Mills
Perfeito, era a minha segunda aula no dia, e eu já havia me estressado com uma aluna.Expliquei a minha maneira de avaliação, e tenho certeza que a maioria me reconheceu, mas não falaram nada a respeito. Aliás, não fizeram nenhum questionamento. O fato de eu ter repreendido a senhorita Swan, deixou todos receosos. E sinceramente, isso não me importava.
Emma Swan, diferente da maioria, parecia alheia a minha explicação e evitava contato visual. Estava visivelmente desconfortável. Sua carteira não ficava longe de minha mesa, e isso me fez pensar porque uma aluna baderneira, ao ponto de jogar objetos em seus colegas de turma, escolheria um lugar próximo aos professores.
Ela pegou uma garrafa de água que estava encima de sua carteira, passou a beber, parecia querer se acalmar. Acho que realmente a deixei desconcertada. Ótimo! Era essa a intenção. Deixou a garrafa de lado e levou as mãos aos cabelos. Eles eram longos e levemente cacheados. Tinham um brilho dourado que poucas vezes vi. Fez um coque frouxo, prendendo-os com os próprios fios. Passou a mão pelo pescoço, contraiu um pouco a feição como se sentisse um incômodo muscular na região. Sua fisionomia destoava das demais. Ela parecia mais velha. Talvez fosse por ser mais alta. Enquanto ela estava em pé, tive que erguer levemente a cabeça para poder olhar em seu rosto. A roupa esportiva, com o emblema da escola, deixava visível a prática de algum esporte. Uma baderneira que quer apenas exercitar o corpo, e não o cérebro. Que dedo podre para escolher turma, Regina!
— Pode continuar a leitura para mim, senhor? – disse me direcionado a um rapaz moreno de olhos claros, que usava delineador.— Killian Jones. – respondeu.
— Por favor, senhor Jones. – e ele continuou.
Tínhamos começado a ler alguns trechos de “Uma rosa para Emily” conto de William Faulkner, e seguíamos com a análise de sua escrita. Ariel a professora que cobriu minha licença no último ano, já havia enviado o texto por e-mail. E eu estava surpresa, pois a maioria dos alunos não só havia realizado a leitura, como fazia comentários relevantes. Aquela nuvem de mal estar inicial estava se dissipando com o passar dos minutos.
— “Um de nós encontrou qualquer coisa caída sobre esse travesseiro, um longo fio de cabelo de um tom cinzento-de-aço.” – Ruby Lucas finalizou a leitura – Olha, sinceramente, professora Mills, eu não acredito que Miss Emily passou trinta anos dormindo ao lado do corpo do noivo que ela mesma matou.
— QUÊ? – Swan cuspiu a água que tinha voltado a beber.— Senhorita Swan, você é sempre assim? Carente por atenção? – disse impaciente. – E pelo seu espanto, percebo que não leu o texto antes da aula como o solicitado. — ela me fuzilou com o olhar.
— A senhora passa pra gente um texto que uma mulher mata o noivo e fica dormindo com o corpo dele por trinta anos, e eu sou a carente? – ergui uma sobrancelha, devolvi o olhar de fuzilamento. Essa menina era abusada! Isso a fez recuar — Quero dizer... – respirou – É isso mesmo que o final diz?
Elevei o papel, reli a frase final.
— “Vimos um longo fio de cabelo de um tom cinzento-de-aço.” Qual personagem no conto tinha o cabelo nesse tom de cor, senhorita Swan? – ela arregalou os olhos, e respondeu baixo meio que analisando com calma a situação.
— Miss Emily. – disse apenas.— E encontraram um fio de cabelo nesse tom de cor aonde, senhorita Swan? – perguntei seca.
— No travesseiro. – respondeu mais baixo.
— Quem era a única personagem que tinha acesso a esse cômodo, senhorita Swan? — perguntei olhando fixamente em seus olhos com ar de deboche pela resposta ser óbvia.
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Cinza das Horas (Swanqueen)
FanfictionRegina Mills é ex-prefeita de Storybrooke, volta a lecionar Literatura na escola da cidade depois de dois mandatos bem-sucedidos. No seu primeiro dia de aula, conhece Emma Swan, uma jovem atleta, que será sua aluna. Emma não pretende ficar muito tem...