Ciúmes

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Mills
 
 
Esperei do lado de fora até  ver  a movimentação de fim de jogo. A última coisa que queria era voltar para aquele ginásio e ver todas as comemorações acaloradas de Swan e companhia. Revirei os olhos ao lembrar.
 
A quadra já estava vazia e a arquibancada não era  diferente. Apenas algumas jogadoras tiravam fotos  e davam autógrafos.  Agradeci mentalmente por Swan não ser uma delas. De onde eu estava podia ver Killian e Ingrid  conversando com a avó  de Ruby Lucas, provavelmente foram cumprimentá-la. Perfeito! Pegaria o meu filho e sairia dali o mais rápido possível.
 
— Sis, aonde você foi? Fiquei preocupada — Zelena me perguntou, mas antes de eu responder. Henry nos interrompeu.
 
— Mamãe, o animador de torcida me deu esta camiseta. —  olhei para a mão dele surpresa. Ele balançava a peça com orgulho.
 
— Que ótimo, querido! Mas agora temos que ir. — me apresei em dizer, e não consegui disfarçar o tom agoniado. Eu não queria ficar naquele lugar mais nem um minuto.  Zelena me olhou, mas não disse nada.
 
— Não, mamãe, agora eu quero pegar autógrafo como eles estão fazendo. — apontou para alguns torcedores com camisas e canetas na mão. Ah, era só o que me faltava!
 
— Meu amor, outro dia. — ele abaixou a cabeça emburrado.
 
—  Se quiser, posso levá-lo para algumas amigas autografarem a camisa dele, professora Mills. — Ruby  Lucas apareceu de banho tomado, notava-se pelos cabelos molhados. — A maioria das meninas já tomaram banho e estão   conversando ali perto do buffet. 
 
— Oba! — meu filho pulou. Ótimo como iria negar isso agora? — POR FAVOR, MAMÃE! — implorou juntando as mãos  na frente do rosto.
 
— Tudo bem. — suspirei conformada — Mas seja rápido. — adverti.
 
— Sim,  eu só quero o autógrafo  daquela loira bonita. Ela joga muito bem! —  Franzi o cenho incomodada. Essa loira de novo? Lucas olhou minha expressão com uma cara confusa. Zelena segurou o riso.
 
—  Kathryn é  uma estrela do vôlei, você vai adorar conhecê-la, ela é muito simpática. — Ruby falou para Henry,  pegou em sua mãos. Depois olhou para mim e Zelena, continuou — Emma é  muito fã  dela, a tem como uma referência no esporte.  Quase pirou ontem quando ficou sabendo que ia jogar ao seu lado. — sorri amarelo apenas por educação. Informação mais que desnecessária!  Que dia perfeito. Perfeito!
 
—  Espero vocês aqui. — disse para encurtar o assunto. Lucas percebeu. Saíram.
 
— É  parece que o ginásio  inteiro ficou encantado com a italiana.  —  abriu um sorriso —  Inclusive seu filho! – me cutucou com o dedo. E eu tirei a mão dela de mim sem delicadeza.
 
— E eu com isso , Zelena? — perguntei da maneira mais grossa que podia.
 
Ela riu alto. Estava  divertindo-se às  minhas custas.
 
— Irmãzinha, dá uma segurada! —  fez com a mão indicando  o ato de abaixar.
 
— Segurada no que , Zelena? — fiz uma cara impaciente.
 
— No ciúmes! — falou simplesmente. E  eu senti minhas bochechas queimarem de vergonha. Escutar aquilo em voz alta me dava ainda mais medo.
 
— Por que eu ainda saio com você? — perguntei indignada mais comigo do que com ela.
 
— Porque me ama, assim como eu te amo! — puxou meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo demorado na bochecha. 
 
— Mas é  sério... —  fez uma pausa, e passou a mão na minha testa várias vezes como se estivesse  limpando. Fiquei sem entender — Ciúmes estampando na testa não sai fácil, né  irmãzinha? Uma pena! — finalizou sorrindo debochada. Eu a empurrei para longe.
 
— Idiota! — falei entredentes.
 
Ela gargalhou.
 
— Gostou do jogo, professora Mills? — Um frio subiu pela minha espinha. Meu corpo tensionou  — Swan havia chegado por trás de mim.  Pude ver o sorriso debochado de Zelena  aumentar.  Ela estava de frente.
 
— Parabéns, foi um ótimo jogo, Emma! — Zelena respondeu antes de mim.
 
— Obrigada, Zelena! — pude perceber pelo tom da voz que Swan também sorria.
 
Silêncio.
 
 Zelena me olhou com cara de interrogação, esperando que eu respondesse o que me fora  perguntado. E provavelmente Swan tinha a mesma expressão.
 
— Bom, eu vou cumprimentar a vovó Lucas, ela ficou de me passar uma receita de bolo. — Zelena saiu sem dar tempo para que eu interferisse. Bolo. Bolo! Que bolo? Zelena nem cozinhava! Bufei! Com uma irmã dessas eu precisava de mais o que na minha  vida?
 
Respirei fundo. Tinha que acabar com aquela situação ridícula. E sair logo dali.  Virei, me arrependi no mesmo instante!
 
Swan não estava de banho tomado como Ruby. Ela apenas tinha tirado a camisa de jogo.  Usava aquela saia minúscula e um top.
 
Eu até tentei me segurar,  mas quando dei por mim, meus olhos já  percorriam cada parte de seu corpo. Desde as coxas expostas e com uma bolsa de gelo no joelho esquerdo. Até os detalhes de seu abdômen definido. Céus, deviam proibir esse tipo de traje aqui! O certo seria  as atletas irem direto para o vestiário. Subi o olhar pelo seu colo. O top, também não colaborava, pois era um grande instigador para a imaginação do que tinha por trás dele. Deixava seus seios bem em evidência. 
 
Não sei o que era mais descarado, a roupa que ela vestia, ou o sorriso em seu rosto quando me viu completamente desconcertada com aquela visão.
 
— Acha que fiz uma boa partida, professora? — repetiu, mas desta vez aprofundando o olhar no meu. Não desfiz o contato visual, algo me prendia ali.
 
—  Eí, BELA! — olhei para a voz que interrompida aquele momento. Pude ver a italiana vindo em nossa direção, com um sorriso estampado no rosto. Já havia tomado banho. A encarei de cima a baixo. Estava bem elegante na verdade, usava um jeans  colado, uma camisa brava bem transparente, e uma sandália de salto fino. Os cabelos loiros estavam soltos e molhados.  — Procurava por você.  — agarrou Swan pela cintura passando a mão por partes de sua barriga —  Você jogou muito bem! — finalizou abriu um sorriso. Swan retribuiu, não se afastou do toque.
 
Senti minhas unhas machucarem a palma da minha mão. Sério que eu precisava ver isso?
 
 — Obrigada!  — suas bochechas ficaram coradas. Revirei os olhos.
 
— Boa noite! — disse olhando para mim e deu um sorriso simpático.
 
 Eu me limitei a apenas balançar a cabeça em sinal de cumprimento.
 
— Vamos comemorar? — virou para Swan assim que  percebeu que não teria uma resposta verbal de minha parte.  — O resto do time está nos esperando.
 
— Eu preciso de repouso, o meu joelho. —  apontou para a bolsa de gelo que tinha presa ali.
 
— Ah, mas vamos a um restaurante, você vai ficar sentada. Foi nosso primeiro jogo. É  uma ocasião especial!
 
Swan a olhou. Parecia ponderar. E eu observava aquela interação com uma raiva que não cabia em mim.
 
— Tudo bem. — respondeu depois de um tempo. A Italiana  abriu ainda mais o sorriso. — Só preciso tomar um banho. —  finalizou.
 
— Ótimo! Te espero! — me olhou e deu um sorriso contido. Saiu.
 
Swan voltou a me encarar. Quando fez menção de dizer algo a interrompi.
 
— Acho que você não precisa da minha opinião sobre o seu rendimento no jogo, Be – la! — falei pausadamente, tentei  imitar o sotaque da italiana. Swan deu um sorriso sem graça — Ela já te respondeu.
 
Virei rapidamente, não ficaria mais ali. Não sei nem porque ainda estava, na verdade.
 
Passei pelo portão por onde Lucas tinha ido com meu filho. Precisava encontrá-lo e ir embora daquele maldito ginásio.
 
Cheguei próxima à mesa do buffet, ela estava sendo desmontada. Havia apenas dois funcionários. E essa agora? Onde está Henry? Andei um pouco mais à frente, eu não conhecia o lugar, cheguei a um corredor longo  e vazio. Bufei impaciente.  Como acharia meu filho em um lugar tão  grande?
 
Dei mais alguns passos, e então   senti uma mão firme em meu braço. Eu conhecia aquela maneira de segurar. Minhas pernas ficaram moles.  Senti um arrepio com aquele contato. Instintivamente  fechei os olhos e senti cada detalhe daquele toque. Eu não precisava olhar para saber quem era. Mesmo que ela não tivesse me tocado mais desde a situação  do banheiro.  Eu sabia. Era Swan que me segurava.
 
Ela fez força para que eu virasse. Virei.  A olhei nos olhos.  E desci o olhar para a sua mão em mim.  Puxei meu braço, me desfiz do contato bruscamente. A distância entre nós ainda era pequena.
 
— Desculpe. — ela disse abaixando a mão, deu um passo para trás.  Fez uma cara de dor. O joelho provavelmente  reclamou pelo esforço de  andar rápido atrás de mim.
 
— Por que isso? —  perguntou baixo. Parecia insegura.
 
— Vá comemorar com a sua colega de equipe, senhorita Swan. — falei  ríspida.
 
— Eu vou. — disse ainda baixo.
 
— Eu sei ! — respondi grossa.
 
Ela fez uma pausa.  Balançou a cabeça como se estivesse negando algo. Vi um sorriso inconformado surgir em seus lábios. Me olhou, e dessa vez  eu podia ver  o desejo emanar daquelas orbes verdes.
 
 — Se eu pudesse escolher, minha companhia para essa noite seria bem diferente, professora Mills.  — falou  com uma expressão séria.
 
Não vou negar que tremi. Senti um frio na barriga e minhas mãos suarem. Me repreendi mentalmente por  gostar da maneira como ela me olhava. E me amaldiçoei por  achá-la ainda mais sexy quando falava dessa forma. Swan era graciosa quando fazia piadinhas e provocações, mas era ainda mais atraente quando tinha seriedade e luxúria no olhar. Engoli seco.  Tentei respirar fundo.
 
Ela deu  um passo à frente.  E então  foi a minha vez de dar dois para trás.
 
— Não! — levantei  a mão na altura do peito, com a intenção de impedi-la de avançar. —  Não ouse chegar perto de mim! — minha voz saiu  entrecortada. 
 
Ela parou no mesmo instante.  Assentiu com a cabeça em silêncio.
 
— MAMÃE,  VOCÊ ACHOU ELA ! — Henry surgiu não sei de onde correndo, seguido por Ruby, jogou-se sobre Swan. Abraçou  sua cintura. A intensidade do abraço foi tão forte que ela balançou um pouco. — É  ELA!  EU QUERO O AUTÓGRAFO DELA NA MINHA CAMISA!  Ela sabe defender a bola com o pé! — falou empolgado.
 
Eu arregalei os olhos . Swan arregalou os olhos.
 
Ótimo! A loira de quem ele falava era Emma Swan! Era ela a jogadora preferida dele. Balancei a cabeça, não acreditei em minha falta de sorte! Eu realmente não merecia isso!

Cinza das Horas (Swanqueen)Onde histórias criam vida. Descubra agora