Capítulo 17.

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New York City, 29 de setembro, 1997.

— VIVA O TYLER! — a mamãe gritou e o Tyler apagou as velas, ele fingia estar feliz, mesmo tendo me contado no quarto mais cedo que estava super bravo, odiava aniversários e festas.

Ele saiu de trás do bolo e se aproximou, revirou os olhos e me deu um soco no ombro.

— Isso é patético, Artur. Você não conseguiu convencê-los de que eu não queria um aniversário? — perguntou.

— Não, a mamãe disse que dava sorte. Eu não sei porque você não gosta de festas, eu adoro bolos, estar com os meus amigos e ganhar presentes. — eu o olhava, tentando entender o porquê ele não gostar de festas, o meu aniversário era o meu dia favorito do ano.

— Esqueci que você só tem quatro anos. — Tyler deu uma gargalhada e franzi a testa. — Quando você crescer, vai detestar isso. Festas com pula-pula são para crianças, os meus amigos vão para o central-park andar de skate e tomar refrigerante.

— Nós temos skates, Tyler. O papai construiu a pista para nos divertirmos em casa, não lembra? Eu não sei andar, mas gosto de escorregar, você ainda vai me ensinar, não vai?

— Mas lá tem garotas, Artur. — Tyler segurou em meus ombros e me encarou. — Aqui só tem bebês.

— Garotas? Bléh! — fiz cara de nojo e coloquei o dedo na boca, fazendo um gesto de vômito. — Garotas são... você sabe, você sempre me disse isso.

— É, mas agora eu tenho dez anos, sou um homem.

Se o Tyler agora gostava das garotas, então eu podia gostar também, ele era um homem e eu estou prestes a me tornar um. Ele sempre está certo.

New York City, 2003.

Hoje era o grande dia, a inauguração da empresa do meu pai. A gravata borboleta estava me sufocando e a minha mãe insistiam em ajustar a cada cinco minutos, o Tyler estava atrasado, como sempre, destrambelhado e sem compromisso. Ele inventou uma festa falsa para ir à praia com os amigos, falou que hoje seria o mais lindo pôr do sol do ano, mas prometeu estar aqui às sete em ponto, e já são quase oito.

— Mamãe, o Tyler não vem? — perguntei e ergui a cabeça para observá-la, ela conversava com algumas pessoas, pareciam importantes, todas bem vestidas, ela fingiu não ouvir e continuou falando e falando. Puxei o seu vestido, na esperança de chamar a sua atenção.

— Artur Connor Evans! Eu estou conversando, querido. É algo importante? — ela falou, baixo e entredentes, enquanto se abaixava, ficando na minha altura e mudando a expressão quando me viu sem jeito. — A mamãe está ocupada agora, filho. Por que não vai até a mesa de doces? Eu daqui a pouco estarei lá para comer com você.

Assenti com a cabeça, obedeci a minha mãe e passei por aqueles adultos. Era uma festa parada e formal demais, não havia nenhuma criança para eu brincar, e o Tyler não estava aqui para explorarmos as salas desse enorme prédio, ninguém as tinha visto ainda, a não ser o papai, a mamãe, os engenheiros e arquitetos, eles nem sequer nos deixaram ver, falaram que íamos contar aos nossos amigos e as outras pessoas da escola, é isso era para ser algo inédito, e vai ser.

Já estava a caminho da mesa de doces, mas tive a impressão de ouvir a voz de Tyler, olhei para o lado, mas ele não estava. Verifiquei se a minha mãe estava atenta em mim, mas ela não estava, continuava conversando e com a taça de champanhe na mão, me arrisquei e caminhei até a porta de saída, ia ser rápido, só para ver se Tyler já havia chegado.

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