de dois peões que rapidamente o reconheceram. Lógico que o reconheceram, os cabelos negros e os olhos âmbar era a marca crucial da família. Isso sem falar do rosto assimétrico que foi moldado por algum anjo da beleza ou por um demônio que gostaria que a tentação corresse na terra, carregando o sangue daquela família.

Ele olhou para o banco do carona: Havia apenas uma bagagem de mão, e uma pasta com documentos e na traseira da caminhonete, muitas caixas de livros, alguns itens que ele conseguiu tirar da sua antiga casa.

Pelos próximos meses, o Rancho StoneHeart voltaria a ser sua casa.

Ele parou a caminhonete de frente a casa principal: Era um casarão com quartos, banheiros e uma cozinha que dava duas de sua casa. Um exagero construído por seu avô quando ainda se havia dinheiro no bolso e antes da Grande Depressão invadir as economias da família, e levando com ela a vida de alguns antepassados que ele não chegou a conhecer. 

Ele acendeu um cigarro e pegou seu chapéu de cowboy da cor de ébano. Analisou-se no espelho do carro e desceu.

Assim que seus pés pousaram no chão, a poeira subiu em seu jeans. Ele estava rasgado, suas botas de couro puídas e seu humor meio ácido.

Impressionante como aquele lugar ainda tinha o mesmo cheiro de esterco, palha e de tristeza.

— Pouca merda sempre volta para o mesmo lugar não é Josiah? 

A voz rude e maldita daquele homem sempre foi tão irritante assim? 

— Bom te ver também, pai.

Ele havia envelhecido muito. Usava uma camisa xadrez velha com calças mais velhas ainda e seu chapéu da cor preta, onde se via os anos de uso debaixo de um sol escaldante.

O velho tinha cabelos grisalhos com alguns fios negros emaranhados, a barba por fazer como se denunciasse que cada vez mais que os dias passavam, ele ficava mais doente ainda.

Um pé na cova, ele diria.

Quando Amir Malik chegou mais perto, ele sentiu logo o cheiro de uísque e de charuto.

Stone Heart (AU!Ziam)Onde histórias criam vida. Descubra agora