Stone Heart (AU!Ziam)

Capítulo Vinte e Dois.

Outono de 1965.

Nick deixou Josiah dormindo sob os lençóis da cama de casal enquanto saía do casebre. 

Munido de suas botas, um casaco negro e sem seu chapéu, revelando longos cabelos que estavam ondulados, ele calçou as luvas de lã e saiu em prumo silêncio. Ainda estava escuro, o sol não aparecia tão cedo.

Enfiando a mão nos bolsos, ele apressou o passo até a macieira que ele e Josiah haviam plantado naquele verão. Ela já estava em um tamanho aceitável e fazia divisa com a fazenda de Jack.

Pulando a cerca, ele atravessou o campo em largos passos e conseguiu ter um deslumbre da casa que um dia foi seu lar: Se lembrou de quando criança, ele sempre acordava cedo e ficava horas admirando o nascer do sol de seu quarto que era pequeno, mas confortável e a janela dava para as montanhas no sul. Cassandra ás vezes acordava com ele e de um pequeno pijama feito de tecido branco, se unia a ele e ambos assistiam a manhã juntos, até a mãe chamá-los para tomar o café da manhã e irem para a escola.

Assim que chegou na casa, ela ainda estava silenciosa. O ressoar do sono do único morador era pesado, e quando Nick passou pela janela, notou que o irmão estava adormecido abraçado á uma edição da revista Playboy pousada em seu peito, o chapéu cobrindo seu rosto e uma garrafa de cerveja vazia no chão. 

A casa já foi melhor frequentada.

Ele andou até a porta do porão, cujo com alguma sorte, tinha aquela dobradiça enferrujada que seu pai nunca trocou e provavelmente Jack também não. Quando a encontrou, fez uma pequena força para tirá-la e abrir a portinha. Conseguiu não emitir um ruído e então, adentrou dentro da casa.

No porão, encontrou a sua velha caixa de brinquedos que consistia em alguns carrinhos de ferro batido, um boneco de palha seca e seu velho chapéu de cowboy, que foi um presente de seu pai quando criança. Além de alguns pertencentes de sua mãe, guardados cuidadosamente por Cassandra e ele quando ela faleceu. Dentro da arca, alguns vestidos, diários e alguns livros que foram dela.

Empurrou delicadamente a porta e conseguiu esgueirar-se pela cozinha. O ronco de Jack foi alto, mas isso incomodou Nick, com medo da reação do irmão. Viu a espingarda que o pai sempre deixava perto da lareira, um costume que Jack havia abraçado com fervor, pois ela estava no mesmo lugar, na mesma posição.

O escritório de seu pai ficava no segundo andar. O carpete fofo das escadas abafou seus passos até chegar rapidamente no local, que estava com a porta aberta. Não havia mudado muita coisa a não ser que os livros de religião e filosofia estavam no sótão, e as estantes vazias. As fotografias que seu pai sustentava na mesa não existiam mais e nem a pintura da fazenda, feita pelo seu avô no começo dos anos 20. O escritório só contava com muita poeira, um sofá puído e uma pilha de garrafas de cerveja e discos velhos.

Ele sabia que o cofre ficava debaixo da mesa, então foi fácil localizar. Agachando, ele lembrou da senha que só ele, Jack e seu pai sabiam. Com cautela e precisão, ele girou a data de aniversário de sua mãe, a da fundação da fazenda e o número da sorte de seu pai. A porta se abriu com facilidade.

O cofre estava quase vazio. As notas bancárias de seu pai já haviam sido levadas, juntamente com um relógio de prata que havia pertencido á um de seus antepassados. O colar de pérolas de sua vó também já havia sido levado.

Mas o que ele queria, ainda estava lá.

Ele sabia que Jack não havia dado um fim naquilo. Ele precisaria daquele documento em algum momento.

Dobrou com astúcia e enfiou no bolso da jaqueta. Voltou para o sótão sem intercorrências, a não ser ver Jack coçando seu saco enquanto se virava no sofá, deixando a revista cair no chão. Fechou a porta de saída com cautela, escondendo qualquer evidência que ele havia estado ali. E antes mesmo do amanhecer, ele conseguiu estar em casa, devidamente abraçado debaixo dos cobertores, acalentando o corpo de Josiah com o seu, pensando que dessa vez, ele tinha algo por lutar.